Seja qual for a situação, há sempre um dito popular que se adequa perfeitamente a ela. E há um deles, em particular, que parece ter sido cunhado especificamente para o atual momento que está sendo vivido pelos executivos do setor automotivo no Brasil: “Desgraça pouca é bobagem”.
Verifica-se, agora, o oposto do que aconteceu no período imediatamente posterior ao cataclismo econômico de 2008. Nos quatro anos seguintes, as vendas de veículos desabavam em quase todo o mundo, sobretudo nos Estados Unidos e em vários países da Europa e da Ásia.
No Brasil, em particular, todavia, o que se registrou neste mesmo período foi crescimento superior a 30%, basicamente provocado por uma política de credito facilitado que incorporou milhares de novos consumidores ao mercado – a chamada política econômica anticíclica.
A combinação deste dois fatores – queda no mundo e simultâneo crescimento no Brasil – catapultou o mercado brasileiro de veículos para o quarto lugar entre os maiores do mundo.
A comparação era inevitável: grandes prejuízos nas matrizes e grandes lucros no Brasil. A receita perfeita para se conseguir aprovar gordos e ambiciosos projetos de investimento e, é claro, garantir a rápida subida na hierarquia das empresas dos executivos em atuação no Pais.
Desde 2013, contudo, prejudicado pela contração da oferta de credito e pelo elevado endividamento da nova classe média, o mercado brasileiro de veículos primeiro parou de crescer e depois, em 2014, entrou em declínio.
E como desgraça pouca é bobagem – desgraça, no caso, para os executivos que tem a responsabilidade de dirigir as empresas no Brasil nesta nova fase — , este declínio tupiniquim se deu exatamente no momento em que, no restante do mundo, o setor automotivo iniciava sua recuperação.
Mais uma vez, a comparação foi inevitável. Só que, agora, com sinais trocados: crescimento e lucros no resto mundo ao mesmo tempo em que, no Brasil, queda e prejuízos.
Em 2013 e, a rigor, até meados de 2014, um argumento a defesa dos investimentos no Brasil, de qualquer forma, permanecia forte e vigoroso: o País se mantinha como o quarto maior mercado do mundo.
Superior, inclusive, segundo o ranking da Jato Consulting, ao da Alemanha, o maior da Europa. Quase o dobro do que o da França e perto de três vezes o da Itália. Mercado do qual ninguém poderia abrir mão.
Neste 2015, contudo, com o aprofundamento do desaquecimento doméstico, o Brasil automotivo começou a descer a ladeira. Terminou o primeiro trimestre deste ano já no sétimo lugar, atrás da Alemanha e também da Índia.
Em março, em particular, a França, com crescimento de 9,6% em suas vendas domésticas, assumiu a sétima posição e empurrou o Brasil para o oitavo lugar.
E, em abril, quem colocou ainda mais pimenta nesta, por assim dizer, relativa desgraça comparativa global, foi o México, país que nos últimos anos disputa investimentos automotivos com o Brasil.
Calcado na recuperação do mercado nos Estados Unidos e no Canadá, o México, conforme registrou a Agencia AutoData em sua edição de quinta-feira, 21, conseguiu a proeza de encerrar o três primeiros meses do ano com a exportação de 922 mil veículos leves, 6,9% mais do que todas as 861,9 mil unidades comercializadas no mercado domestico brasileiro.
Com tudo isto, as viagens para as matrizes dos executivos que administram montadoras ou fabricantes de componentes no Brasil não devem estar sendo exatamente fáceis e nem agradáveis. Ainda mais quando se considera que a violência da queda de vendas deste ano não estava no radar de nenhuma empresa. São explicações e mais explicações. Justificativas e mais justificativas.
Mas… há pelo menos dois pontos que também fazem parte deste quadro e que merecem ser levados em consideração, no mínimo para reduzir a tentação e o risco da tomada de decisões focadas exclusivamente neste curto prazo.
O primeiro deles: matéria sobre gestão da crise que está sendo preparada pela editora Alzira Rodrigues para a edição de junho da revista AutoData mostrará que várias das empresas do setor já conseguiram se readequar a nova situação, alcançaram equilíbrio financeiro e chegam até a projetar algum lucro para este ano.
E, finalmente, o segundo e principal: conforme não se cansa de repetir o presidente da Anfavea, Luiz Moan, apesar das dificuldades geradas pelo atual ciclo de ajuste econômico do Pais, os fundamentos que formaram a base do ciclo anterior de crescimento — em particular a baixa relação veiculo por habitantes em todo o interior do País e a necessidade de grandes obras publicas ligadas a infraestrutura — continuam validos, firmes, fortes e prontos para recolocar o Brasil entre os principais mercado de veíAlizculos do mundo. É só uma questão de tempo.
Notícias Relacionadas
Últimas notícias