A dinâmica da renovação da linha de produtos é bem conhecida no mundo das empresas que proveem tecnologia, movidas na maior parte das vezes pela inovação. Notadamente a Apple tem se destacado, desde sempre, como uma empresa inquieta no lançamento de novos produtos. O iPhone 6, por exemplo, cujo lançamento se deu no fim do ano passado, deve ceder lugar ao iPhone 7 ainda em 2015. A indústria da moda, como sabemos, renova as coleções anualmente trazendo novos cortes e estampas. Aqui a renovação do portfolio de produtos é parte do jogo. Nas empresas que desenvolvem bens duráveis a renovação da linha de produtos é mais complicada.
Afinal, na maior parte das vezes, além de exigirem tempo no desenvolvimento os montantes a ser investidos são expressivos, exigindo recursos dedicados de engenharia e investimentos nas plantas industriais próprias e de fornecedores. De todo modo essas empresas devem também se preocupar na atualização do portfolio de produtos antecipando-se à concorrência, sempre que possível. Isso se aplica aos fabricantes de veículos leves, com certeza.
A expansão ou renovação da linha de produtos no setor automotivo é garantia de sucesso e de ganho de maior fatia do mercado para a fabricante que toma a iniciativa? Não necessariamente, pois como sabemos o sucesso da venda na ponta do mercado depende também de outros fatores como proposta de produto adequada à segmentação definida, pesados investimentos na promoção e divulgação do lançamento, marca em boa posição e reconhecida, rede de distribuição sólida e focada no lançamento, linhas de financiamento acessíveis, qualidade no serviço de pós-venda e, sobretudo, depende da decisão sobre o preço – afinal o cliente final precisa enxergar valor no novo produto oferecido.
Uma avaliação histórica das vendas no mercado interno de veículos de passeio dos últimos anos, o acumulado janeiro/julho de 2011 e igual período de 2015, indica grande transformação, com novas marcas e modelos ganhando espaço interessante, como segue:
Não resta dúvida, portanto, que as montadoras interessadas em alavancar os negócios aqui terão de estudar a fundo as novas tendências, além de avaliar as oportunidades por segmento/região vis a vis alternativas internas de produto que possam lançar com preços atrativos. Tudo isso sem se descuidarem do fortalecimento da rede de distribuição, divulgação do novo produto e do pós venda irrepreensível.
Quanto a lançamento de novos produtos já notamos novidades acontecendo num momento de mercado com demanda enfraquecida pela crise econômica e com pouco apetite para compra.
Há, sem dúvida, oportunidade para expandir a presença no mercado de veículos de passeio.
Dentre os lançamentos cabe destacar o do VW Up 1.0 com turbo. A oferta é um produto que alia melhor dirigibilidade com economia no consumo de combustível. Em recente divulgação do ranking de testes da revista Quatro Rodas o VW Up aparece como o mais rápido, claro, mas também ficou em primeiro lugar em frenagem. Na classificação por economia – consumo urbano – o carro fica em terceiro lugar com 13,8 km/l. Nada mal. O preço, contudo, pode inibir a venda do produto em escala superior àquelas normalmente baixas de veículo esportivo.
Na linha de sedãs as novidades vêm tanto da GM como da Honda. O segmento tem ganho importância e a preferência da classe média brasileira merecendo de fato ofertas de valor agregado superior e, acredito, margens melhores às montadoras.
A General Motors sinaliza a oferta num futuro breve do Cruze na versão de motor flex três cilindros, injeção direta, 1.4 com turbo. E com central multimídia que conversa com telefones celulares. Já para a Honda ainda não foi revelada a versão brasileira de motor se com turbo ou simplesmente aspirado.
É possível acreditar que tanto Toyota como a Fiat deverão contrapor com seus sedãs modificados os lançamentos de GM e Honda assim como para enfrentar a Ford, que oferece o Focus reestilizado e com opções de motor 1.5 turbinado.
Outro segmento de importância no mercado brasileiro é o das SUVs, que mostra em 2015 uma modificação dramática comparativamente ao ano anterior, como demonstram números de emplacamentos relatados pela Fenabrave:
Como observamos as novidades nesse 2015, representadas aqui pelo Honda HR-V e pelo Jeep Renegade, varreram das primeiras cinco colocações o Hyndai Tucson e o Chevrolet Tracker. Note: as vendas das cinco maiores nesse segmento caíram 3,7%, bem menos do que a média do mercado de veículos leves, que girou ao redor de 20%.
Resumindo: ao tomarem iniciativas na renovação da linha de produtos elegendo plataformas e ofertas adequadas ao mercado as montadoras podem, de fato, abocanhar fatias interessantes de negócios. Claro está que não é permitido descuidar dos outros fatores que ajudam na venda, como a rede de distribuidores, o serviço de pós-venda, a divulgação da marca e do produto.
José Rubens Vicari é administrador de empresas pela FGV com pós-graduação em finanças. Atuou por vinte anos como CEO de empresas metalúrgicas no setor de autopeças. Mentor voluntário para empresas startups pela Endeavour. Seu blog é www.senhorgestao.com.br.
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