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10/02/2020

Shacman ensaia retorno ao Brasil com caminhões a GNL

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Foto Jornalista Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

São Paulo – Até outubro 109 caminhões pesados Shacman X3000 movidos a GNL, gás natural liquefeito, desembarcarão no Brasil por meio da Alliance GNLog. A operadora foi contratada pelo Golar Power Latam, consórcio que explora a distribuição do gás em cidades da região Nordeste, e assumiu a distribuição local dos caminhões chineses, que no passado esteve na mão de outro grupo.

 

Não tem, portanto, relação com a investida da Metro-Shacman no passado, que chegou a anunciar uma fábrica em Tatuí, SP, se associou à Anfavea no auge do mercado de caminhões mas desistiu da investida.

 

A princípio os caminhões rodarão para levar o combustível a uma futura rede que será construída em parceria com municípios do Maranhão, Piauí e Sergipe. Um protocolo de intenções para realizar o projeto será assinado em São Luís, MA, na quinta-feira, 13.

 

Segundo Marcelo Rodrigues, vice-presidente da Golar, algumas unidades dos cavalos mecânicos importados estão em fase de homologação e teste de validação em campo: “Duas unidades, um 6×4 e outro 6×2, já rodaram cinquenta mil quilômetros para que sejam adaptados às condições do território brasileiro”.

 

A Golar planeja investir US$ 100 milhões em estrutura chamada corredor azul, composta por postos de combustíveis, terminais que realizarão operação de regaseificação e outros que funcionarão como bases de distribuição no Nordeste.

 

O valor não envolve, no entanto, a compra dos veículos: o modelo de negócio que será praticado pela Alliance GNLog no Brasil envolvendo os caminhões Shacman será baseado em leasing operacional ou como TaaS, o caminhão como serviço, quando, neste caso, a contratação considera a equação quilômetro rodado-frete.

 

A Alliance GNLog atua como representante da Shacman no País e há dois anos iniciou o trabalho de desenvolvimento e importação dos caminhões equipados com motores da Weichai, fabricante chinesa:

 

“A montadora foi escolhida neste projeto por representar uma das maiores fabricantes de veículos movidos a GNL, sem contar em seu poder de escala de produção que torna o preço final competitivo”, disse à AutoData Ricardo Rezende, diretor-geral da companhia.

 

Nessa provável retomada dos negócios da Shacman no mercado brasileiro existem dois fatores importantes a se considerar em termos de ambiente comercial: o primeiro é a exposição que clientes nacionais terão ao dólar, que nesta segunda-feira, 10, fechou a R$ 4,33.

 

Em tese, o quadro seria desfavorável à empresa uma vez que montadoras instaladas no País, como é o caso da Scania, se preparam para produzir caminhões movidos a um combustível similar ao GNL, no caso, o GNV, o gás natural veicular.

 

O cenário é visto como estratégico às pretensões da montadora e sua representante no Brasil. Por isso a expectativa da Alliance GNLog é a de que o caminhão à GNL seja contemplado pelo regime ex-tarifário governamental, um incentivo que zera o imposto de importação quando não há produção nacional de similares.

 

“As empresas que atuam neste mercado estão buscando incentivos para que se traga esse veículo mais competitivo. O ideal é que seu preço final seja similar a um cavalo mecânico nacional equivalente movido a diesel”, disse Rezende.

 

O assunto veio à tona na entrevista coletiva em que a Anfavea divulgou seu balanço de janeiro, na quinta-feira, 6. A inserção de um caminhão movido a GNL na lista de itens ex-tarifários desagradou à representante das montadoras instaladas aqui: “Somos contra”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade.

 

Por ora os caminhões deverão chegar a um valor acima do que custa um similar nacional, por isso a Alliance GNLog espera desenvolver mercado por meio do leasing. A empresa também prospecta novos clientes e algumas unidades movidas a GNL estão em testes na operação da Ambev, que tem servido de laboratório para veículos movidos a combustíveis alternativos.

 

Enquanto a Volkswagen Caminhões e Ônibus testa o seu elétrico e-Delivery, em operações de distribuição urbana, os veículos Shacman são submetidos a testes de longas distâncias. A cervejaria traçou planejamento de longo-prazo de redução de emissões, e tais veículos e testes têm aderência à sua meta.

 

Caso o tema ex-tarifário não avance em Brasília, DF – uma reunião da Camex para discutir o assunto é esperada para esta semana –, Rezende disse que uma saída alternativa “deverá ser encontrada por meio de negociações lideradas pela própria Shacman e o governo federal”.

 

Ninguém afirma, nem nega, que o Plano B seja produzir ou montar localmente os caminhões a GNL. De qualquer forma o panorama é bom, considerou o executivo. O governo teria interesse em abrir o mercado para promover a chegada de novas tecnologias envolvendo combustíveis alternativos.

 

Houve mudanças recentes no marco regulatório do gás e há interesse do governo em reduzir a dependência que o País tem da importação do óleo diesel. O cenário, inclusive, teria motivado a Golar Power Latam a investir nos denominados corredores azuis.

 

Foto: Divulgação.