São Paulo — O que era para ocorrer na próxima semana em Hanover, Alemanha, quando a maior feira de veículos comerciais do mundo, a IAA 2020, abriria suas portas, acabou sendo antecipado em um evento híbrido: diversos jornalistas conectados, alguns presentes no local do evento que contou com convidados importantíssimos, como ministros e integrantes do parlamento alemão, para conhecer o primeiro caminhão a hidrogênio da Mercedes-Benz, o GenH2, e outros dois Actros elétricos.
Ao contrário do que vem ocorrendo nos últimos anos com o desenvolvimento dos automóveis puramente elétricos que não deslancham na Europa e em outras regiões por diversos fatores, principalmente pela falta de uma rede de abastecimento consolidada para dar mais segurança ao consumidor, no caso dos caminhões a hidrogênio não será assim. Pelo menos na Alemanha.
Andreas Scheuer, o ministro do Transporte e da Infraestrutura alemão, disse que o hidrogênio é uma ótima alternativa para o transporte de longas distâncias e anunciou que o país investirá € 4,1 bilhões no desenvolvimento de pontos de abastecimento da molécula em forma líquida, que será usada como combustível: “O hidrôgenio é mais adequado para longas distâncias e, por isso, além de caminhões e ônibus, temos um planejamento para usar em trens e já estamos discutindo como utilizar em aviões”.
A primeira grande novidade do evento foi revelada no palco por Martin Daum, CEO da Daimler Trucks: o caminhão GenH2, ainda um veículo-conceito, apresentado mundialmente como o início da propulsão por célula de combustível: “Essa tecnologia só funcionará com hidrogênio verde e não com hidrogênio cinza, originado do gás natural. Por isso precisamos da infraestrutura para que o produto tenha sucesso”.
A Daimler Trucks planeja iniciar testes com o caminhão GenH2 cedidos aos seus clientes a partir de 2023. A produção em série deverá ter início na segunda metade desta década e a expectativa inicial é de que a autonomia do caminhão seja de mais 1 mil quilômetros: “Precisamos de tempo para oferecer um produto de qualidade, seguro e viável. Para entregar este veículo ao cliente precisamos rodar ao menos 1 milhão de quilômetros em testes. Os caminhões precisam ir para as estradas antes de chegar ao cliente. Temos que passar pelo menos dois invernos em testes”.
Daum e o diretor geral de engenharia da Daimler AG, Sven Ennest, demonstraram que a opção ao hidrogênio líquido como matriz energética dos caminhões será a tecnologia mais vantajosa para as operações de transporte no futuro. O H2 líquido tem maior densidade energética, o que dará maior autonomia às composições. Além disso os tanques de combustível serão mais leves e compactos porque a pressão que o líquido exerce no compartimento é menor que a do hidrogênio na forma de gás. E a operação de abastecimento se assemelha à do diesel, outra facilidade da nova tecnologia.
A opção parece tão promissora que a Daimler Trucks fechou acordo preliminar para uma joint venture com o Grupo Volvo para o desenvolvimento e a produção de sistemas de células de combustíveis para veículos comerciais pesados. O objetivo é compartilhar os custos e acelerar a chegada dos caminhões movidos a H2.
eActros — Outros dois importantes caminhões da linha Actros do futuro também foram apresentados em Hannover: a versão puramente elétrica para longas distâncias e uma versão para operações de distribuição.
Segundo Martin Daum o eActros, apresentado como veículo-conceito em 2018, tem seu lançamento agendado para 2021. A expectativa é a de que esse modelo tenha desempenho operacional igual ou até melhor do que um caminhão movido a diesel. Mas sem emitir um grama de CO2 na atmosfera.
Já o eActros LongHaul deve chegar em 2024 e para operar rotas de transportes rodoviários pesados – assim como o GenH2 – que não ultrapassem 500 quilômetros. A tecnologia de carregamento rápido da Mercedes-Benz garantirá a autonomia necessária nessas operações sendo utilizada no momento de descanso obrigatório dos motoristas na União Européia, que é de 45 minutos a cada quatro horas e meia de condução.
Fotos: Divulgação/Daimler