São Paulo — As montadoras esperam para 2022 a normalização do abastecimento de semicondutores, componentes que têm sido apontado como responsáveis pela paralisação da produção de veículos no País e no mundo. Até lá, e se tudo der certo em termos pandêmicos e logísticos, o setor automotivo seguirá nas últimas posições de uma fila global pelos chips de silício.
A razão, como a Anfavea bem antecipou em sua coletiva de junho, é em parte o aquecimento do mercado global de computadores que, durante a pandemia, se tornou item indispensável na massificação do trabalho em regime de home office. Quando se fala em computadores se fala genericamente de um universo maior que inclui afora o desktops, tablets, notebooks, smartphones e impressoras.
Em parte porque é preciso também considerar o fato de que empresas que produzem estes equipamentos consomem um maior volume de chips do que as fabricantes de veículos, ainda que a quantidade de semicondutores em automóveis tenha aumentado nos últimos anos. Sem contar o fato de que os valores envolvidos nos negócios com fabricantes de eletrônicos são mais rentáveis do que aqueles mantidos com montadoras.
"No mercado de eletrônicos os semicondutores acabam sendo um fator competitivo, algo que ainda não acontece no mercado de veículos", disse Rodrigo Pereira, analista de mercado da IDC Brasil. "Esse quadro faz o silício valer mais na aplicação em eletrônicos do que em automóveis, por exemplo. Com a normalização da produção após a parada no começo da pandemia as montadoras voltaram a fazer pedidos, mas a tendência é que as fabricantes de chips mantenham como prioridade outras indústrias por enquanto, sobretudo aquelas que pagam mais".
Para se ter uma ideia da explosão ocorrida no mercado de computadores dados do Gartner apontam que em 2020 a receita mundial de semicondutores cresceu 10,4% sobre a receita de 2019, somando US$ 466 bilhões, um crescimento puxado pelo mercado de computadores. A venda global de PCs no ano passado, ainda segundo a consultoria, cresceu 5%, totalizando 275 milhões de unidades.
E há mais, afirmou, no estudo, Kanishka Chauhan, analista da companhia, que estima normalização do abastecimento global no primeiro trimestre do ano que vem: “A escassez de semicondutores afetará severamente a cadeia de suprimentos e limitará a produção de muitos tipos de equipamentos eletrônicos em 2021. O preço dos seus insumos estão aumentando. Por sua vez as empresas de chips estão aumentando os preços dos dispositivos”.
A normalização do abastecimento ocorrerá, de fato, quando as fabricantes aumentarem a capacidade de produção de suas linhas, apontam em uníssono os consultores. Em entrevista ao site The Register, CC Wei, CEO da TSMC, uma das maiores produtoras asiáticas de semicondutores, disse que as linhas devem produzir mais a partir de 2023 quando os planos de expansão das fabricantes estiverem em fase final de execução.
Na semana passada a companhia iniciou as obras de uma nova fábrica nos Estados Unidos, que demandará investimento de US$ 12 bilhões que deverá ser subsidiado pelo governo estadunidense. Intel e Samsung também estariam interessadas no incentivo promovido naquela região. A Bosch é outra empresa que investirá na produção de chips no sentido de atender parte da demanda por semicondutores em diversos setores, inclusive o automotivo.
Foto: Divulgação.