São Paulo -- Muito se fala que hoje os veículos são smartphones com rodas, dado o avanço da conectividade nos modelos atuais. Com os passos que a indústria automotiva dá no momento, contudo, a figura de linguagem está muito próxima de deixar de ser uma ilustração para se transformar em algo real. "Imagine contratar um item que hoje é de série como se ele fosse um serviço. Poder percorrer um trajeto, uma viagem, por exemplo, e antes de percorrê-lo contratar na concessionária um ACC, o controle de cruzeiro adaptativo, e pagar pelo uso em determinado tempo, como se fosse um aplicativo", sugere Leimar Mafort, gerente de engenharia da divisão chassis da Bosch. É sobre projetos como esse que a equipe global de engenharia da sistemista está debruçada atualmente, sobretudo agora com a criação da empresa subsidiária Cross-Domain Computing Solutions, da qual Mafort e outros engenheiros brasileiros agora fazem parte.
São Paulo — Muito se fala que hoje os veículos são smartphones com rodas, dado o avanço da conectividade nos modelos atuais. Com os passos que a indústria automotiva dá no momento, contudo, a figura de linguagem está muito próxima de deixar de ser uma ilustração para se transformar em algo real.
"Imagine contratar um item que hoje é de série como se ele fosse um serviço. Poder percorrer um trajeto, uma viagem, por exemplo, e antes de percorrê-lo contratar na concessionária um ACC, o controle de cruzeiro adaptativo, e pagar pelo uso em determinado tempo, como se fosse um aplicativo", sugere Leimar Mafort, gerente de engenharia da divisão chassis da Bosch. É sobre projetos como esse que a equipe global de engenharia da sistemista está debruçada atualmente, sobretudo agora com a criação da empresa subsidiária Cross-Domain Computing Solutions, da qual Mafort e outros engenheiros brasileiros agora fazem parte.
Afora as demandas usuais do OEM nacional, a equipe também será responsável por transformar veículos em plataformas de serviço. Ele conta que uma das atividades que estão sendo executadas já dentro da nova estrutura é a simplicação da arquitetura eletrônica de veículos para que, no futuro, seja viável criar uma oferta baseada em serviços de mobilidade. A demanda do momento é centralizar os diversos sistemas que hoje compõem um veículo em apenas uma unidade de controle — será a partir dela que programadores terão acesso às diversas partes de um automóvel, comercial leve ou caminhão.
"Esses sistemas atualmente estão espalhados pelo veículo e trabalham quase que de forma independente. O que queremos é unificar os sistemas, o que exige uma simplificação eletrônica e de hardware também", explicou Mafort. Hoje, seguiu o gerente da engenharia, criar um chassi que disponha de parte e peças que possam ser acionadas ou desligadas via software é o grande desafio porque envolve, afora desafios de projeto, volume no mercado para reduzir custos.
"As arquiteturas veiculares hoje são muito modernas a ponto de se construir toda uma gama de diferentes modelos em apenas uma plataforma. O próximo passo é inserir nessas bases outros tipos de componentes, fazendo com que plataformas deixem de ser apenas algo estrutural como é hoje".
De acordo com a consultoria McKinsey, o mercado geral de software de veículos e componentes elétricos e eletrônicos crescerá cerca de 7% ao ano, de 2020 a 2030. Isso equivale a um crescimento de US$ 238 bilhões, em 2020, para US$ 469 bilhões em 2030. A Bosch estima que o mercado de sistemas eletrônicos com uso intensivo de software crescerá até 15% ao ano até 2030.
Diante das projeções é possível imaginar que, no futuro, os sistemas de gestão veicular desempenharão papel importante na operação das montadoras como canal de receitas. É por esta razão que não apenas a Bosch e outras sistemistas, mas as montadoras estão em uma espécie de corrida para se transformarem também em grandes companhias de software.
Segundo Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, os sistemas, no futuro, terão tanta importância estratégica dentro dessas companhias, similar àquela que hoje elas dão aos assuntos ligados ao conjunto de powertrain: "Será via software a realização de recalls, de oferta de serviços, de avisos de manutenção, de criação de lead comercial. É algo considerado muito estratégico".
Quando as montadoras passaram a perceber que o futuro do setor passava pelo desenvolvimento de sistemas veiculares, havia a dúvida acerca de quão preparadas elas estariam, em termos técnicos, para seguir no caminho da programação. Houve, então, um forte movimento de aquisições de empresas de tecnologia que já detinham experiência no assunto. Hoje, segundo Trujillo, há o momento de total absorção dessas startups adquiridas, o que elevou o nível competitivo das fabricantes no ramo do software.
Dados da consultoria Berylls mostram que em 2019 cerca de 140 bilhões de euro foram gastos em pesquisa e desenvolvimento na indústria automotiva como um todo. Cerca de um terço desse total estava relacionado aos dispêndios com projetos de eletricidade, de eletrônica e de software. Espera-se que essa proporção aumente para cerca de 40% até 2030.
No caso da Bosch as operações de mobilidade empregam atualmente cerca de 14 mil engenheiros de software e os gastos anuais com sistemas chegam a 3 bilhões de euro.