São Paulo – A Volkswagen Caminhões e Ônibus assinou contrato de parceria com a CBMM, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, para desenvolver uma bateria de recarga ultrarrápida para veículos com aplicação de nióbio. As empresas calculam que o tempo de carregamento, para percorrer distância de 50 a 70 quilômetros, seria de apenas 6 minutos – atualmente demora em torno de 6 horas.
É a primeira vez que o nióbio será utilizado na bateria para aplicação no setor automotivo. Os valores investidos na iniciativa não foram comunicados, mas a intenção é a de que no fim do ano que vem sejam feitos os primeiros testes em ônibus 100% elétricos desenvolvidos pela VWCO. A previsão é a de colocá-los em circulação com essas baterias a partir de 2023.
Rodrigo Chaves, vice-presidente de engenharia e CTO da VWCO, destacou que, como se configura uma substituição de tecnologia, a bateria de recarga rápida também requer investimento em infraestrutura, nos carregadores de alto desempenho, para que tudo possa funcionar:
“Escolhemos os ônibus porque eles possuem operação com rotas muito bem definidas e têm um ponto final, onde é possível instalar carregador ultrarrápido. É uma estrutura semelhante a um poste com um pantógrafo: quando o veículo se posiciona embaixo, ele acopla eletronicamente e faz carregamento com potências dez vezes acima do que é regular com as demais baterias”.
A montadora já iniciou conversas com o poder público para tornar viável essa infraestrutura. Chaves relatou que a empresa tem recebido visitas governamentais por meio da área institucional para mostrar a proposição do transporte sustentável.
“Temos o e-consórcio, com parceiros especializados na infraestrutura de recarga, reciclagem e bateria. A Volkswagen não quer oferecer apenas o melhor produto, mas o melhor ecossistema de transporte sustentável. Caso haja interesse da empresa em adquirir a solução completa, é possível por meio dele. Os governos têm de entender que os ganhos ambientais não estão relacionados somente às mudanças climáticas e à descarbonização, mas também à saúde pública, e que não se trata de uma despesa, mas de um investimento.”
Atualmente, 95% das baterias de lítio utilizam carbono e, para que o veículo atinja 80% de recarga, são necessárias de três a quatro horas. Para que o carregamento seja completo pelo menos seis horas, e neste caso o ideal é que passe a noite no processo.
Tecnologia – A durabilidade das baterias de lítio com nióbio é de três a quatro vezes maior do que a de carbono, assinalou Rogério Ribas, gerente executivo de produtos de baterias da CBMM. Além disso elas são de 30% a 50% menores, o que se traduz em mais espaço para transportar pessoas e carga, e também inflam menos do que as de carbono com expansão inferior a 2%, o que representa menor risco de incidentes nos veículos.
O desenvolvimento dessa tecnologia inédita, que está saindo do forno agora, vem sendo feito com a Toshiba há três anos, projeto no qual a CBMM já investiu US$ 15 milhões. Para o programa de novas tecnologias de baterias contendo nióbio a companhia brasileira aporta anualmente US$ 11 milhões: “Distribuiremos 5 mil baterias para lista de trinta clientes no mundo, como a VWCO, única montadora do projeto”.
A produção das baterias começa no mês que vem, no Japão, e no primeiro trimestre de 2022 a Volkswagen receberá o produto.
De acordo com Ribas o nióbio é um metal de transição presente em diversos minerais. Existem 85 depósitos mapeados no mundo, e um deles está em Araxá, MG, com capacidade para abastecimento de mais de cem anos. No caso da CBMM, que supre cerca de 80% do mercado mundial, o nióbio é encontrado no pirocloro.
Na vanguarda, a companhia brasileira, que emprega cerca de 2 mil funcionários, possui capacidade de produção anual de 150 mil toneladas de nióbio, enquanto que em todo o mundo hoje são fabricadas 120 mil toneladas: “Queremos que as baterias representem 25% do nosso faturamento em dez anos. Em 2030 queremos colocar no mercado 40 mil toneladas para aplicações ligadas à bateria de lítio”.
Ribas informou que o preço dessas baterias caberá à Toshiba, a fabricante do componente, e que deve se tornar mais viável conforme vai ganhando escala. Ele ponderou, no entanto, que do ponto de vista do custo total essa tecnologia será extremamente atrativa: “Hoje, se você precisa parar um veículo que opera 24 horas, é preciso ter um segundo carro para fazer o trabalho daquele que ficará parado por seis horas”.
Quanto aos carregadores estão sendo adquiridos os da ABB, que será fornecedora para a Copa do Mundo no Catar em meados do ano que vem. Segundo o executivo a produção de bateria de lítio deve predominar pelas próximas duas décadas pelo menos. Até lá está sendo estudada a confecção a partir do sódio.
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