São Paulo – Integrada pelo ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, missão brasileira composta por representantes do setor automotivo, como Anfavea, Volkswagen e Toyota, e da Unica, União da Indústria da Cana-de-Açúcar, aportará na Índia durante a segunda quinzena de janeiro com o objetivo de demonstrar a experiência brasileira com o motor flex.
"Queremos ajudar os indianos a tornar realidade algo que me chamou atenção em um jornal local, que continha reportagem com o seguinte título: Índia quer construir um mini-Brasil a partir do etanol", disse o presidente da Unica, Evandro Gussi. "Estamos fazendo todo o esforço possível, incluindo governo e iniciativa privada, para contribuir”.
A Índia criou plano nacional colocando o etanol como prioridade para que até 2025 o uso do biocombustível seja disseminado, inclusive por meio do motor flex, mercado no qual empresas brasileiras, com sua expertise, estão de olho.
Para Gussi com o etanol o Brasil tem lugar privilegiado na prateleira do futuro da mobilidade sustentável. E, portanto, os holofotes conquistados pelo avanço da eletrificação e outras rotas tecnológicas não tiram o mérito dos biocombustíveis, ao contrário. Contou que uma das perguntas que mais responde é: até quando falaremos de etanol com o avanço do processo de eletrificação? Veículos elétricos serão uma ameça ao etanol?
“Na verdade todo esse processo revela a maior oportunidade da história não só para o etanol mas para o ecossistema sucro-milho-energético, à medida que a participação do etanol do milho vem crescendo no Brasil.”
Ele lembrou que nesta semana o bilionário Elon Musk, dono da Tesla e da Space X, foi eleito Pessoa do Ano pela revista estadunidense Time e a personalidade do ano pelo jornal inglês Financial Times: “Há espaço para todos. Isso não mostra que o único caminho é a eletrificação. Elon Musk é concorrente do etanol? Não. Ele inclusive defendeu que o mundo precisa de tecnologias sustentáveis para a mobilidade. Ou seja, ele é um dos maiores garotos propaganda que o combustível já teve”.
O executivo afirmou que a indústria automobilística brasileira tem muito claro que tendência é uma coisa e que resposta tecnológica é outra: “O etanol é uma resposta tecnológica fantástica para o Brasil e para outras geografias. Não é a única delas, mas é homologada, sustentável, replicável. Com esse objetivo foi lançado no fim de outubro o MSBC, Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono”.
Iniciativa conjunta de Anfavea, Sindipeças, Unica, SAE e AEA busca encontrar alternativas para que o País reduza emissões e estruture sua jornada de descarbonização. Evandro Gussi exemplificou: a gasolina emite 148 gramas de CO2 por quilômetro rodado, enquanto que o etanol lança 35g, sendo que em híbridos e em flex esse valor cai para 29g: “Mas alguém pode contrapor dizendo que o veículo elétrico não gera emissão. Depende. Há países em que a eletricidade utilizada para recarregá-lo é proveniente da queima de carvão. E eu preciso contabilizar essas emissões mesmo que o carro não tenha escapamento. Então ele gerará emissão de 130g de CO2 por quilômetro, muito mais do que o etanol”.
Iniciativa do Ministério das Minas e Energia o programa Combustível do Futuro, lançado em abril, cria um fator comum para nivelar todos os programas de mobilidade do País, como Proconve, Rota 2030 e RenovaBio e avaliá-los a partir da emissão de CO2: “Imagine o Proconve, por exemplo, dizendo que quer melhorar determinado resíduo do combustível, mas essa melhora implica aumento de 10g por CO2 rodado. Isso facilitará a avaliação”.
A ideia é que o Brasil chegue a 2030 com participação de 30% de combustíveis renováveis – hoje o porcentual é 25%.
Nova norma — As montadoras, a propósito, têm até 31 de dezembro para finalizar automóveis e comerciais leves de acordo com a legislação atual do programa de controle de emissões veiculares, cujo estoque pode ser comercializado até março. A partir de 1º de janeiro, porém, só poderão fabricar carros de acordo com a norma do Proconve L7. O que seria viável não fosse a crise dos semicondutores. A Anfavea já pleiteou a postergação de sua entrada em vigor, mas ainda não obteve resposta do Ministério da Agricultura que, questionado por AutoData sobre eventual adiamento na segunda-feira, 13, não respondeu até a publicação desta reportagem.
Gussi disse esperar que o governo avalie esse problema e encontre solução a tempo, pois não é que o setor não deseje o compromisso de redução de emissões locais: apenas pleiteia mais tempo para lidar com crise global sem precedentes dos semicondutores:
“Você sai num voo daqui para Paris, mas há uma grande tempestade no meio do caminho. O que você faz? Mantém a rota, porque a rota é essa? Acho que em alguns casos fazemos adaptações táticas extraordinárias para cumprir o objetivo. Se levar o avião à tempestade ele não chegará ao destino, porque cairá. É preciso encontrar o bom senso diante da circunstância que estamos vivendo”.
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