São Paulo – Há algum tempo se ouve falar em criptomoedas, que tem como representante de maior fama o bitcoin, mas o que não se tinha ideia era da extensão da aplicabilidade dessa tecnologia no setor automotivo. E é aí que a Castertech, uma das Empresas Randon, entra. Após um ano inteiro de estudos em parceria que envolveu o IHR, Instituto Hercílio Randon, que desenvolve tecnologia dedicada ao setor, e o iCoLab, Instituto de Colaboração em Blockchain, a companhia começou a aplicar tecnologia de blockchain em sua operação industrial. Trata-se de algo pioneiro no segmento.
Em uso desde dezembro do ano passado, de forma piloto, em um dos clientes da Castertech, que tem seu nome sob sigilo, a novidade tem sido aplicada, por ora, no cubo de roda, peça localizada na ponta do eixo de veículos comerciais para dar suporte à roda.
Leandro Corrêa, diretor de negócios da Castertech, ressaltou que um dos maiores benefícios da adoção da tecnologia são sua rastreabilidade e agilidade na obtenção de informações sobre a peça, "o que traz maior controle sobre a produção, melhora a qualidade do processo produtivo, facilita a obtenção de informações em auditorias e acelera a resolução de problemas". Sem contar que, devido a essa tecnologia, o dado de cada item é imutável e, portanto, à prova de fraude:
“Com o blockchain conseguimos acompanhar cada produto internamente, em nossas fábricas, dentro dos processos produtivos das montadoras e também em campo, nos veículos. Tudo isso a partir da gravação a laser de um QR code no metal do cubo de roda. No momento em que leio o código a partir da câmara do celular eu tenho as informações na minha mão, não preciso mais buscar no papel nem em arquivo de banco de dados”.
O diretor contou que, por questão de segurança, é preciso sempre fazer esse acompanhamento, e que se acontecer a quebra da peça no veículo em campo agora é possível prontamente identificar o que motivou o problema, quais componentes foram utilizados, o dia em que foi produzido e em qual lote, se a falha foi gerada pelo processo de fundição ou usinagem, qual é a janela de estoque e que outros itens podem estar com o mesmo dano: “Se, por exemplo, ocorrer falha com um cubo em Mato Grosso do Sul eu não preciso pegar a peça e trazer para Caxias do Sul, pois qualquer um pode fazer a leitura do QR Code e enviar a informação em tempo real”.
Corrêa avaliou que o ganho de tempo na obtenção das informações é o maior trunfo do blockchain. Se antes a Castertech levava de vinte a trinta dias para essa peça sair do campo e chegar dentro da empresa, para que fosse feita análise do dano, hoje a resposta é dada em até 36 horas. Outro benefício é o controle de peça genuína, porque quando algum cliente final quer realizar troca e acionar a garantia a companhia tem a certeza de que o cubo foi produzido por ela, uma vez que a nota fiscal é uma das informações lidas pela tecnologia. Segundo ele é possível, ainda, escolher que tipo de informações liberar para cada cliente. Ou seja: nem todos os usuários têm acesso a todos os dados. Alguns, inclusive, ficam liberados apenas para uso interno da companhia.
E caso a montadora realize de forma aleatória uma auditoria nas peças recebidas ela terá as informações on-time, enquanto que até então era preciso fazer uma ligação telefônica ou enviar e-mail para confirmar o part number e solicitar dados como quando o pedido foi fundido, usinado, embalado e expedido. A resposta, de acordo com o executivo, “é muito rápida e livre de erros”.
Por enquanto Corrêa disse que o maior benefício é qualitativo, e que não é possível mensurar impacto financeiro. A Castertech produz, anualmente, mais de 600 mil cubos de roda, carro-chefe da empresa que responde por cerca de 55% da produção. Dentro da família cubos há centenas de códigos e projetos diferentes e, no momento, apenas um código está sob a tecnologia de blockchain.
“O próximo passo é validar essas informações. Passaremos o primeiro semestre fazendo isso e construindo nosso banco de dados e, a partir do segundo semestre, começaremos a expandir o processo para novos produtos e novos clientes.”
O executivo afirmou que a empresa já possui um roadmap tecnológico e que, como possui família muito grande de produtos, a ampliação será gradativa: “Esse é um trabalho que começa hoje, mas que não tem fim, porque teremos novos produtos e novas demandas de clientes. Então é possível dizer que este é um trabalho vivo. Cada novo projeto que entrar na empresa já terá essa tecnologia”.
Crescimento – A Castertech possui quase 1,5 mil funcionários distribuídos por quatro fábricas, sendo duas em Caxias do Sul, RS, uma em Schroeder, SC, e uma em Indaiatuba, SP.
Corrêa avaliou que esse mercado continua em alta, mesmo com as instabilidades trazidas pelas incertezas políticas que podem ocorrer no decorrer do ano, tanto que há perspectivas de contratação, embora não tenha especificado número de vagas. De 100% do volume de produção da companhia 65% são destinados ao mercado de OEM, para fabricantes de veículos comerciais, 25% para a Empresas Randon e 10% para o aftermarket.
Foto: Jefferson Bernardes/Divulgação