Tecnologia desenvolvida pela startup Green Fuel reduz de 5% a 17% consumo de combustível
São Paulo – A redução do consumo de diesel a partir do hidrogênio, gerado a partir da queima do combustível, é proposta desenvolvida pela startup Green Fuel para veículos comerciais. Essa tecnologia diz respeito ao mercado de reposição e propicia menor emissão de CO2, está em fase de testes práticos e tem como uma das primeiras clientes a Log-In, operadora logística que pretende ampliar seu uso e investir para aprimorá-la.
Segundo Felipe Gurgel, diretor de atendimento da Log-In esse projeto vem sobre duas óticas, sendo uma delas a agenda ESG:
“Muitos dos nossos clientes vêm demandando isso, colocando como prioridade e tentando levar essa necessidade para toda a cadeia. Tanto que eles cobram ações de sustentabilidade das empresas que contratam. E nós estamos tentando fazer a mesma coisa, levando para a nossa cadeia a importância do tema.”
Felipe Gurgel
Olhando para a parte ambiental o intermodal representa 17% das emissões da companhia, com o restante sendo feito nos navios, que, segundo Gurgel, emitem menos poluentes. Mesmo assim, embora um dos modais mais usados pela Log-In seja a cabotagem, uma das pernas é feita por caminhões, para levar a carga até o porto e depois distribuí-la no destino.
“Chegamos a estudar modelo de caminhões a gás e algumas empresas adotaram caminhões elétricos. Mas para o nosso nicho ainda não conseguimos enxergar viabilidade nessas alternativas, pois requereriam custo de investimento maior e implicaria uma operação mais complicada, pois nem sempre haveria pontos de abastecimento de gás nas rotas executadas. A falta de infraestrutura tornaria inviável essa opção.”
Nesse meio tempo, relatou o executivo, surgiu o projeto da Green Fuel com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, com a proposta de economizar de 5% a 8% de combustível. Essa eficiência tende a baratear o frete e a emitir menos carbono, o que é reforçado em tempos de escalada do diesel. A Log-In foi apresentada pela Transportadora Beviani, de Santa Catarina, parceira de longa data:
“Quando soubemos da iniciativa quisemos participar a partir do projeto piloto com dois caminhões. Depois trabalharemos efetivamente em um modelo de negócios, pois investiremos conforme forem evoluindo os testes que estão sendo aplicados”.
A Log-In assinará acordo de intenções com a startup com objetivo de contribuir para aprimorar a solução: “Estamos conversando com a Green Fuel sobre como alavancar o projeto e podemos entrar, eventualmente, com algum investimento, para disseminar isso para uma boa parte da frota com que operamos. A ideia é melhorar o equipamento e a eficiência”.
Em um mês de testes houve redução de pouco mais de 5% no consumo de combustível, mas, segundo Gurgel, ainda é cedo para fazer balanço do impacto financeiro, até porque a amostra é pequena e o principal é o impacto ambiental, enfatizou. Enquanto isso a operadora segue divulgando a solução a parceiros.
Amplo horizonte – A Green Fuel também já está com o dispositivo sendo testado há cerca de um mês em duas empresas de ônibus em Campo Grande, MS, a Consórcio Guaicurus, de transporte urbano, e a Cruzeiro do Sul, interestadual. Monitorados por telemetria online em breve será possível obter balanço da atividade, afirmou o CEO Marcos Pereira, que encabeçou o projeto há sete anos.
Foi a partir de investimento anjo de R$ 3 milhões em 2021, porém, que a startup conseguiu recursos para ampliar sua infraestrutura e montar laboratório próprio em Campo Grande, além contratar seis engenheiros da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde foram realizados os primeiros testes do projeto.
O sócio diretor de desenvolvimento de motores da Green Fuel, Decio del Debbio, assinalou que o porcentual de redução de diesel dependerá do consumo do veículo e de fatores como carga transportada, trecho percorrido e velocidade atingida. Na média é esperada diminuição de 5% a 17%, sendo 5% em caminhões maiores, de até 48 toneladas, 8% em ônibus urbanos e 17% em caminhões menores. Para modelos de 57 toneladas e de 74 toneladas o consumo é muito maior, afirmou, e ainda não há produtos apropriados para eles.
A escolha pela solução se deu porque a velocidade de queima do hidrogênio é nove vezes mais rápida do que a do diesel, que possui ainda poder calorífero três vezes maior com temperatura de combustão 580 graus. Mais: quando é queimado gera apenas vapor de água, pontuou Del Debbio: “Pensamos: vamos usar hidrogênio para melhorar a queima do diesel em motores existentes, para catalisar o combustível. E ao economizar diesel se reduz emissões”.
Como o sistema não armazena hidrogênio o risco é descartado.
Os executivos contaram que existem opções semelhantes no mercado global e que geram grande quantidade de hidrogênio para potencializar a economia de diesel porém, em contrapartida, demandam alto gasto de energia elétrica, que é gerada pelo alternador, que por sua vez carrega a bateria. E ao consumir mais energia tem-se um desequilíbrio no balanço energético do veículo. Esses modelos gastam 200 watts de potência para gerar o hidrogênio e a versão nacional gasta 20 watts, ou seja, dez vezes menos.
“Focamos na relação custo-benefício, pois não adianta querer quantidade enorme de hidrogênio, mas gastar mais energia para gerá-lo. Aí o balanço não fecha e vão surgir reclamações de que o sistema está consumindo mais energia e acabar logo com a vida útil da bateria e do alternador. Enquanto 20 watts é a mesma coisa que o farol do veículo.”
Decio Del Debbio
Com relação ao custo, Pereira exemplificou que se o veículo consome 4 mil litros de diesel por mês, em um mês ele economizará 200 litros, o que em um ano serão 2,4 mil. O que compensará, nesse mesmo intervalo, o investimento, garantiu.
Del Debbio estimou como mercado potencial para a Green Fuel montante de 1,2 milhão de veículos comerciais, sendo 200 mil ônibus, com até 15 anos, o que equivale a metade da frota brasileira – os 50% restantes têm acima dessa idade e, portanto, os recursos ficam mais escassos para investir em tecnologia. “Se for aprovado o programa de renovação de frota podemos ampliar a 1,5 milhão.”
A Green Fuel está prospectando montadoras também, pois embora não seja o foco da solução, é possível ampliar seu uso aos veículos novos. Por ora, Pereira afirmou que as fabricantes têm interesse em acompanhar os testes. Com doze veículos em teste atualmente, o plano é encerrar 2022 com 2 mil veículos. Contribuirá para atingir a meta o acordo com a Log-In e a expectativa de ampliar a presença de seus produtos significativamente, além de parceria com uma empresa do ramo automotivo, fornecedora de montadoras, cujo contrato ainda pede sigilo.
Em abril a empresa iniciará experiência de noventa dias em um hub de inovação da Raízen ao testar a solução em três caminhões que fazem a coleta de cana de açúcar.