São Paulo – O setor de caminhões e ônibus reconhece que o principal desafio lançado para 2022 é a logística, já bastante complicada pela crise dos semicondutores e com percalços adicionais devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia e ao lockdown na China, em meio a uma nova onda de covid-19.
Foi o que afirmou o vice-presidente da Anfavea, Gustavo Bonini, durante a abertura do Fórum AutoData de Veículos Comerciais, realizado de forma online pela AutoData Editora até quarta-feira, 27.
“A grande questão para este ano é o desafio logístico. E logística é algo desafiador todos os dias, mesmo quando não vemos a crise nos jornais. Quando chega a notícia de que faltam componentes e que as empresas precisam se organizar com paralisação, ou estendendo férias, mexendo no seu mix de montagem, é porque a logística já vem há algum tempo sob pressão.”
Gustavo Bonini
Quando o suprimento está com gargalos, afirmou Bonini, fica difícil seguir sem nenhuma disrupção. A boa notícia, segundo ele, é que de alguma forma as montadoras estão conseguindo atender as suas demandas: “O setor de caminhões tem compra técnica, a que é fechada agora vale para os meses ou até semestres seguintes, o que dá alguma previsibilidade mesmo dentro desse universo.”
Quanto aos fatores mais recentes, da guerra e do lockdown na China, Bonini assinalou que são pontos de atenção acerca do gargalo logístico que vai se formando, mas que, por enquanto, foi sentida apenas uma parte das consequências. “Estamos em alerta para ver se será algo pontual, mais um dos milhares de desafios que lidamos todos os dias, ou se será algo que se estenderá por muito tempo. Ninguém ainda tem essa resposta.”
As projeções da Anfavea seguem inalteradas, com aumento em torno de 10% em relação aos licenciamentos realizados em 2021, o que indica vendas de 135,1 mil caminhões e de 15,5 mil ônibus, totalizando 150,6 mil unidades – no ano passado foram 136,8 mil.
“Há um potencial a ser atingido, ainda há fôlego nas montadoras aqui instaladas para conseguir suprir esse mercado, como a gente já atendeu uma década atrás”, disse, referindo-se à ociosidade de parte das linhas de produção, que têm capacidade para fabricar em torno de 400 mil veículos, e ao fato de em 2011 terem saído das fábricas 224 mil unidades, ao mesmo tempo em que houve 178 mil emplacamentos.
A expectativa da entidade para este ano é a de ampliar em 8,2% a produção de caminhões e ônibus, para 171,8 mil e 20,4 mil, respectivamente, chegando a 192,2 mil. Para Bonini, por outro lado, se essas perspectivas forem alcançadas “já está bom, pois mais importante do que o crescimento ser rápido é que ele seja consistente”.
O vice-presidente da Anfavea disse também estar no aguardo da publicação do decreto do programa de renovação de frota de caminhões, o Renovar, o que será fundamental para o setor, embora não deva impactar as vendas de imediato, por se tratar de política pública de longo prazo:
“Não faz sentido adotar medidas para a descarbonização e lançar novas tecnologias, gás, eletrificação, P8, e ter uma frota envelhecida. Porém, quem tem um caminhão de trinta anos deverá comprar um de vinte, depois um de dez, e um e de cinco e lá para frente um 0 KM. Será algo gradativo. E o programa ajudará a manter a frota sempre nova, como ocorre em outros países.”