São Paulo – O setor automotivo brasileiro, que tem como berço a região do ABC paulista, sofreu revezes nos últimos anos devido a sucessivas crises, como a financeira internacional, em 2008, e a recessão de 2015 e 2016, aliadas ao aumento de custo. De 2007 até 2019 o VTI, Valor da Transformação Industrial, que é uma aproximação do valor adicionado, ou seja, o PIB do setor, caiu 51,6%.
Para efeito de comparação o desempenho do segmento no Estado de São Paulo ao longo desses doze anos retraiu em 17,5%. A queda também foi mais abrupta do que a da indústria regional como um todo, que recuou 37,2%.
Os dados constam da Pesquisa Industrial Anual – Empresa, elaborada pelo Decomtec, Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, com base em informações do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Eles foram apresentados durante o evento Futuro da Indústria no ABC, organizado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC e realizado na USCS, Universidade Municipal de São Caetano do Sul, na quarta-feira, 18.
Nesse período a indústria do Grande ABC amargou a perda de R$ 20 bilhões, sendo que a automotiva respondeu por R$ 13 bilhões, ou seja, 65% do total, apontou o especialista Albino Fernando Colantuono, do Decomtec.
Isso se deve ao fato de que de 2007 a 2019 o segmento de veículos ter respondido por 30,5% do VTI da região — em outras palavras por um terço da indústria local e por 27% de toda a indústria automobilística do Estado. Ou seja: apesar de ter encolhido, Colantuono destacou que o setor automotivo ainda é o que mais gera receitas para o Grande ABC:
“Se o ramo de veículos vai mal outros segmentos que dependem dele, como os de máquinas e equipamentos, produtos de metal, metalurgia, borracha e material plástico, vão mal também”.
Essas atividades, dentre outras, foram as que tiveram pior desempenho na região nesse período de doze anos.
O vice-presidente da Anfavea Antonio Megale reafirmou que o berço da indústria automobilística é o ABC antes de lembrar fatores que atingiram em cheio o setor e não necessariamente apenas as companhias que atuam na região.
Em 2012 e 2013, em todo o Brasil, foram produzidos 3,8 milhões de veículos, momento em que o País detinha o quarto maior mercado do mundo, depois da China, dos Estados Unidos e do Japão. Em 2016 o total de 0 KM vendidos caiu quase que à metade, 2 milhões de unidades.
“Isso para a indústria automobilística é um desastre porque ela vive de volume. Em 2012 e 2013 tínhamos grandes perspectivas, com capacidade instalada de 5 milhões, que hoje já passou para 4,5 milhões, mas infelizmente o mercado caiu muito.”
Megale citou que até aquela época as empresas fabricantes de veículos estavam ganhando muito dinheiro no Brasil, mas que de 2014 para cá todos começaram a perder pelo aumento dos custos de insumos, de novas tecnologias e, consequentemente, dos veículos.
Questões locais — O fato de o custo da mão de obra ser mais elevado no ABC devido à evolução da relação trabalho-capital promovida pela atuação das montadoras junto aos sindicatos trouxe melhores remunerações, por um lado, mas por outro levou algumas empresas a tomarem a decisão de se fixar em outras localidades do Estado e até do País, devido a incentivos do governo.
“O relacionamento com os sindicatos é extremamente positivo. Mantemos relação muito madura com as entidades, pois nos sentamos juntos para discutir os problemas existentes e encontramos saídas para solucioná-los de forma conjunta. O custo da mão de obra em outras regiões tende a subir também, conforme as relações forem evoluindo, isso é natural. E é preciso oferecer emprego de qualidade nesse setor.”
Antonio Megale
O ex-presidente da Anfavea citou, também, que o regime forte de incentivos do governo federal para o Nordeste promoveu uma diferença de custos muito grande, que chegava a 23% há alguns anos. Outros estados também foram oferecendo atrativos e por isto muitas montadoras construíram fábricas em outras localidades, como é o caso da Volkswagen e da General Motors, em São José dos Pinhais, PR, e em Gravataí, RS, por exemplo. Assim como a Mercedes-Benz em Juiz de Fora, MG.
Por ser altamente industrializada e urbanizada a região do ABC tem menos áreas livres disponíveis, sem contar que possui preços de locação e também de custo de vida mais elevados.
Megale lamentou a falta de ações do governo paulista para ampliar a competitividade das empresas, apesar de o Estado oferecer muitas vantagens do ponto de vista logístico, como a proximidades com rodovias, Rodoanel e o porto de Santos, além de boa parte da cadeia de autopeças estar situada em São Paulo, especialmente no Grande ABC.