São Paulo – A indústria de motocicletas da América do Sul vive momento de franca expansão, com projeção de 3,3 milhões de unidades vendidas este ano, o que representará, se alcançado, acréscimo de 23% com relação às 2,7 milhões de unidades de 2021, volume similar ao obtido em 2019. Agora o Brasil busca ampliar participação no segmento de duas rodas de seus países vizinhos.
Se considerarmos que 1,3 milhão de motocicletas serão vendidas para consumidores brasileiros, sobra um mercado potencial de 2 milhões nos demais países sul-americanos. Só que, segundo Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, apenas 4,5% da produção nacional é exportada.
Durante participação no terceiro dia do 4º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora até sexta-feira, 19, Fermanian citou que apesar da vontade de expandir presença na América do Sul existem dois pontos que jogam contra, embora o Brasil exporte suas motos para 34 países e a projeção seja de enviar 56 mil unidades ao Exterior em 2022, incremento de 6% ante o ano passado.
Um deles é o fato de que as legislações de emissões de poluentes nos países sul-americanos são completamente desarmônicas. Por exemplo: o Brasil segue o Promot M4 hoje, equivalente ao Euro 4, e a partir do ano que vem se equiparará à regulação da União Europeia, que segue o Promot M5, equivalente ao Euro 5, Enquanto isso Chile e Colômbia estão no Promot M3 e apenas a legislação chilena planeja avançar ao Promot M4, mas somente em 2024.
Ainda assim a Colômbia desbancou a Argentina nas vendas de janeiro a julho deste ano e tomou o posto de principal parceiro comercial do segmento de duas rodas brasileiro, com 31% das encomendas: em 2020 ela era o terceiro, com 18,3%. A Argentina, que à época detinha 35% das compras, agora caiu para o segundo lugar, com 26,6%. Estados Unidos aparecem na terceira posição com demanda por motos de até 250 cilindradas de lazer e off-road.
Quanto à questão das emissões a Argentina está no Promot M2 e no ano que vem pretende passar a Promot M3 e só em 2026 ao Promot M4. Paraguai e Uruguai não contam com regulação ambiental.
“A América do Sul possui potencial espetacular, mas que hoje é abastecido, majoritariamente, por produtores asiáticos. A briga é bastante desigual se compararmos a concorrência com esses países.”
Ele recordou, por exemplo, que a China, maior fabricante de motos do mundo, com 20,2 milhões de unidades em 2021, possui ganho em escala. Para efeito de comparação o Brasil é o sexto maior, com 1,2 milhão.
Para equilibrar essa questão o presidente da Abraciclo afirmou ser essencial estabelecer negociações, por meio do Mercosul, por exemplo, para acelerar o avanço de políticas de emissões na América do Sul. Internamente a reforma tributária também contaria a favor para pressionar menos os custos de produção.
“Embora tenhamos um grande diferencial, que é a qualidade dos nossos produtos e agilidade em fornecer peças de reposição, temos o desafio da logística, pelo fato de o polo estar em Manaus. Nessa conta entra, também, a necessidade de investimentos para modernizar a produção de motores e adequá-los à legislação de emissões. Sem falar no impacto do custo Brasil, que inibe novos aportes e tira competitividade do nosso produto.”
Isso, complementou Fermanian, apesar de as motos fabricadas no Polo Industrial de Manaus contarem com isenção de IPI e possuírem alta verticalização, o que as deixa menos sujeitas a problemas de fornecimento de componentes, com índice de nacionalização que chega a 90% em modelos de até 160 cilindradas, que respondem por 78,7% do mercado brasileiro.
Por esse motivo, ele acredita, o governo não poderia conceder isenção do imposto de importação para as duas rodas, senão há o risco de produtos similares entrarem no País a custo bem inferior: “Se isso acontecer perderemos postos de trabalho aqui e criaremos vagas na China. Sem falar na qualidade duvidosa dos produtos”.
A seu favor nessa disputa o Brasil conta com motorização flex pois, atualmente, 66% da produção é bicombustível. Trata-se de tecnologia ambientalmente favorável e que pode ser exportada, por exemplo, para a Índia, que tem demonstrado interesse pelo etanol e detém o segundo maior mercado do mundo de duas rodas, com produção de 18,3 milhões de unidades em 2021.