Companhia possui em paralelo projetos com a Embraer e para veículos comerciais
São Paulo – Não vem de hoje o interesse da MSC, Maxion Structural Components, em encontrar maneiras de tornar viável o uso em larga escala da fibra de carbono, utilizada pelas indústrias naval e aeronáutica e presente em veículos esportivos de luxo. Nos últimos seis anos a companhia tem apostado em pesquisas a fim de buscar, até, novas aplicações do material, mais resistente e leve do que o aço.
A MSC está envolvida em dois projetos, em paralelo, que nos próximos dois anos consumirão aporte de pelo menos R$ 1 milhão. A ideia é desenvolver pesquisas e realizar testes utilizando compósitos de fibra de carbono, que é o material combinado com resinas.
Uma das iniciativas é sua parceria com a Embraer e o IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, que possui investimento total de R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 833 mil cabem a ela. O objetivo é, a partir deste mês, iniciar estudos acerca do uso da fibra de carbono para aplicação em iniciativas de mobilidade urbana.
O projeto conta ainda com a parceria da startup Subiter, situada no Parque Tecnológico de São José dos Campos, SP, mesmo local onde está o IPT. De acordo com o diretor global de inovação da MSC, Marco Túlio Ricci, a startup realizará a inspeção nas peças produzidas por infravermelho.
“A proposta é avaliar se a peça foi produzida de forma adequada, se curou durante o tempo certo. A tecnologia deles conseguirá nos ajudar sem ter que fazer um teste destrutivo, quebrar uma peça para ver se ficou boa, ao realizar a inspeção por infravermelho.”
Quanto ao produto final não necessariamente será aplicado em aviões, assinalou Ricci. É possível que seja usado em drones ou, quem sabe, nos carros voadores da Embraer, ou outro tipo de mobilidade urbana. Isto por enquanto é dado mantido sob sigilo.
“Queremos oferecer alternativas de mobilidade urbana a montadoras ou a novos clientes. E mobilidade é um dos focos do nosso negócio.”
Pesados – O outro projeto, que inicia sua segunda fase agora e também tem duração de dois anos, tem como objetivo encontrar soluções de aplicação de compósitos de fibra de carbono para veículos comerciais, projetando, simulando e produzindo peças estruturais.
O acordo surgiu por meio de parceria da Embrapii com a Cornet, plataforma para pesquisa colaborativa internacional coordenada pela Alemanha. Essa segunda etapa consumirá valor total de R$ 3,5 milhões mas, nesse projeto, a empresa pediu que sua parcela de investimento não fosse aberta.
Tudo começou em 2016, quando a fabricante de componentes estruturais iniciou os estudos. A primeira fase implicou a realização de trabalhos de estamparia e, agora, será a vez da usinagem: “Tomamos como base peças que fabricamos há muito tempo e fizemos exemplares em fibra de carbono para compará-los e, então, compreender como esse material se comporta. De lá para cá o tipo do material utilizado também evoluiu. Testamos outros compósitos”.
Ricci estimou que, dependendo da aplicação, o peso se reduz pela metade, podendo diminuir até 80%, em comparação ao aço. Como consequência há o menor consumo de combustível e de energia elétrica e, no caso de veículos movidos a bateria, é possível obter uma maior autonomia.
Outro ganho é a maior resistência em comparação ao aço. Mas o executivo pontuou que isso não vale para qualquer peça, pois depende da aplicação. Além disso, com o menor peso obtido a partir da fibra de carbono, o atrito com o solo diminui e, consequentemente, há um menor desgaste e o aumento da vida útil do produto.
Mas o custo ainda é um desafio, e a MSC quer ser competitiva, por isso também a necessidade de tanta pesquisa envolvida: “O grande diferencial do nosso projeto será reduzir o custo de processamento. Se considerarmos veículos comerciais, uma produção de 4 mil peças por ano é um volume que consideramos razoável para esse tipo de material. Enquanto que um processo produtivo tradicional alcança centenas de peças no mesmo período.”
Quanto ao fornecimento de fibra de carbono, existem alguns fabricantes no Brasil e no Exterior. No entanto a tendência é que haja aumento do número de players conforme esse mercado for recebendo investimentos e se desenvolver.
Ricci disse que, por enquanto, não há protótipos, mas que a ideia é que ao longo de uma década consigam prover soluções que atendam às novas necessidades de mercado.