São Paulo – Muito se fala sobre a importância de se colocar em prática a agenda ESG dentro das empresas, e o setor automotivo não é exceção. No entanto, além da responsabilidade ambiental e da governança corporativa, incluídas na sigla, o social tem papel de destaque que não pode ser negligenciado. Até porque é nele que se concentram os empregos gerados pelas atividades produtivas e também são eles os potenciais consumidores.
No caso da cadeia automobilística, na qual trabalham 1,2 milhão de profissionais, uma transição mais acelerada poderia colocar boa parte desses postos em risco. Além disso é preciso apostar em uma tecnologia que disponha de infraestrutura e de acesso à população para que possa ser disseminada.
Essa foi a análise feita por Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, durante a abertura do Seminário Brasil Elétrico+ESG, realizado pela AutoData Editora, de forma online, em 29 e 30 de novembro.
“Não dizemos não à eletrificação, até porque ela já é presente e também está no futuro da mobilidade, mas temos algumas opções a mais com características verdes que nos permitem fazer uma transição mais lenta.”
Ele ponderou que é preciso que a eletrificação venha combinada com a sigla ESG como um todo, com a mesma veemência que para as questões ambientais:
“A eletrificação custa dinheiro, e a população já tem dificuldade para comprar seu carro a combustão, imagine o elétrico. Não adianta criar tecnologia para descarbonizar e, por outro lado, criar um rombo no S do ESG, que é o social. Além dos 1,2 milhão de empregos no setor temos pelo menos quinhentas empresas que fornecem direto às montadoras e que possuem capacidade global, geram trabalho e conhecimento, e que seriam ameaçadas por uma transição apressada. Vale lembrar que um carro elétrico tem, em média, 3 mil componentes a menos”.
O executivo lembrou que em países como os Estados Unidos é oferecido benefício de US$ 7,5 mil para a aquisição de cada veículo movido a bateria, mas que isso acontece por falta de alternativas de combustíveis limpos como os que temos por aqui.
“Na conversão em reais dá cerca de R$ 40 mil por carro. É ilusão pensar que teríamos este incentivo. E esse dinheiro poderia ser muito melhor empregado em pesquisa e desenvolvimento, para fortalecer a cadeia automotiva. Por isso é que não existe uma fórmula única. É preciso pensar as características de cada região para avançar no ESG.”
Para Lima Leite o que faz sentido no momento é acelerar a oferta de biocombustíveis, inclusive o etanol, e o estímulo à renovação de frota, uma vez que veículos antigos emitem 23 vezes mais poluentes do que novos. Ele também acredita na célula de combustível como uma opção futura bastante relevante para a indústria no processo de descarbonização.
O Brasil tem outros dois pontos de atenção que contribuem para o aumento das emissões dos gases de efeito estufa, que são o desmatamento e o maior rebanho do mundo, citou o presidente da Anfavea: “Nossas emissões cairiam pela metade, entretanto, ao colocar em prática a renovação da frota aliada ao uso mais intenso do etanol”.