São Paulo – Esquenta a disputa pela conhecida last mile, o último trecho percorrido por um cidadão em sua jornada de locomoção nas grandes cidades. Primeiro vieram os aplicativos que facilitaram a vida na hora de pedir um taxi, conectando os motoristas aos clientes. Depois a Uber e os demais apps de locomoção criaram mais opções e baratearam o serviço, não sem antes passar por batalhas judiciais e regulamentares. Pouco antes da pandemia as bicicletas, elétricas ou convencionais, e patinetes elétricos se espalharam por São Paulo – e da mesma forma sumiram, após a principal empresa, a Grow, uma junção da Yellow das bicicletas com a Grin dos patinetes, quebrar e deixar centenas de funcionários sem receber seus direitos trabalhistas.
Começou a operar ao público geral, após alguns meses fechada para convidados, a Awto, startup de origem chilena de mobilidade que disputa este mesmo público que busca mobilidade a baixo custo. Seu modelo de negócio é uma mescla dos aplicativos de transporte com os de patinete: no caso o usuário loca um carro, por minutos, horas ou dias, e pode deixa-lo estacionado em qualquer lugar, desde que dentro do campo de atuação.
O serviço funciona em Santiago e Viña del Mar, no Chile, desde 2016. Lá, garante seu CEO, Francisco Loehnert, já é lucrativa e tem como seus principais investidores o grupo concessionário Kaufmann, um dos maiores distribuidores Mercedes-Benz da América do Sul. Parte dos R$ 30 milhões aportados no Brasil nesta fase inicial, inclusive, vem deles.
“É por São Paulo que começará a expansão territorial da Awto”, disse Leonardo Bieberbach, seu CEO local. “Começamos a desenhar o projeto em meados de 2019, que visa a alcançar a América Latina. Escolhemos a Capital paulista pelo seu protagonismo econômico.”
Seu primeiro campo de atuação abrange basicamente a Zona Oeste da cidade. Nela o cliente pega o carro e estaciona em qualquer lugar, desde que permitido. Alguns estacionamentos credenciados fora deste perímetro também permitem que se deixe ou retire o automóvel, bem como o Aeroporto Internacional de Guarulhos, sempre usado como exemplo pelos seus diretores: é mais barato ir de Awto do que de Uber ou 99, relatam: “E basta deixar o carro estacionado em qualquer uma das garagens dos terminais”.
A falta de carros disponíveis reduziu o tamanho da operação inicial. Bieberbach estima ter até o fim do ano 150 automóveis, sedãs, SUVs e utilitários, e duzentas motocicletas elétricas na frota. Em um ano pretende crescer para 1 mil.
O Awto é dividido em categorias: você pode alugar um sedã, que tem um preço, um SUV e um utilitário, como os Fiat Fiorino, para cargas. Motocicletas elétricas e até carros híbridos compõem as categorias: no caso do híbrido uma parceria com a Kia garantirá até quarenta Stonic à frota nas próximas semanas.
Escolhido seu veículo basta procurar, no mapa, onde há algum disponível. Para entrar no carro basta destravar no aplicativo e pegar a chave dentro do porta-luvas. Dada a partida, a corrida inicia e só termina quando for encerrada no próprio app.
Por trás disso há uma operação complexa, que monitora por 24 horas todos os carros da plataforma. Nas primeiras horas do dia funcionários da Awto saem pela cidade para fazer a reorganização dos veículos, com base nos monitoramentos feitos nos dias anteriores – se há mais demanda em um bairro pela manhã, por exemplo, mais carros são enviados para lá. O abastecimento também é feito, preferencialmente, nestes horários.
Diante dos exemplos do passado, em que as empresas de bicicleta e patinetes não conseguiram sobreviver com a operação, é saber se a Awto será lucrativa por aqui, como seu CEO garante ser no Chile. E ele acredita, claro, que também será no Brasil. Seus carros são todos próprios e há uma oficina central para a manutenção. As tarifas são feitas por meio de cálculos que tornam viável o retorno do investimento. No Chile são 200 mil os usuários inscritos. A ideia, aqui, é chegar rapidamente nisto: “E passaremos também”.