GriGo vai em busca de aporte de R$ 30 milhões para quintuplicar receita
São Paulo – A despeito dos inúmeros reveses da pandemia o período que deixou muita gente isolada socialmente despertou ideias de negócios visando a facilitar a vida de quem precisava continuar rodando e demandando manutenção de seus veículos, caso dos caminhoneiros.
Foi então que a GriGo começou a dar seus primeiros passos, em novembro de 2020. À frente da startup de nome grego, que significa agilidade, o engenheiro mecânico Luís Marques, com mais de duas décadas de experiência no setor de autopeças, sendo cinco no mercado de reposição, começou a vislumbrar uma plataforma online de negócios que faria a ponte dos proprietários de caminhões com os mecânicos e os fornecedores de componentes.
“O modelo de negócios praticado no País, até então, era exatamente o mesmo que se tinha cinquenta anos atrás. E quem lidera esse mercado não enxergava que poderia haver uma revolução digital para esse segmento. Foi quando pensamos: vamos liderar essa transição.”
Segundo o empresário, diante de uma frota envelhecida de caminhões e, ao mesmo tempo, bastante diversa, outra dificuldade é identificar a peça correta para o veículo, processo que, se feito com o umbigo no balcão a partir da consulta em catálogos, pode levar de três a sete dias até que o veículo volte a rodar.
Enquanto que por meio do balcão virtual de peças diesel o envio é expresso, sendo que nas regiões metropolitanas de São Paulo e Curitiba, PR, onde há bases físicas da startup, a entrega ocorre em até quatro horas.
Como funciona o comércio online?
Ao digitar a placa do veículo extrai-se do sistema da GriGo todas as peças disponíveis para ele. Segundo Marques existem atualmente 30 mil itens, listados a partir de duzentos fornecedores. Fora do site, entretanto, há mais de 100 mil produtos disponíveis.
O sistema da startup é integrado ao desses fornecedores e os que não conseguem atualizar por este meio enviam sua lista por Excel ou mesmo por telefone, o que é incluído na plataforma pela equipe da empresa.
“Fazemos de tudo para que o cliente consiga encontrar tudo em um só lugar e com o menor tempo possível”, disse Marques. “E trata-se de um trabalho contínuo dada a diversidade de veículos e a idade avançada da maior parte. Para se ter ideia um dos pedidos mais recorrentes é de peças para o caminhão Mercedes-Benz 1113, da década de 1970.”
Como Marques reforçou ninguém compra porque se apaixonou pelo amortecedor, mas porque seu caminhão está parado e, além de ter o gasto para adquirir o item, ainda tem a redução da receita por não poder trabalhar enquanto a situação perdurar, ônus que só cresce quanto mais demora a obter o produto.
O desafio de convencer o caminhoneiro a comprar online
“O cliente também não está preparado para ser 100% digital, principalmente aqueles acima de 40 anos. Mas a terceira geração, composta por jovens, já é mais habituada a isto.”
Diante disto a GriGo vê a necessidade de estar no omnichannel para atender o cliente, sanar dúvidas e fechar vendas por WhatsApp, telefone, lojas físicas em Osasco, SP, onde está sediada, e em Curitiba, e em campo, em frotistas e oficinas mecânicas.
“Venda automática, em que o cliente entra no site e compra sem falar com ninguém, representa hoje 5%. Porcentual que vai a 20% com as vendas por meio do WhatsApp. Os 80% restantes são por meio do trabalho de vendedores internos em oficinas e frotas. Temos uma longa jornada para digitalizar tudo.”
A GriGo se divulga também por meio do Mercado Livre, que é porta de entrada para a plataforma. A primeira compra geralmente é por ali pela segurança que o espaço embute, ainda que os valores tenham diferença em torno de 15%.
Nos últimos três meses foram atendidos 5 mil consumidores, ao todo, de autônomos a grandes frotistas. O que dá uma média de cem pedidos por dia. O plano é chegar a quinhentos até o fim do ano.
O objetivo também não é apenas ter mais clientes como fidelizá-los. Se antes eles compravam 10% na GriGo hoje compram 20%. E a expectativa é ter três vezes mais clientes do que hoje nesse mesmo período.
Suporte para atingir as projeções
Em agosto de 2021 a GriGo conseguiu seu primeiro aporte, por meio do investimento anjo, de R$ 1,6 milhão, recurso de dois fundos de venture capital brasileiros, Indie Capital e Evergreen. Marques lembrou que, a partir de então, foi possível montar a plataforma e investir tanto em tecnologia como em pessoal.
Agora a startup está pleiteando aporte de R$ 30 milhões, em uma segunda rodada de investimento, para expandir o sistema, desenvolver robusto plano de marketing digital e converter tráfego na página: “Hoje temos 1,5 mil acessos por dia e quase 2 milhões de impressões pelo Google por mês”.
A partir do momento que conseguirem o investimento seed, ou semente, o planejamento inclui ampliar também suas bases físicas, locais em que são feitas a consolidação e a entrega de materiais – e que, consequentemente, tornam possível a entrega em até quatro horas em mais localidades.
Dois anos após a obtenção do aporte a ideia é abrir vinte pontos, sendo que o próximo passo é estabelecer base em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG.
Para atender a essas vinte bases projetadas até 2025 o número de fornecedores integrantes do sistema da GriGo chegará a 2 mil. Hoje a startup possui dezoito funcionários diretos e fazem parte dos planos em um ano chegar a oitenta e, em dois anos, a 135.
Quanto à receita, hoje acima de R$ 1 milhão por mês, até o fim de 2023 a expectativa é quintuplica-la.
Chancela de consultoria multinacional
A Grant Thornton criou um polo para ajudar a desenvolver doze startups que oferecem soluções inovadoras e de alta eficiência no mercado, em estágio de desenvolvimento e investimento, e que necessitem aprimorar sua estratégia, expandir para novos mercados e fortalecer seu ambiente de governança. E a GriGo foi uma das escolhidas para participar da primeira edição do programa, que tem duração de um ano.
“Vemos a consultoria como uma chancela muito grande para nos tornarmos uma grande empresa. É um fast track, um passe rápido para que a gente consiga, junto com o investimento, acelerar o negócio de maneira estruturada.”
Marques contou que a monitoria começou há cerca de um mês e que a startup tem acesso a assuntos de domínio dos sócios da consultoria, por exemplo, da área tributária, e que eles poderão contar com as mais variadas e qualificadas orientações.