São Paulo – “Não existe empresa rica em país pobre”. Esta foi uma frase bem apropriada da diretora de comunicação e sustentabilidade da Toyota para América Latina e Caribe, Vivane Mansi, ao abrir sua fala no painel A Relevância Do ESG e a Aversão ao Greenwashing, durante o Seminário Megatendências 2023 – O Novo Brasil, organizado pela AutoData Editora.
Fernando Martins, presidente do Sindicato da Indústria de Parafusos e diretor superintendente da Continental Parafusos, trouxe ao debate a apresentação de um case sobre o aumento das importações de parafusos automotivos a partir de 2012: se antes o país produzia 70% do componente, essa relação é inversa hoje com a localização de apenas 30% de parafusos.
“Há indícios de greenwashing: o Brasil pode fornecer o componente a US$ 5 o quilo, e os preços importados são maiores, o triplo do valor. É um caso de transferência de margens. Por que compramos tanto e tão caro de fora?”.
Decisões tomadas pelo fator econômico-financeiro, tributação caótica e escassez de matérias-primas, dentre outras causas, levaram a enfraquecer o mercado nacional e gerar gastos indiretos na importação de componentes sem agregar valor local.
Uma das questões em governança e competitividade é a necessidade de previsibilidade, ainda mais em uma indústria que modula produtos com seis a oito anos de antecedência, segundo Mansi: “Sabendo o que vai ocorrer lá na frente, é possível buscar caminhos que dê condições competitivas e isso gera um mercado saudável”.
Por isso, a diretora da Toyota acredita que o ESG precisa estar na capacidade da empresa em operar. Quando se discute a eletrificação, a Toyota está consolidada no segmento de eletrificados, na maioria híbridos. “O perigo disso é polarizar: as soluções vão conviver por conta de uma série de dimensões do mercado. O híbrido flex é uma solução para o mercado brasileiro. Entendemos que é preciso fazer a ponte com novas tecnologias e o país precisa estar preparado para elas”.
O ESG não é o futuro, mas o presente, defendeu Márcio Trujillo, presidente da Trufer. Mas em sua avaliação, falta debate. No caso da eletrificação, se for considerar todo o processo e composição do carro elétrico, ele é mais poluente do que um carro a combustão. “Hoje temos mais debates de algo que deveríamos ter pensado antes de levantar bandeira”.
A Trufer é uma empresa de reciclagem de sucata ferrosa, que após passar por processos, traz o produto de volta ao ciclo para várias indústrias. “Isso é sustentabilidade pura. Quando a gente discute emissão de carbono na vida útil de um veículo, de 40 a 60 toneladas, a gente desconsidera que a cada tonelada de sucata que a gente recicla há uma economia mais de 2 toneladas de emissão de carbono no processo. Se um carro utilizar um aço reciclado, ele vai poluir menos. Mas não debatemos nem temos a consciência de consumo. Ao importar parafusos só se pensa em dinheiro. Não é só pensar no valor, mas no todo”.
Os desafios passam por decisões que diferenciam o local do global, explica a diretora da Toyota. “O Japão tem várias indústrias automotivas, só que apenas 22% da matriz elétrica limpa. Fazer um carro elétrico lá, à base de carvão, é tirar o problema de um lugar e colocar em outro. Faço um motor limpo e coloco ele numa tomada de energia suja. Então o carro a bateria no Japão não deveria ser a tecnologia que prevalece”.
A tecnologia híbrida flex emite 70% menos de CO2 com etanol. Então, o potencial de redução hoje é mais eficiente do que qualquer outra solução no mundo. “E é brasileira.”
E de que forma o ESG pode ajudar a desenvolver o Brasil? Trujillo, da Trufer, sugeriu que as empresas devem trabalhar suas governanças e decidir mais pelo critério do que pelo preço. “Quando participo de uma concorrência, sou atendido pelo departamento de compras improdutivo, quando esse tema deveria ser tratado como ESG, por pessoas especializadas que façam essa análise, se eu estou destinando corretamente o material ou se meu processo está de forma adequada. Temos pouco acesso”.
Por fim, Mansi explica que a Toyota integrou as áreas que têm a ver com ESG, junto com a comunicação, com um efetivo de 60 pessoas, que também trabalham em compras, para estarem alinhados.
“Precisamos trabalhar presente e futuro. Quando conseguimos olhar benefícios ao longo da cadeia, será nossa linguagem de negócios. Criamos ainda área de Inovação Social, que olha para footprint e economia circular. Nosso desafio ESG é como entrego na governança, soluções de meio ambiente que impulsionem as áreas sociais, a geração de emprego e criação de valor. Se fizermos isso junto, teremos respostas mais imediatas, que é o que o Brasil precisa.”