São Paulo – Por dois ou três meses, a partir de maio, a Mercedes-Benz adotará turno único de produção de caminhões em São Bernardo do Campo, SP. Cerca de 2 mil trabalhadores que hoje operam no segundo turno serão afetados, mas a ferramenta de flexibilização adotada ainda está em discussão pela empresa com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que manterão conversas ao longo de abril para definir se os profissionais serão realocados em outros setores ou se ficarão em casa por meio do lay-off ou de férias coletivas, por exemplo.
Segundo a Mercedes-Benz no começo deste ano já era prevista queda no mercado interno de veículos comerciais pesados por causa da entrada em vigor da nova fase da legislação ambiental, o Euro 6, o que encareceu os preços dos caminhões em 20% a 30%. O que a companhia não contava era com o adicional do cenário macroeconômico:
“No decorrer do primeiro trimestre, em razão de juros elevados e de dificuldades na concessão de financiamentos, observou-se uma demanda ainda menor do que a esperada para este ano”.
Por este motivo a Scania, que mantém fábrica na mesma cidade, no fim de março igualmente decidiu concentrar a produção de caminhões em um só turno. Contratos de trabalho que venceriam este mês foram encerrados mas seu número não foi divulgado.
Na Mercedes-Benz duzentos contratos temporários que venceriam em abril até o momento não foram encerrados.
A empresa ainda concede, de 3 de abril a 2 de maio, férias coletivas parciais a colaboradores das fábricas de São Bernardo e de Juiz de Fora, MG, além de semanas reduzidas de trabalho conforme necessidades das áreas.
“Todas essas alternativas estão sendo negociadas previamente com total transparência junto aos sindicatos dos trabalhadores, com o objetivo de buscar formas de gerenciar a queda de demanda e manter o nível de emprego.”
O diretor executivo do sindicato, Aroaldo Oliveira da Silva, confirmou que a entidade está em processo de negociação com a empresa a fim de avaliar as medidas possíveis e necessárias. E defendeu ser urgente a abertura novas modalidades de financiamento do BNDES, assim como a redução da taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, para que haja a retomada do setor:
“Nossa taxa é a segunda maior do mundo. Os juros altos prejudicam o crescimento, impedem a melhoria da produção e a geração de empregos, com efeitos nocivos no setor de caminhões e autopeças”.
Na fábrica do ABC trezentos operários estão em férias coletivas. A Mercedes-Benz emprega cerca de 8 mil trabalhadores na unidade, em torno de 6 mil no chão de fábrica.
Juros nas alturas dificultam compra
Segundo dados da Anef, Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras, analisados pela subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, houve redução da participação do BNDES Finame em caminhões e ônibus e aumento dos financiamentos de mercado.
Em 2016 o Finame era responsável por 62% das modalidades de pagamento. No terceiro trimestre de 2022 recuou para 28%, ao passo que os empréstimos bancários saíram de 17% em 2016 para 40% no período analisado no ano passado.
Em dezembro do ano passado a taxa de juros no mercado para aquisição de veículos ao ano chegou a 28,71%, a maior já registrada nos últimos anos.