São Paulo – Diante da menor demanda por caminhões a Scania decidiu enxugar sua estrutura e concentrar a produção em apenas um turno em sua fábrica de São Bernardo do Campo, SP. Como a empresa confirmou para a AutoData na quinta-feira, 23, os contratos de trabalhos de funcionários temporários com vencimento em abril não serão renovados.
Nem a empresa nem o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informaram o número de contratos encerrados. A entidade, no entanto, afirmou que cerca de duzentos profissionais trabalhavam no segundo turno da produção de caminhões, que foi suspenso há cerca de quinze dias – e alguns profissionais foram realocados para outras áreas:
“Conforme informado a Scania está ajustando o seu ritmo de produção à demanda de mercado”, afirmou nota divulgada pela empresa na segunda-feira, 27. “Com isto suas linhas de montagem – motores, chassis, cabinas e transmissão – passam a operar em um turno.”
A companhia destacou que as linhas de usinagem continuam com o segundo e o terceiro turnos, com o foco de exportar componentes para a Europa. Em torno de 35% da produção, hoje, são enviados para outros países, um porcentual que já chegou a 70%.
Crédito escasso e caro dificulta aquisição dos veículos
A venda de caminhões tem sido prejudicada pelo cenário de juros em alta, crédito escasso e, ao mesmo tempo, economia desaquecida, o que reduz a procura por caminhões para o transporte de mercadorias, contexto agravado pela mudança de motorização para o Euro 6, que elevou os preços de 20% a 30%.
O vice-presidente do sindicato, e representante na Scania, Carlos Caramelo, afirmou que o turno adicional “já estava em processo de findar”, devido ao contexto macroeconômico:
“O contrato de trabalho é condicionado ao volume de produção e, diante da dificuldade para se financiar a compra de um caminhão 0 KM, do PIB que está engatinhando desde o último trimestre do ano passado e da entrada em vigor do Euro 6, que encareceu o produto, houve um acúmulo de fatores que desestimulam a procura”.
De acordo com ele, no caso da Scania, que foca o segmento de pesados e cuja boa parte dos caminhões é utilizada nos setores de agronegócio e mineração, os valores são mais elevados devido ao porte e à capacidade de carga que os veículos possuem, o que dificulta ainda mais a compra.
“Considerando um caminhão que custe R$ 1 milhão com implemento, se não tiver frete ou o valor não compensar, não tem como pagar por ele. Com esses juros fica muito complicado.”
A Selic, desde agosto do ano passado no patamar de 13,75% ao ano, deverá continuar nas alturas ao longo do primeiro semestre, com possibilidades de ter leve redução apenas no fim do ano, de acordo com a expectativa de economistas.
O sindicalista assinalou que dos cerca de 4,5 mil empregados da fábrica de São Bernardo em torno de 3 mil operam, hoje, no chão de fábrica. Disse, no entanto, não saber exatamente quantos contratos de trabalho serão encerrados no mês que vem.