São Paulo – Em meio a ciclo de investimentos iniciado em 2018 e que será concluído em 2025, de R$ 16 bilhões, e outro, com execução agendada para 2026 a 2030, cujo valor não foi divulgado – mas que, é sabido, será o maior valor já aportado pela empresa – a Stellantis tem, dentre três pilares de seu plano estratégfico, a nacionalização do desenvolvimento e da produção de componentes, incentivando soluções de propulsão que combinem etanol e eletrificação.
Segundo Juliano Almeida, vice-presidente de compras e supply chain da Stellantis na América do Sul, afirmou durante o 4º Encontro da Indústria de Autopeças, realizado pelo Sindipeças na segunda-feira, 24, no São Paulo Expo, com os marcos regulatórios na região, onde têm sido exigidos níveis cada vez maiores de automação e conectividade dos veículos fabricados localmente, amplia-se o leque oportunidades para toda a cadeia.
No caso da segurança veicular, e de itens que a partir de determinados períodos serão obrigatórios, abre-se a possibilidade de localizá-los, uma vez que boa parte é importada. Almeida apresentou projeção de que, a partir de 2025, o nível de consumo atingirá 1 milhão de componentes, hoje importados.
Ele observou que o consumidor passa a ser mais exigente, tendo demanda muito maior por transmissões automáticas, por exemplo. “O que passa, também, a ser oportunidade de localização e de novos negócios”.
Almeida ponderou que isto depende de um volume mínimo porque o custo do componente ainda é muito elevado e, mesmo que nacionalizado, com a quantidade atual, o preço seria alto: “São necessárias cerca de 600 mil unidades por ano e, hoje, no setor, há cerca de 400 mil unidades”.
Equivale a um aumento de 50% no total de transmissões automáticas consumidas atualmente no mercado brasileiro: “Trata-se de uma tendência natural, uma vez que projetamos para a região volume de 4 a 5 milhões de unidades até 2028 ou 2029”.
Almeida disse que as montadoras estão conversando e cogitando parcerias para acelerar o processo: “Precisamos ter um produto similar para que possamos, nas novas aplicações, adotar o mesmo conceito. Tendo isso e atraindo um fornecedor conseguimos consolidar a nacionalização”.
A Stellantis tem montagem de transmissão na Europa e nos Estados Unidos e uma das opções seria fazer a localização dentro da própria companhia. Mas, mesmo assim, é preciso um volume mínimo. O valor, segundo ele, teria de ser 20% menor para valer a pena.
“O custo de trazer componente importado para cá é muito alto, pois trago dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. O produto montado é pesado e uma base de ar é transportada junto. Se conseguisse localizar com o mesmo preço dessas regiões estaria ótimo, porque eliminaria os gastos com logística, e tiraria no mínimo 20% a 25% do preço, ainda que tivesse algumas peças importadas.”
Capacidade ociosa das montadoras chega a 47%
Embora a indústria automobilística tenha realizado ou programado investimentos da ordem de R$ 105 bilhões de 2014 a 2028, conforme dados da Anfavea, a ociosidade do setor está em 47%, considerando a capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos.
De acordo com Henrique Araújo, diretor de relações institucionais e governamentais da Volkswagen, significa dizer que hoje os emplacamentos são 43% menores do que em 2012, recorde anterior: “E foi neste ambiente que inovamos. Em oito anos o tempo de produção foi reduzido em 25% com a ampliação do nível de automação de 50% para 70%”.
O período para o desenvolvimento diminuiu nove meses na construção de protótipos. As simulações de ergonomia, que demoravam 22 horas, ele disse, hoje são feitas em 30 segundos. E é possível fazer ajustes no processo quatro anos antes do primeiro protótipo.
Araújo assinalou, ainda, que o Brasil é um dos poucos países do mundo que detém a capacidade de desenvolver um veículo do início ao fim, do design ao controle de emissões. Citando como exemplo a Volkswagen a unidade brasileira é a única com autorização para fazer esse processo todo, além da matriz.