São Paulo – “Vamos continuar dando notícias de paralisações de fábricas ou coisas piores se os juros continuarem elevados”, afirmou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, durante a entrevista coletiva de divulgação dos resultados de abril e do primeiro quadrimestre, na segunda-feira, 8. Ele respondia a questionamentos de jornalistas acerca da taxa Selic, que, na semana passada, mais uma vez foi mantida a 13,75%.
Em abril foram nove as paralisações de fábricas, que derrubaram a produção de veículos no mês. As paradas continuam em maio e já têm novos agendamentos para junho. A cadeia de fornecedores começou a sentir o efeito e lança mão de artifícios para adequar sua produção à nova realidade do mercado, que está travado por causa do financiamento caro, na opinião do executivo: “Essa taxa é incompatível com o crescimento da indústria e com a geração de empregos. Se é compatível com combate à inflação ou outros mecanismos é outra história”.
Lima Leite, que integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, pede que alternativas para não gerar desemprego ou baixa na produção sejam pensadas pelo governo. Ele contou que, embora a Anfavea não esteja ativa na discussão a respeito do carro verde de entrada, há a intenção do governo de incentivar o aumento da produção de veículos. Na semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, reclamou do preço dos carros, citando modelos de entrada por R$ 90 mil.
“A Anfavea não fala de preço e, por enquanto, colabora fornecendo dados e informações para o governo estruturar medidas que possam ajudar a alavancar a produção. Eu seria omisso se dissesse que não sei o que está em discussão a respeito do carro de entrada: são diversos mecanismos, como linhas especiais de financiamento, uso do FGTS para aquisição do carro, redução de tributos, propostas para carros com motor 100% a etanol, redução de margens. Muitas conversas são individuais com representantes de montadoras interessadas. Se isso dará certo, ou não, não sabemos dizer, mas tudo está em discussão e em processo de evolução.”
Na tarde da segunda-feira, 8, Lima Leite tinha reunião agendada com o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, para tratar de temas como linhas especiais de financiamento para caminhões e exportações.
O presidente da Anfavea também falou obre a desfiliação de algumas associadas da Anfavea que estavam na ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Reportagem do jornal O Estado de São Paulo, na semana passada, revelou que Stellantis, Toyota e Renault se desligaram da entidade e que é uma indicação da Anfavea.
“Nós, das montadoras, precisamos nos concentrar em propostas da Anfavea”, disse o executivo, sem criticar a ABVE, que diz considerar uma entidade séria e importante para, dentre outras coisas, colaborar com o aumento da estrutura de carregamento para elétricos. “Política industrial tem que ser discutida com quem faz investimento.”