Campinas, SP – A Bosch traçou como meta superar os R$ 20 bilhões em faturamento na América Latina até 2030, o que significa dobrar os R$ 10,3 bilhões de receitas apurados no ano passado, um incremento de 11,5% sobre o resultado de 2021. Aposta na localização da produção de sistemas e componentes automotivos, na ampliação dos negócios na área de ferramentas e, sobretudo, no desenvolvimento local de softwares.
É quando fala de software que seu presidente, Gaston Dias Perez, demonstra mais empolgação. Na visão do executivo, nascido na Argentina, a região tem enorme potencial para tornar-se um polo global de desenvolvimento: “Todo o mundo está precisando, demandando este tipo de serviço. E nós temos mão-de-obra boa e barata, que pode muito bem desenvolver projetos lá para fora”.
A conta fecha, segundo ele, quando pensa de forma global, na exportação destes serviços. A Bosch e seus parceiros no Exterior estão demandando cada vez mais desenvolvimento de softwares devido à própria evolução do automóvel, que tem se tornado uma espécie de computador sobre rodas: “Até 2030, 2035, 50% do valor do automóvel será software. Não devemos pensar apenas nas peças, que são importantes também, mas podemos tornar o Brasil um polo desenvolvedor de software”.
Nas contas de Perez as receitas com software podem representar 10% dos R$ 20 bilhões projetados para 2030 – hoje, segundo ele, a participação é muito baixa. Para alavancar este desenvolvimento a Bosch investirá, este ano, R$ 940 milhões em P&D, digitalização e novos maquinários. Parte deste aporte está direcionado à Digital Talent Academy, uma parceria com o Senai que tem como objetivo capacitar jovens de 16 a 19 anos para serem desenvolvedores.
Selecionados por meio de processo tocado pelo Senai os jovens ingressam em um curso técnico, em Campinas, SP, com módulos de digitalização, automação inteligente, desenvolvimento de software, inteligência artificial e análise de dados, que inclui bolsa-auxílio e aulas de inglês. Até o fim do ano serão duzentos alunos em formação, com expectativa de ampliar para trezentos em 2023 e 1 mil ao longo dos próximos anos, quando espera expandir para outras unidades do Brasil.
“Investimos em torno de 12 mil euro por ano por aluno. É algo social, porque desenvolve sobretudo pessoas de áreas carentes, mas também tem um retorno financeiro planejado. Nossa expectativa é de aderência superior a 90% na companhia, mas claro que dependerá de conseguirmos ganhar os projetos.”
O sonho de Perez é criar uma espécie de fábrica digital em Campinas, com seus programadores convivendo com as linhas de produção de peças, componentes e ferramentas e gerando divisas com o mercado doméstico e de exportação.
Nacionalização segue
Embora a aposta seja nos softwares a Bosch não abrirá mão de seu principal negócio por aqui, o fornecimento à indústria automotiva. A área de mobilidade respondeu por 65% do faturamento global no ano passado, que chegou a 88,2 bilhões de euro.
Perez disse que no ano que vem sistemas de injeção direta de gasolina e componentes para híbridos flex, como as ECUs, começarão a ser produzidos aqui. E já almeja produtos mais sofisticados, como o MPC3, uma câmara central que ajuda a gerenciar sistemas ADAS.
Outro plano, aí fora da indústria automotiva, é ampliar a produção local de ferramentas com e sem fio. A intenção do executivo é que este negócio tenha uma participação mais robusta dentro das receitas do grupo na América Latina.