São Paulo – Com misto de decepção e ansiedade o setor automotivo aguarda pelo prazo de quinze dias a análise do Ministério da Fazenda para um plano de incentivo à indústria. Mas um dos pontos levantados pela Anfavea na Fiesp como uma solução para reduzir o preço dos carros, a possibilidade de venda direta a pessoas físicas, não agradou à Fenabrave. O presidente da entidade que representa os concessionários, José Maurício Andreta Júnior, desconsiderou a extensão desta modalidade de comercialização, que garante preços menores a pessoas jurídicas, locadoras, PcDs e pequenos produtores, às pessoas físicas:
“A venda direta para a pessoa física não existe. Nós temos que vender esse carro na concessionária. É a concessionária, a revenda oficial, que garantirá que ele chegue à mão do consumidor que precisa do veículo, este mesmo consumidor que perdeu o poder de compra nos últimos tempos. É nisto que acreditamos e é por isto que estamos batalhando”.
A declaração foi dada durante a abertura Seminário Negócios Automotivos 2023, realizado pela AutoData de forma online na segunda-feira, 29, e na terça-feira, 30. O dirigente lembrou que as concessionárias realizam não somente a distribuição dos veículos mas, também, respondem pela sua manutenção, o pós-venda.
No evento realizado na sede da Fiesp no Dia da Indústria, 25 de maio, em que o sentimento de frustração predominou por causa das informações vagas divulgadas na ocasião e pelo fato de a redução de PIS/Cofins e IPI para veículos de até R$ 120 mil, a fim de barateá-los de 1,5% e 10,96%, depender do crivo da Fazenda nesse prazo de quinze dias, Andreta Jr. conversou com o ministro Fernando Haddad.
Segundo o presidente da Fenabrave ele disse a Haddad que, diante do desafio de recolocar a pessoa física no mercado, é preciso medida emergencial que envolva retirada parcial de imposto para que o setor ganhe escala – assim tanto a indústria de autopeças como as montadoras, as concessionárias e o consumidor ganham.
“É a mesma situação de um paciente que chega com o coração parado na UTI. Você não vai medir a temperatura dele: vai dar um choque no peito para reanimá-lo.”
Isto tudo sem retirar itens do carro, nos moldes do mercado atual. Andreta Jr., porém, não acredita que o carro popular chegará a R$ 50 mil, mas ao patamar de R$ 60 mil. Para tanto é preciso de crédito, outra dificuldade em meio a cenário de inadimplência crescente em que os bancos têm ampliado a restrição na concessão de empréstimos: “Precisamos de um fundo garantidor. Mas outra questão é como fazer isto”.
Sindipeças não participou de discussão com governo
Diferentemente do que aconteceu com as montadoras, de forma individual, assim como com a Fenabrave e sindicatos, o presidente do Sindipeças, Cláudio Sahad, afirmou que a entidade não foi convocada pelo governo para participar de discussão em torno do tema, referindo-se às reuniões que ocorreram nas semanas que antecederam ao anúncio no Dia da Indústria.
“Isso não quer dizer, entretanto, que não temos nos posicionado a respeito. O governo tem sido bastante sensibilizado pelo Sindipeças e acredito que boa parte das medidas que serão tomadas se deve à argumentação que sustenta nosso pleito.”
Ao destacar a importância da cadeia automotiva, responsável por 25% do processo industrial brasileiro, Sahad insistiu na necessidade de se criar meios para que o consumidor acesse o crédito, o que foi atrapalhado pelo “aumento brutal dos spreads dos financiamentos, que, somado ao incremento do preço dos veículos, criou um binômio que fez com que e as pessoas deixassem de comprar carro 0 KM e migrassem para o usado”.
Sahad lembrou que 85% da frota brasileira é flex, mas ponderou que a maioria dos proprietários desses veículos não abastece com etanol:
“Poderíamos aproveitar este momento para também estimular a sustentabilidade e a questão ambiental. Se o governo criar de uma forma rápida, junto com as medidas de incentivo ao setor, uma maneira de estimular que estes veículos sejam abastecidos com etanol teremos, adicionalmente, melhora substancial na emissão de CO2”.