Startup que faz ponte entre dono do veículo e desmanche já comercializou cinquenta veículos para interessados no programa de descontos do governo e, hoje, possui fila de 1 mil ônibus
São Paulo – A Octa, startup que faz a ponte entre proprietários de veículos depreciados e desmanches legalizados, viu no programa do governo federal de descontos para a compra de veículos 0KM oportunidade de negócio ímpar e não a deixou escapar. Ao solucionar o maior entrave para ter acesso aos abatimentos que vão de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil, que é a destinação de um veículo com idade acima de vinte anos à reciclagem, passou a dobrar de tamanho todos os meses.
Desde que o MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços alterou as regras da iniciativa prevista pela MP 1 175/2023, em julho, flexibilizando-as, passou a ser permitido que cliente que pleiteasse o desconto não fosse o proprietário do caminhão ou ônibus antigo– um dos motivos que estavam atravancando o programa.
Foi o pulo do gato para a Octa, que passou a oferecer no mercado certificados de reciclagem, uma vez que a MP prevê o direito de comercialização desse documento. O fundador e CEO, Arthur Rufino, contou que estreitou relações com a Mercedes-Benz e a Marcopolo, divulgou seus serviços aos clientes das companhias e, em pouco mais de dois meses, foram comercializados cinquenta veículos, dentre unidades de transporte de cargas e passageiros, que geraram aproximadamente R$ 4 milhões em descontos:
“Nós localizamos veículos com mais de vinte anos de idade, endereçamos a um dos 183 centros de desmontagem legalizados, com registro no Detran, que integram nossa plataforma, e comercializamos o certificado a quem deseja comprar um pesado novo com desconto”.
O preço desse certificado, cujo modus operandi se assemelha ao de créditos de carbono, gira em torno de 30% do valor do desconto oferecido pelo governo. Por exemplo, se pelo preço do caminhão novo que o cliente deseja comprar ele obtiver abatimento de R$ 99 mil, o custo da documentação que comprova que um veículo velho foi reciclado será de R$ 33 mil.
“Estamos com uma grande demanda por ônibus”, disse Rufino.
Caso a medida seja prorrogada ou os recursos transferidos para o Renovar, como tem sido aventado nos últimos dias por fontes do setor, a atividade será fortemente impulsionada:
“Temos a missão de encontrar 1 mil ônibus velhos para que outros 1 mil urbanos sejam adquiridos por companhias de transporte coletivo”.
Tanto que Rufino compara a atividade de seus dois marketplaces com a do Mercado Livre, só com uma plataforma específica para este segmento. A inspiração para a atividade veio da família, a partir do conhecimento adquirido com a JR Diesel, empresa que opera no mercado de peças de reposição para caminhões fundada por seu pai 38 anos atrás.
“Estamos discutindo a necessidade de captação de novos investidores para expandir nossa operação. Se os descontos puderem ser aproveitados até o fim, e também contando que o Renovar ganhará forças para começar a tirar pesados velhos das estradas, teremos muito trabalho a fazer.”
O crescimento da startup se calca também no potencial de mercado de R$ 40 bilhões descortinado pela Lei do Desmanche, que embora ainda caminhe a passos lentos, foi impulsionada pela iniciativa do governo de conceder descontos mediante reciclagem de um veículo velho. Atualmente com 25 funcionários, a startup deverá ampliar a equipe para 40 profissionais.
“Precisamos começar a habilitar agentes independentes para identificar veículos elegíveis em diversas partes do País e acelerar o processo de reciclagem deles.”
Rufino assinalou que, caso não haja a extensão do benefício, a perspectiva é a de expandir seu faturamento, cujo valor não é aberto, em 500% frente a 2022. Havendo a prorrogação, no entanto, a projeção é ampliar em dez vezes o tamanho da startup em um intervalo de seis meses. A Octa e o meio ambiente agradecem.