São Paulo – O consumidor precisa correr para as concessionárias: nos cálculos da Anfavea os R$ 500 milhões destinados pelo governo para descontos em automóveis e comerciais leves acabarão em poucas semanas. Segundo o presidente Márcio de Lima Leite a entidade chegou a uma média de R$ 4,5 mil a R$ 5 mil de desconto por carro vendido, o que geraria de 100 mil a 110 mil emplacamentos com o valor reservado.
“Eu gostaria que tudo acabasse em dez dias”, disse, em entrevista coletiva online à imprensa na terça-feira, 6. “Mas deverá durar um mês ou um pouco mais. As empresas estão correndo para atualizar as suas tabelas de preço porque cada dia a menos é uma oportunidade a mais para a sua concorrente.”
Por quinze dias o desconto, que varia de R$ 2 mil a R$ 8 mil, será exclusivo para pessoas físicas. Caso o valor não acabe locadoras e frotistas poderão usufruir dos descontos.
O executivo evitou falar em prorrogação da medida – que, além do valor, vigorará por 120 dias segundo a Medida Provisória 1 175: “É uma medida pontual. O governo sempre ressaltou que tem restrições orçamentárias e a tendência é que os juros comecem a cair e se desenhe um cenário melhor para o setor. Quando acabar o valor, o programa simplesmente acaba. Agora, se o governo achar por bem criar outro programa, em outro momento…”
Na prática o valor destinado pelo governo servirá para desovar os estoques, que fecharam maio em 115 mil unidades somente dos modelos que se enquadram na faixa abaixo de R$ 120 mil. Se a intenção do governo era manter o nível de emprego ou evitar layoffs e férias coletivas, a medida não terá efeito. Ao contrário: General Motors e Renault já anunciaram novas paradas em suas fábricas após acelerar a produção no mês passado.
Lima Leite disse, porém, que as medidas têm potencial de gerar efeito positivo sobre o mercado. “Acaba contaminando positivamente o consumidor, dando maior destaque a este segmento que estava com dificuldades. O legado ficará”.
Não há, também, garantias do governo com relação ao pagamento do crédito tributário que será gerado com os descontos. Embora a indústria tenha a receber R$ 15 bilhões em créditos, referentes a tributos federais e estaduais, o presidente da Anfavea minimizou a possibilidade de calote, porque, segundo ele, não há valor relevante acumulado para o segmento de entrada.
Caminhões e ônibus
No caso dos veículos comerciais pesados os descontos serão concedidos mediante a baixa de um veículo de vinte anos ou mais, em condições de rodagem. O usuário, ou frotista, que quiser um modelo 0 KM, Euro 6, precisará entregar um veículo nestas condições, licenciado e com uso comprovado, para a concessionária, que será a responsável por encaminhá-lo para a reciclagem. A ideia é retirar das ruas caminhões velhos, com menor segurança e mais poluentes.
Como normalmente um frotista não dispõe de veículos tão antigos em sua frota a solução será adquiri-lo no mercado. Após a venda ele receberá o desconto, que deverá ser maior do que o valor pago no modelo usado.
Segundo Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea, ainda não está claro se poderá ser feita a troca de um leve por um médio, ou médio por um pesado: do contrário, porém, para uma categoria inferior, a troca é permitida. Ele disse que a entidade ainda não conseguiu calcular, também, quantos emplacamentos novos poderão ser gerados com as medidas – e, por consequência, quantos veículos velhos serão retirados das ruas e estradas.
“Em uma conta simples os R$ 700 milhões contemplarão de 5 mil a 10 mil caminhões”.
No total foram reservados R$ 700 milhões para o segmento de caminhões e R$ 300 milhões para o de ônibus.
Bonini disse também que toda a responsabilidade da reciclagem, e seus custos eventuais, será da concessionária.