Aporte inclui também aumento de diversificação do volume fabricado em Lontras, SC, melhora da competitividade e ampliação da exportação
São Paulo – A Vedamotors, fabricante de peças para o segmento de duas rodas, optou por verticalizar sua produção ao investir em fábrica de elastômeros, matéria-prima necessária para confeccionar seus itens de borracha. A decisão foi motivada pelo aquecimento do mercado de motocicletas no Brasil, que durante a pandemia expandiu impulsionado, tanto pela maior demanda por serviços de delivery, como pelo fato de ser opção mais acessível de deslocamento a quem buscava alternativa ao transporte público. E, embora tenha havido certa acomodação após o boom, a expectativa de redução de juros e de maior acesso ao crédito animam o setor e a companhia.
Inaugurada na segunda-feira, 27, a fábrica de elastômeros, de 700 m², começou a ser construída em Lontras, SC, em 2022, e entrou em operação há dois meses. Seu principal objetivo é, além de trazer economia ao processo produtivo, promover maior autonomia à empresa para que ela desenvolva suas aplicações.
Ao todo o aporte anunciado pela Vedamotors, que possui 50% de seu capital italiano, como divisão brasileira do Grupo Athena, é de R$ 32 milhões ao longo de três anos, sendo R$ 10 milhões para iniciar a operação da planta de compostos.
A partir da produção desses insumos, que neste período já conseguiu abastecer 30% da necessidade da empresa – o plano é que, até o fim do ano, o suprimento seja total –, será possível ampliar a variedade e a quantidade de itens do portfólio, além de imprimir mais tecnologia às peças.
A linha de bucha da coroa, usada no sistema de transmissão das motos, foi a primeira a incluir a matéria-prima. Este era um dos produtos que apresentava dificuldades com o elastômero terceirizado mas, desde então, apenas no período de dois meses, a marca já passou a ocupar maior espaço no mercado.
Foi o que contou o fundador e presidente da Vedamotors, José Maurício Felippe, ao contextualizar que o elastômero era adquirido de outras empresas para fazer a injeção, compressão e transferência em peças de borracha produzidas pela companhia, como guarnições, retentores, buchas da coroa e tampas de válvulas, por exemplo.
A partir da verticalização é aguardada a melhoria dos custos, consequência de uma maior velocidade no desenvolvimento de compostos, garantia de qualidade e repetibilidade dos insumos, listou Felippe:
“Teremos nossas próprias formulações, é como uma massa de pão. Projetamos, inicialmente, economia de 8% a 12% no primeiro ano, podendo chegar a 18% no terceiro ano. Já conseguimos dobrar o tamanho da produção de insumos nesses dois meses, de 4,5 toneladas para 6 a 7 toneladas, em apenas um turno”.
O plano é chegar a 24 toneladas e, ao estabelecer o segundo turno de produção, a meta é dobrar, para 48 toneladas. Quantidade que deverá atingir 64 toneladas com três turnos, em três anos.
O investimento de R$ 32 milhões, segundo Felippe, não está focado somente na planta de compostos mas implicará, adicionalmente, crescimento no parque fabril de injeção e compressão de peças. Hoje são produzidas pela Vedamotors 120 milhões de peças por ano e, em três anos, a projeção é chegar em 180 milhões, incremento de 50%.
“A verticalização permite velocidade maior de amostras e tipologias diferentes, e nós poderemos ter formulações adequadas aos nossos produtos e aos objetivos de custo de mercado. Teremos a redução do gasto para fabricar nosso produto, pois em alguns casos a margem era muito baixa, até mesmo negativa. Isso nos dará mais competitividade, inclusive, frente aos importados.”
Hoje trabalham na Vedamotors 240 pessoas. Na nova planta de elastômeros estão empregadas vinte pessoas este ano, volume que dobrará para quarenta em 2024 e chegará aos sessenta em 2025, totalizando trezentos funcionários no período.
A nova unidade inclui um laboratório, máquinas e peças específicas, como balanças de precisão, equipamentos de rastreabilidade lote a lote de composto elastomérico e moderno maquinário de pré-formados de alta precisão. Parcela dos equipamentos é nacional e outra parte foi importada da Inglaterra, da Índia e da Alemanha.
“Não temos fabricantes de elastômeros na região do Alto Vale do Itajaí. Nossa planta é uma das mais modernas. Queremos ampliar a competitividade e o fornecimento para indústrias. Hoje as grandes indústrias praticamente exigem a verticalização do processo. E assim o fizemos.”
Vedamotors quer explorar melhor mercado sul-americano
Seus principais clientes são montadoras de motos, fabricantes da linha automotiva, da linha jardim floresta e da linha de compressores e herméticos. Mas a maior demanda da companhia provém do mercado de reposição.
85% da produção seguem para o aftermarket e, deste porcentual, 10% é exportado. Os demais 15% atendem a indústria. Com a fábrica de elastômeros o plano é ampliar para 15% o volume exportado ao explorar melhor destinos da América do Sul, principalmente a Colômbia.
O faturamento líquido da companhia deverá encerrar o ano em R$ 158 milhões, sendo que 90% dessa cifra provêm da indústria de motos. O objetivo, de acordo com Felippe, é obter crescimento anual de dois dígitos, na casa de 10%.
Um dos grandes objetivos da Vedamotors – que possui 80% do mercado nacional de juntas para motos – é tornar-se a maior fabricante nacional de retentores para duas rodas. E, assim, aumentar a receita dessa linha em 50% até 2025, passando de R$ 25 milhões para R$ 37,5 milhões.
Fundada em 1991 a partir de um negócio familiar criado por Felippe e sua esposa, a Vedamotors trabalhava, à época, somente com jogos de juntas de vedação de motor, hoje uma das suas seis linhas de produtos, que fornece também filtros e retentores.
Em 1994 a operação passou por ampliação significativa e, em 1998, houve a união com o Grupo Athena, forte na fabricação de itens para vedação. Foi quando começou a produção efetiva de itens de borracha. Além de agregar tecnologia às linhas de produção, segundo Felippe, este foi um primeiro passo para globalizar a empresa.