Foi o que afirmou Roberto Leoncini, ex-vice-presidente da Mercedes-Benz, ao completar que sem estímulo não haverá a redução da idade média dos veículos nem o avanço expressivo da venda de 0KM
São Paulo – O ano era 2020, a pandemia estava prestes a dar as caras e Roberto Leoncini, que ocupou vice-presidência de vendas, marketing, peças e serviços da Mercedes-Benz até 31 de janeiro, estimava que o mercado brasileiro tinha potencial para comercializar 200 mil caminhões por ano, o dobro do que havia sido registrado em 2019, 101,3 mil unidades. E, da mesma maneira, praticamente duas vezes o volume vendido em 2023, 108 mil caminhões, segundo dados da Anfavea.
“Chegaremos a este número no dia em que tivermos um programa de renovação de frota que pare de pé. Esta é a única maneira de alcançá-lo”, assinalou Leoncini. “Se fizermos conta matemática e fixarmos qual idade média razoável deveríamos aceitar para a frota nacional, ainda que sejam quinze anos, é melhor do que a nossa idade de hoje, de dezoito ou dezenove anos.”
Este estímulo é condição fundamental para que o mercado de 0 KM dobre de tamanho. O executivo acredita que, sem isto, as vendas continuarão somando, no período de um ano, de 120 mil a 140 mil unidades, no máximo, “em uma condição normal de temperatura e de pressão”, pois no cenário atual de juros elevados é mais difícil.
“Caminhão precisa de financiamento na veia. Ninguém compra à vista. É uma ferramenta de trabalho que precisa ter retorno”, disparou. Quando a Selic cair — e a tendência é a de que a taxa básica de juros siga em queda, uma vez que na quarta-feira, 31, recuou a 11,25% ao ano, e a expectativa é a de encerrar 2024 na casa de 9% ao ano — ele acredita que será possível reagir.
Mas, para alcançar o patamar de 200 mil, “só com um programa muito rígido de renovação de frota para tirar de circulação os veículos mais antigos e com um incentivo por trás para que aconteça essa mudança.”
Outro ponto mencionado por Leoncini foi que o valor de revenda dos caminhões no Brasil é “totalmente fora da casinha”, ao exemplificar que um veículo com quinze a vinte anos de idade, “que não deveria valer nada”, é comercializado por valores de R$ 50 mil a R$ 150 mil, dependendo do modelo.
“Como fazer um programa de renovação de frota? O que oferecer para o transportador? Hoje ele opera porque ninguém fala para ele que não pode fazer seu trabalho com esse veículo e, embora o faça de maneira nada econômica e insegura, ele consegue fazer. Por isso é importante oferecer algo para que ele saia do segmento ou mude de patamar, não para um 0 KM, mas para um intermediário.”
Existe o problema adicional da dificuldade em obter crédito para tornar viável essa troca. As instituições costumam alegar o risco dessa operação, pontuou Leoncini, ao propor que, se o transportador já estava trabalhando com o caminhão inferior, com um veículo mais novo ele seguirá exercendo seu ofício, só que com melhores condições.
Pacto solucionará questão, avalia Leoncini
Para mitigar este risco sugeriu que seja feito pacto por todas as partes, uma vez que, segundo ele, o governo não tomará a dianteira deste processo sozinho assim como a indústria não pagará sozinha e menos ainda os bancos.
“Acho que o programa lançado pelo governo no ano passado enroscou nisto, em como oferecer este incentivo para que a renovação da frota caminhe”, analisou o executivo, referindo-se à medida provisória 1 175, que concedeu descontos para a compra de 0 KM, que não impulsionou a venda de pesados apesar dos abatimentos de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil.