São Paulo – Em seu discurso na sexta-feira, 12, durante a cerimônia que marcou a inauguração da nova sede da Anfavea em São Paulo, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recordou dos tempos áureos da indústria, que durante seu segundo governo chegou a produzir mais de 3 milhões de veículos por ano até o recorde de 3,7 milhões de unidades, registrado na primeira gestão da presidenta Dilma Rousseff. Isto aconteceu logo depois de ouvir dos presidentes e CEOs das associadas da Anfavea que mais de R$ 125 bilhões em investimentos estão programados no atual ciclo de renovação da indústria, que almeja alcançar novamente, e superar, este patamar que hoje enxerga do retrovisor do passado.
A indústria automotiva está no centro das discussões e das prioridades do governo. Lula não foi sozinho à posse da Anfavea: estava acompanhado de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, Geraldo Alckmin, do MDIC, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e Ricardo Lewandowski, da Justiça. Uma demonstração de prestígio ao escalar ministros do primeiro escalão para uma inauguração de sede.
O Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, e o NIB, Nova Indústria Brasil, ajudaram a atrair os investimentos anunciados pelo setor, que ouviu a cobrança de Lula: quer de volta o Salão do Automóvel, cuja última edição ocorreu há cinco anos.
“O brasileiro adora o Salão do Automóvel”, disse em seu discurso. “Não é possível que um País do tamanho do Brasil não tenha o seu Salão do Automóvel. Por favor, presidente [da Anfavea, Márcio de Lima Leite]: retomem o Salão do Automóvel!”
O pedido, que soa quase como uma exigência, será atendido, segundo Lima Leite. A jornalistas, após a cerimônia, o presidente da Anfavea admitiu que o retorno do Salão integra a pauta da entidade: “Precisamos mostrar as tecnologias e o potencial da indústria brasileira. Acontecerá, ainda sem data definida por questões de espaço e de logística”.
Na visão do executivo o Salão é importante tanto para posicionar a indústria nacional no palco global, ao expor as tecnologias para mercados em potencial de exportação, como para o consumidor brasileiro. “Existem consumidores que sequer sabem a diferença de um híbrido para um elétrico. A indústria precisa apresentar as novas tecnologias também ao brasileiro”.
A volta ao passado em termos de volume
Para retomar aos 3 milhões de unidades por ano o setor se apoia em dois pilares, ambos em pauta na reunião do fim da semana passada. O primeiro, e mais falado pelo presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, é o mercado externo. As exportações de veículos estão em queda, muito pelo desempenho dos mercados de destino, mas existem mecanismos que podem ajudar a elevar a competitividade do carro made in Brazil.
“O governo está sensível com a questão das exportações”, afirmou Lima Leite. “Queremos mais acordos comerciais, harmonização regulatória e a eliminação dos resquícios tributários. Como comparação o México possui 47 acordos comerciais bilaterais. O Brasil tem menos de dez”.
No outro pilar, as vendas internas, a questão parece estar encaminhada com a queda da taxa básica de juros. O juro elevado foi, na visão de Lima Leite, um dos principais vilões do mercado nos últimos anos, mais do que o preço dos veículos que subiu bastante:
“O preço do carro aumentou porque o custo de produção subiu na pandemia. Mas o carro de entrada, o popular da época do [presidente da República] Itamar [Franco], custaria hoje na faixa dos R$ 80 mil se aplicada a inflação do período, mesmo sem as tecnologias atuais”.
O presidente da Anfavea aposta que a queda da taxa básica de juros, reforçada com a aprovação do marco das garantias que facilita a retomada do bem no caso de inadimplência, ajudará a derrubar o juro do setor automotivo e trará de volta o consumidor que ou saiu do mercado ou migrou para os seminovos. E mira o futuro com o olho no retrovisor:
“O mercado interno voltará a crescer. Nossa expectativa é retornar às 3 milhões de unidades vendidas nos próximos dois anos”.