Com início da produção do SUV-cupê Stellantis completa nacionalização dos três carros do projeto C-Cubed e busca mais fornecedores para a fábrica no Rio de Janeiro
Porto Real, RJ – O início da produção do Citroën Basalt, nesta quarta-feira, 18, encerra ciclo de investimento de R$ 2,5 bilhões da Stellantis no Estado do Rio de Janeiro, aplicados desde 2021 para modernizar e preparar a fábrica para a nacionalização dos carros do projeto C-Cubed, iniciado com o novo hatch C3, lançado em 2022, e o SUV compacto C3 Aircross, introduzido no ano passado.
Mais do que encerrar um ciclo o Basalt, que chega às concessionárias brasileiras agora em outubro, também marca o início de uma próxima fase, com o investimento de R$ 3 bilhões já anunciado para a fábrica de Porto Real no período 2025-2030 – parte do programa de R$ 32 bilhões que a Stellantis destina às suas plantas industriais no Brasil e na Argentina e para o desenvolvimento na América do Sul de quarenta novos produtos, oito powertrain incluindo as plataformas eletrificadas Bio-Hybrid, tecnologias de descarbonização em toda a cadeia de suprimentos e novas oportunidades de negócios.
Inaugurada em 2001 pelo Grupo PSA para produzir modelos Peugeot e Citroën, após a fusão com a FCA, em 2021, a fábrica de Porto Real tornou-se uma das seis unidades industriais da Stellantis na América do Sul. A unidade recebeu investimentos que, desde 2011, somam R$ 10 bilhões. Nos últimos três anos sua atividade foi concentrada na produção dos três modelos da linha C-Cubed da Citroën sobre versão simplificada da plataforma CMP – a fabricação dos Peugeot 208 e 2008 foi toda transferida para El Palomar, Argentina. Da antiga família de produtos o C4 Cactus ainda segue sendo produzido, em volume reduzido.
Sob o novo ciclo de investimentos a unidade agora entra em preparação para ser uma fábrica multimarca do Grupo Stellantis. Sobre a mesma plataforma CMP – originalmente desenvolvida pela PSA antes da fusão com a FCA – já está prevista a produção de um veículo inédito, com versões híbridas utilizando os sistemas Bio-Hybrid, que segundo especula a imprensa especializada será o SUV compacto Jeep Avenger. Seria o primeiro da marca a ser feito no Brasil fora da planta de Goiana, PE.
Mais regionalização de fornecedores
Os carros produzidos em Porto Real têm elevado índice médio de nacionalização, em torno de 80%. Trabalhando em apenas um turno estendido o orçamento de compras é de R$ 2 bilhões por ano, mas o plano é aumentar a produção nos próximos anos e atrair mais fornecedores para o entorno da fábrica.
Hoje apenas 15% dos componentes comprados são faturados por dez fornecedores locais instalados no Sul Fluminense, sendo que sete deles estão dentro da planta, incluindo, por exemplo, a produção de bancos e montagem de escapamentos.
Dentre os objetivos do novo ciclo de investimentos uma das principais metas é dobrar o número de fornecedores regionais, acrescentando no mínimo mais dez deles, como justifica o diretor da planta, Francis Jorge: “Temos vantagens logística e fiscal ao comprar componentes dentro do Estado. O maior desafio é atrair fornecedores que já têm fábricas próximas em São Paulo, como em Taubaté ou São José dos Campos. Teremos de oferecer volume de produção maior para compensar a instalação de uma nova unidade deles”.
Mais automação, produtividade e qualidade
Desde a fusão que criou a Stellantis a fábrica de Porto Real assimilou muito dos padrões da bem-sucedida engenharia de manufatura vinda do lado FCA do grupo. Para receber a nova família de produtos a unidade passou por reformas e intervenções para melhorar a eficiência e produtividade de todos seus processos, passando por funilaria, pintura e montagem final. Todos os quatro modelos produzidos atualmente passam por uma só linha de produção em todas as áreas produtivas.
“O ciclo de investimentos para produzir a família C-Cubed trouxe muitas evoluções a Porto Real”, afirma Francis Jorge, ele mesmo vindo da FCA com passagens pela manufatura de Betim, MG, e Goiana. “Investimos para aumentar a qualidade dos processos e produtos, elevamos a automação, qualificamos profissionais e fornecedores.”
O nível de automação foi significativamente elevado, principalmente nas linhas de soldagem de carrocerias, que hoje conta com 297 robôs que executam 90% dos processos, incluindo manipulares e aplicadores de solda-ponto e laser.
A planta não tem área de estamparia. Todas as partes estampadas para serem soldadas são produzidas por fornecedores externos: as peças maiores vêm da Magneto Automotive, instalada bem ao lado no mesmo polo industrial de Porto Real, e alguns componentes menores são estampados pela própria Stellantis no polo de Betim, MG.
Os processos de estampagem de partes e de armação de carroceria do novo Citroën Basalt são bastante complexos, pois o carro agrega diversos tipos de aço que garantem maior rigidez torcional e mais segurança ao seu habitáculo. Na composição da carroceria são utilizados 60% de aços de alta resistência, 22% de microligados e 15% de estampados de ultra alta resistência.
Na pintura há menos automação, mas seis robôs executam o trabalho de vedações e quatro são aplicadores de tinta e verniz no exterior. No interior o trabalho é todo manual.
Na montagem final o trabalho é mais manual mas 65% dos processos são abastecidos por carrinhos autônomos que levam à linha os componentes designados para cada carro. A cadência é de 27 veículos por hora, índice relativamente baixo em comparação com fábricas maiores: “Poderia ser um pouco mais, mas somos limitados pela capacidade da funilaria e da pintura”.
A planta também abriga uma linha de usinagem e montagem de motores que, desde 2001, produziu 2,4 milhões de unidades. Atualmente, com cadência de 168 motores por dia, só é fabricado na unidade um modelo 1.6 aspirado, que equipa principalmente versões para exportação do C3, C3 Aircross, C4 Cactus e agora também do Basalt. Com o envelhecimento do modelo as instalações poderão ser aproveitadas para produzir outros motores.
A capacidade máxima de Porto Real é de 160 mil veículos por ano em três turnos de trabalho ou 130 mil/ano em dois. O fluxo de produção, hoje, está concentrado em apenas um turno estendido, com expectativa de aumentar o ritmo com a chegada de novos produtos.
Em seus 23 anos de atividade a fábrica de Porto Real já produziu 1,8 milhão de carros, dos quais 370 mil foram exportados, boa parte para a Argentina. Outro objetivo do novo ciclo de investimentos é ampliar os mercados de exportação da unidade para além da América do Sul.