São Paulo – A Argentina vive momento de crescimento de sua economia e consequente expansão de marcas presentes em seu mercado. O PIB deverá encerrar o ano em alta de 5% ou 6% e, para 2026, a projeção é de que avance outros 4%. A inflação, que em 2023 foi de 330% e no ano passado baixou para 117,8%, para 2025 tem a perspectiva de que se estabeleça em 24,5% e, no ano que vem, em 10,7%, para então chegar, finalmente, ao tão almejado um dígito, ainda que algo em torno de 8% a 9%.
Foi o que apontou o economista Dante Sica, ex-ministro da Indústria da Argentina e diretor da consultoria Abeceb, durante o Seminário AutoData Revisão das Perspectivas 2025, realizado em São Paulo.
Ele citou que estes são resultados do programa de déficit zero e estabilidade no câmbio do governo de Javier Milei, que busca diminuir o risco país para que o acesso ao financiamento seja mais facilitado. Porém a iniciativa também propôs a redução de impostos para a importação, principalmente as tarifas para 50 mil veículos eletrificados de até US$ 17 mil.
“A desburocratização e consequente dinamização do mercado refletem nos preços, uma vez que ele também se abre para outros veículos e começam a aparecer muitas marcas que não estavam antes por aqui.”
Sica complementou que, por um lado, tem havido forte recuperação por parte da demanda no setor automotivo mas, por outro, tem sido visto processo de transformação também na oferta: “A abertura da concorrência está dando espaço a novos jogadores. A Argentina tinha uma oferta muito limitada e antiga, era um mercado desabastecido”.
Tanto é que no início do ano estimava-se que o mercado pudesse chegar a 550 mil unidades, ao passo que no ano passado foram comercializados 414 mil veículos. Hoje, o economista afirmou, as estimativas apontam para vendas de 670 mil a 700 mil veículos, reflexo do maior acesso ao crédito para o consumo de bens duráveis e melhora nos ingressos de dólares – em 2023, vale lembrar, havia restrição da entrada da moeda.
A cada cem carros adquiridos na Argentina setenta são importados e trinta produzidos localmente. Embora o Brasil continue sendo a principal fonte o país começa a perder participação, o que vem sendo provocado, especialmente, por marcas chinesas.
Sica chamou atenção ao fato de que a participação de veículos made in China cresceu 233,8% no acumulado de janeiro a maio, com 11,2 mil unidades e 6% do mercado, ao passo de que os brasileiros ampliaram presença em 150%, para 145,4 mil veículos, ainda detentores de fatia de 82%.
“Obviamente os chineses hoje têm níveis quase inexistentes, mas logo começarão a representar parcelas expressivas de participação no mercado. Ainda mais com um mercado que eliminou muitas restrições, muitas necessidades de registros, mudou o marco regulatório que facilita e baixa muito os custos tanto na introdução de veículos por parte das montadoras quanto de importadores.”
Ele ressaltou que, ainda que a oferta de veículos brasileiros seja muito mais diversificada, a velocidade de crescimento da China, especialmente com veículos híbridos e elétricos, em que o mercado da Argentina hoje é quase totalmente desabastecido, deverá ser maior.
“Acho que este é o grande desafio que tem o novo mapa do setor automotivo: estou convencido de que nos próximos anos tanto no Mercosul como na Argentina algumas montadoras que já estão instaladas desaparecerão, principalmente por problemas de competitividade e escala. Talvez apareçam algumas marcas, especialmente as asiáticas, muito mais para vendas do que para produção.”