São Paulo – Há exatamente um ano Ivan Segal assumiu a direção global de vendas da marca Renault. Antes disso foi responsável pelas vendas na França e elevou o patamar da Renault, com mais de 40% das vendas sendo produtos do segmento premium. Velho conhecido aqui da terra, com passagens pela direção da Citroën e um período como diretor de vendas e desenvolvimento de rede da Volkswagen, esteve na semana passada no Brasil para fazer a apresentação global do Boreal, o SUV premium que tem a missão de elevar o patamar de produtos da Renault em mercados fora da Europa.
Durante meia hora Segal contou que a Renault está dando um salto em seu portfólio global. Até 2027 quer equilibrar o total de veículos vendidos no mundo com o volume negociado na Europa. Por enquanto o resto do mundo representa 40% das vendas da marca Renault.
“Também queremos elevar o centro de gravidade de nosso portfólio, oferecendo mais opções premium.”
Abaixo alguns momentos dessa conversa com jornalistas brasileiros:
O senhor disse que 40% das vendas da Renault são fora da Europa. Qual é o potencial de crescimento da Renault nesses países?
O objetivo da Renault é voltar a equilibrar as vendas na Europa e fora da Europa. Em 2020 e 2021, durante a covid, decidimos transformar nosso lineup e renascer na Europa. Então os primeiros carros foram lançados a partir de 2023, seis novos modelos para a marca Renault, uma renovação total do lineup. E desde então o crescimento do market share na Europa alcançou nosso objetivo. Trabalho realizado. O International Game Plan chegou um pouco depois. Iniciamos com o Kardian na América Latina, lançamos o Duster na Turquia e o Grand Koleos na Coreia como parte dessa ofensiva. E agora, no primeiro semestre deste ano, podemos ver que as vendas internacionais vão crescendo mais do que na Europa. Esse 40% que falamos, esperamos que no final do ano possa ser 45% e pouco a pouco reequilibrar até ultrapassar 50%.
E quais são os principais mercados para a Renault no mundo?
Nosso maior mercado continua sendo a França. Em segundo vem o Brasil. Em terceiro é a Turquia. Dentre os Top 10 temos quatro mercados fora da Europa. E isto mostra a dinâmica do International Game Plan, pois alguns países não estavam nessa lista, como a Argentina e a Coréia do Sul.
A Renault está apresentando um carro global no segmento C. Os senhores acreditam que um carro premium tem a capacidade de elevar o patamar de vendas global? Existem muitos consumidores economicamente capazes de pagar o preço por esse carro?
Nosso objetivo principal não é ganhar um pouquinho de market share. Se não faríamos Kwid. Nós queremos subir o centro de gravidade da marca Renault em todos os lugares do mundo. Decidimos investir nos segmentos C e D na Europa não para ganhar market share mas para ter rentabilidade e sustentabilidade do negócio e da rede de concessionários. Hoje na Europa fazemos mais de 40% de nossas vendas dentro do segmento C, o que quatro anos atrás era 15% a 20%. O centro de gravidade subiu. É um trabalho lento, mas é o que queremos fazer fora da Europa também.
A indústria automobilística sempre foi um setor globalizado. Nesta atual situação que os Estados Unidos estão anunciando novas taxas altas para alguns países, o Brasil inclusive, como o senhor acha que fica o comércio mundial?
Primeiro, para falar de Renault, estamos um pouco preservados desse fluxo e dessa decisão porque não temos atividade de vendas diretamente nos Estados Unidos e na China. Temos atividade na China, mas não vendemos carros na China. Sobre o tema global podemos ver que vários países estão politicamente adotando uma rota de protecionismo. Eu acho que a solução primeiro é ter hubs de produção em vários lugares do mundo. O International Game Plan destaca hubs onde podemos produzir. Então, ter esses hubs nos dá, eu acho, mais flexibilidade para poder nos adaptar a situações políticas que podem mudar a qualquer momento. Pensamos que Índia, Coreia do Sul, Brasil, Colômbia, Argentina, Turquia, Marrocos são lugares onde podemos buscar sempre uma solução para outros mercados.
Hoje as marcas chinesas estão crescendo em vários mercados. Como a Renault vê esse movimento? Até porque eles chegam com preços atrativos e ganham rapidamente participação no mercado.
Nós pensamos que a concorrência chinesa é uma boa notícia. Trata-se de uma oportunidade para olhar para essa concorrência e trabalhar numa reação. Então, qualquer coisa que nos dê um motivo para progredir, melhorar, é super motivante. Este é o pensamento na Renault. Por exemplo: temos 150 pessoas na China estudando os provedores, as tecnologias e como fazem os chineses para chegar com essa competitividade. Aprendemos muito, muito. O próximo lançamento na Europa daqui a alguns meses, o Twingo elétrico, é um carro que tem uma empresa chinesa fazendo o seu desenvolvimento. Em vez de desenvolver em quatro anos fizemos em 21, 23 meses. É brutal. Aprendemos como eles fazem. Então, de forma global, a postura é que vemos isto como um motivo para progredir.
Qual a sua análise sobre este primeiro ano do Kardian? Ele foi lançado Brasil e já está em outros mercados.
Posso dizer que globalmente o Kardian é um sucesso. Podemos ver o resultado da Renault no Brasil, com um crescimento de 9% comparado com o semestre do ano passado. É um mercado que não cresceu 9%, então ganhamos market share e, claro, o Kardian é a razão de avançarmos em participação. Mas tenho que reconhecer, e não é novidade para mim, na América Latina a competitividade mais dura é no Brasil. Tentamos resistir e nos defender contra os competidores no Brasil, o que não é fácil. Na Colômbia ele está no Top 10, na Argentina ele contribuiu no crescimento de 98% neste semestre. No Marrocos também foi lançado e está sendo um sucesso.
A companhia tem intenção de produzir carros com a Geely no Brasil?
Ainda não. Toda a negociação com a Geely tem um processo de aprovação pelas autoridades. Pelas autoridades da França, da China, do Brasil. Por isso ainda não estamos comentando mais além daquilo que foi falado em fevereiro. A parceria tem a intenção de colaborar na parte industrial, de desenvolvimento de produtos, mas isso ainda não está confirmado até agora. Como somos competidores, temos que passar por autorizações de todos os organismos governamentais até poder avançar. Então vamos esperar, mas estrategicamente é um passo importante para o nosso futuro no Brasil.