AutoData - Em autopeças, China e Taiwan não são rivais
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05/01/2015

Em autopeças, China e Taiwan não são rivais

Separados pelo Estreito de Taiwan, pedaço de mar com 180 quilômetros de largura média, a ilha de Taiwan, ou República da China, e a parte continental República Popular da China alimentam relações controversas. A começar pelo sistema de governo: democrático e capitalista na península e unipartidário e socialista no continente.

A China considera Taiwan uma província rebelde. Taiwan, por sua vez, mantém sua independência e soberania, mas considera a China continental parte de seu país. Para um chinês entrar em Taiwan, ou um taiwanês entrar na China, é preciso obter visto.

A aparente rivalidade, entretanto, é abafada quando o assunto envolve relações comerciais. Taiwan se orgulha da proximidade com o maior mercado consumidor do mundo e considera-se o principal canal para entrar no país vizinho. Somente no segmento de autopeças mais de 100 companhias da ilha já investiram no mercado chinês.

Jerry Lin, chairman da Jet Optolectronics, uma das maiores fabricantes de monitores automotivos de Taiwan, foi um dos que investiu em produção na China – visando, é claro, melhor competitividade. “É mais barato produzir na China do que em Taiwan. Os custos com fornecedores e mão de obra são mais baixos, embora esta venha crescendo nos últimos anos.”

A SH Auto Parts, que fabrica braços de suspensão, foi outra que expandiu horizontes e abriu fábrica na China. Segundo a diretora de vendas Joanne Chien 80% da estamparia é feita por chineses, graças aos custos mais competitivos. Ela procura se descolar, porém, da imagem da busca total por preço criada pelos chineses: apesar de estampar na China, toda a montagem e checagem das peças é feita na sede, em Taichung, a 160 quilômetros da Capital, Taipé.

“Nossa filosofia é continuar em Taiwan. Não temos planos de procurar por custos mais baixos de qualquer maneira, focamos na qualidade. Fomos para a China porque não encontrávamos força de trabalho aqui em Taiwan.”

O discurso é parecido na E-Lead, outra companhia taiwanesa a investir em produção no continente. O vice-presidente Daniel Lin assegura que os produtos de Taiwan têm mais qualidade que os chineses, embora os custos na China sejam menores.

“Nós podemos construir fábricas em todos os países, mas pesquisa e desenvolvimento continuarão sendo feitos a partir daqui. Esse é um ponto forte de Taiwan.”

Há também quem evite a todo custo cruzar o estreito de Taiwan. “Nós nunca iremos para a China”, garante Fred Cheng, presidente da NHC, Nan Hoang Traffic Instrument, que fornece materiais de fricção. Ele admite custos de 3% a 15% superiores na ilha, porém com indiscutível ganho em qualidade. “O custo na China está crescendo também. E quem gerenciaria? Teríamos que treinar as pessoas.”

Cheng considera um risco investir no país vizinho, até por causa das dificuldades políticas. E completa: “Ficar em Taiwan talvez seja a razão pela qual sobrevivemos há 63 anos no mercado”.