AutoData - Nem Von Zeppelin imaginaria
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03/08/2015

Nem Von Zeppelin imaginaria

A ZF comemorará seu primeiro centenário no dia 9 de setembro, mas este é apenas um dos motivos para que uma semana depois, no Salão do Automóvel de Frankfurt, Alemanha, o estande da empresa tenha mais lustro do que de costume ao longo de tantas edições. Na verdade, a gigantesca mostra alemã será palco do que se pode chamar de primeira grande apresentação do agora terceiro maior conglomerado de componentes, sistemas e tecnologias do setor automotivo: o Grupo ZF, desde maio, oficialmente, acrescido da TRW, após aprovada a aquisição pelas autoridades antitruste.

Mais do que um ou outro produto, a ZF jogará seus holofotes para o fato de ter dobrado de tamanho com a aquisição da TRW e, melhor, com muito pouca, para não dizer nenhuma, sobreposição de linha de produtos e de mercados. Alguns números de 2014 somados ajudam a traduzir essa nova condição: são 230 fábricas, 134 mil empregados – 6,4 mil deles na América do Sul, base de nove fábricas –, presença em quarenta países e faturamento de € 30 bilhões. Somente a produção de transmissões 8HP bateu na casa de 2,6 milhões de unidades, enquanto a de air bags esbarrou em 59 milhões.

A integração completa dos dois grupos originais cumprirá ainda várias etapas, respeitando a cultura e adotando as melhores práticas de cada um deles, como afirmam ambos reiteradamente. Por isso, calculam seus executivos, o processo todo demandará de quatro a cinco anos.

Mas, na prática, diversas equipes já atuam conjuntamente e de forma intensiva, como fizeram questão de comprovar na quarta-feira, 1º. de julho, em Potsdam, localidade vizinha à capital Berlim e famosa por sediar o congresso que definiu, dentre outros aspectos, a nova ordem pós-Segunda Guerra Mundial.

Já a nova ordem pós-aquisição do Grupo ZF esteve naquele dia em campo de provas a alguns quilômetros da agora pacata Potsdam para ser exibida à imprensa mundial – dinamicamente inclusive. Esteve em pelo menos duas dezenas de automóveis convencionais, elétricos e híbridos, representado por alguns dos vários produtos já em linha e, mais importante, projetos que apenas aguardam a demanda dos clientes – leia-se fabricantes de veículos – e que dão alguma luz sobre o futuro do conglomerado.

Tirando o motor, quase nada escapará da competência a que se propõe a ZF de agora em diante tanto para veículos comerciais, agrícolas e de construção, como automóveis e comerciais leves. Além das transmissões e air bags, há sistemas de direção, vários conteúdos do cockpit, sistemas ativos e passivos de segurança, detecção de obstáculos, condução autônoma e semi, componentes estruturais de suspensão, eixos – e segue uma longa lista.

O novo portfólio de produtos e tecnologias, em especial no caso dos automóveis, unifica os sistemas de transmissão e tecnologia de chassis com os de segurança ativa e passiva. A ZF, diz a empresa, “passa a fornecer praticamente todos os componentes necessários para a condução totalmente automatizada – das transmissões automáticas e acionamentos de eixos passando pelos sistemas ativos de chassis, até os sistemas de assistência ao motorista, com abrangência de sistemas de câmeras e radares e sistemas de controle do veículo”.

Traduzindo: a ZF se prepara para participar como uma das protagonistas de um segmento que deve puxar o desenvolvimento dos veículos nas próximas décadas. “A fusão de nossas capacidades de pesquisa e desenvolvimento nos permitirá criar tecnologias inovadoras para o futuro”, alertou Stefan Sommer, CEO da ZF, quando da conclusão do processo de aquisição iniciado no ano passado.

Uma pílula do que essa integração de conhecimentos e tecnologias pode representar na prática é o conceito Veículo Urbano Inteligente, exibido em Potsdam e que será destaque em Frankurt. Dentre as muitas soluções, estão os eixos: o traseiro esterça eletricamente e possibilita redefinir o layout básico do veículo. Em conjunto com o dianteiro, cujo ângulo de esterçamento é de incríveis 75 graus, permite manobras em espaço diminuto. Para um retorno de 180 graus não é necessária mais do que uma pista estreita.

Para o homem adulto que queira voltar a seus tempos de pixote e conduzir um carrinho de controle remoto, o conceito da ZF conta ainda com o Smart Parking Assist, dispositivo que coloca o veículo em praticamente qualquer vaga, mesmo as perpendiculares, e que, a depender da vontade do condutor, é controlado por meio de dispositivos portáteis como relógio inteligente, smartphones e tablets a até cerca de 10 metros de distância.

Outra dose de futuro inovador próximo do carro-conceito é o PreVision Cloud Assist. O sistema se vale de informações armazenadas em uma nuvem para aumentar a eficiência e segurança da condução em um determinado trecho. O carro ‘sabe’ quais as ideais velocidades, torque, aceleração lateral e longitudinal de cada trajeto percorrido e as ajusta de forma a evitar o uso dos freios, por exemplo.

Todas as informações são passadas em painel montado no campo de visão do motorista, que ainda mantém contato direto com o carro por meio do volante, cuja superfície incorpora um sensor de toque, que reconhece se o motorista está segurando o volante. Um computador instalado no sistema de direção identifica sinais digitais e transmite o que acontece ao veículo, que, dependendo do quadro, apenas alerta o motorista ou aciona os sistemas de assistência.

A festa em Frankfurt, assim, será grande, apenas não maior do que em Friedrichshafen, cidade onde há cem anos nasceu a ZF sob a inspiração do Conde Graf Von Zeppelin, que mesmo suficientemente visionário para se aventurar com seus enormes dirigíveis dificilmente imaginaria o futuro que hoje se apresenta.


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