AutoData - O que a indústria automotiva tem a aprender com a de TI
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15/05/2020

O que a indústria automotiva tem a aprender com a de TI

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Foto Jornalista  Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

São Paulo – Os recursos digitais que elevaram a outro patamar a manufatura no setor automotivo, sobretudo a partir da intensificação dos investimentos em linhas 4.0, não restrigem a mudança da cultura empresarial na esfera técnica com a adoção de novos processos. Ela também deve provocar alterações na maneira como as empresas interagem com a necessidade de desenvolver produtos de ponta e com a cadeia de fornecedores.

 

O ponto de vista é proposto pelo estudo Construindo uma Liderança Automotiva à Prova de Futuro, desenvolvido pela empresa de recursos humanos Russell Reynolds Associates. Construído com base em pesquisa que ouviu treze executivos sêniores do setor automotivo, o que se pode depreender do levantamento é que essa indústria, com o avanço da tecnologia, precisa incorporar em seus quadros filosofia mais flexível acerca da tecnologia.

 

“Não apenas no Brasil, mas no mundo todo, as empresas do setor automotivo demoraram um pouco para entender que é o momento de abrir o modelo de gestão para um contexto no qual as ideias, mudanças e decisões acontecem de forma mais dinâmica", disse Tatyana de Freitas, consultora da Russell Reynolds. "E é o momento de fugir do modelo tradicional no qual a indústria automotiva foi concebida.”

 

A premissa é a de que, com o avanço da tecnologia na manufatura e nos veículos, o setor também precisa evoluir na gestão tal qual empresas de TI. O estudo mostra que até 2030 a aplicação de software em automóveis saltará de 10% para 30%, um cenário que, segundo a consultora, deverá imprimir um novo modo de ver o mercado por parte das montadoras e sua cadeia de fornecedores:

 

“O movimento mais recente no setor é a proximidade de startups para entender de forma mais rápida como ocorrem as transformações no mercado. No entanto de nada adianta apostar em aquisições sem absorver aquilo que as empresas de tecnologia tem de melhor, que é o modelo flexível de gestão e a capacidade de reação rápida às mudanças e aos erros. Hoje não é possível apenas focar no desenvolvimento de produtos: é preciso considerar outros fatores. O consumidor hoje é quem está no centro do negócio”.

 

Nesse sentido há o que se aprender com as startups. Em primeiro lugar buscar os melhores profissionais e criar um ambiente que possa retê-los na companhia. E eles, segundo a consultora, existem no País: “A carreira é vista de outra forma pelos profissionais. Hoje as preferências são outras, não estão apenas focados em possibilidades de trabalho estável. Daí a importância da área de recursos humanos no contexto de transformação de uma indústria tradicional”.

 

O estudo traça um cenário comparativo em que espelha os perfis da indústria automotiva com o da indústria de software, considerada referência em termos de gestão de negócios e talentos. Em uma escala de zero a 7 as empresas de TI são consideradas mais disrruptivas, 6,5, do que as do setor automotivo, 5,8, em termos de construção de planejamentos. Assumem mais riscos, 6,3, do que as empresas do setor automotivo, 5,2, em termos de execução.

 

As contratações futuras, aponta a pesquisa, se darão em campos tradicionalmente alheios ao setor automotivo, mas que vem ganhando corpo a partir da adoção da manufatura digital: tecnologia veicular, digitalização, telemática e internet das coisas, conceito difundido no mercado sob a sigla IoT.

 

No futuro da indústria automotiva, projeta a consultora, a subsidiária da multinacional ganhará papel ainda mais relevante com relação às matrizes. O modelo de espelhamento regional de decisões tomadas no Exterior deve perder espaço para um cenário de fábricas conectadas em rede. Seria uma mudança drásticas considerado o fato de que, pelo menos na engenharia, as operações no Brasil tem se tornado menos presentes no desenvolvimento de produtos, com as equipes asiáticas, por exemplo, assumindo protagonismo por causa de uma série de fatores, principalmente custo.

 

“A cultura que chamamos de estrutura fluida deve existir nas duas pontas porque cenários são compartilhados, ainda que sejam mercados diferentes. A matriz, permitindo isso, acelera a modernização em sua subsidiária, geralmente focada mais na execução de planjamento global e produção.”

 

Foto: Divulgação.