Caieiras, SP — Dois anos de testes, validações e homologações. Preocupação com pormenores como o revestimento do apoia-braço em couro nas quarto portas, uma exclusividade nacional, assim como o padrão de cores utilizado no interior. E um motor 1.0 turbo global com calibração local oferecido pela primeira vez em um modelo da marca. A Caoa Chery não está brincando quando diz que o Tiggo 3X é o maior investimento da parceria sino-brasileira, considerando todos os outros modelos já nacionalizados.
“Não divulgamos o valor total de investimento no Brasil, mas posso dizer que até agora o Tiggo 3X foi o que mais recebeu recursos”, diz Marcio Alfonso, CEO da Caoa Chery.
A agilidade para povoar o segmento mais disputado do mercado, o de SUVs, faz parte da interessante estratégia da Caoa Chery de ocupar sua capacidade produtiva com o maior número de produtos possível, ao invés de criar estruturas enormes para a produção de poucos modelos e muitas versões.
É na fábrica de Anápolis, GO, que essa estratégia está mais evidente: com capacidade de 86 mil unidades/ano produz sete modelos de duas marcas – e recebeu novo investimento de R$ 1,5 bilhão para fazer mais dez modelos até 2025. Já a unidade de Jacareí, SP, com a produção do Tiggo 2 e os sedãs Arrizo 5 e Arrizo 6, pode receber novos produtos pois, com o Tiggo 3X, ainda está no meio do caminho para ocupar sua capacidade máxima de 50 mil veículos/ano.
O novato tem a difícil missão de se transformar no Caoa Chery mais vendido no País porque está posicionado entre SUVs da própria marca, o Tiggo 2 e o Tiggo 5X: “Temos a expectativa de emplacar 1 mil unidades/mês. Mas o potencial de mercado é maior que esse”, afirma o diretor de marketing Henrique Sampaio.
Habilidosa ao perceber as lacunas de mercado e as preferências do consumidor – uma das características das empreitadas de Carlos Alberto de Oliveira Andrade no mundo automotivo – a Caoa Chery meteu a mão na massa para configurar o Tiggo 3X ao gosto do cliente. Foram dois anos de desenvolvimento no Brasil.
Começaram trazendo um novo e exclusivo visual, com destaque para a dianteira e o design da grade e dos faróis de assistência diurna que, segundo a empresa, “foi composto por elementos inspirados nos movimentos do Kung Fu chinês, caracterizado pela força e pelo vigor ao mesmo tempo que entrega linhas suaves e harmônicas”. Traduzindo o exagero para expressar o resultado: ficou bonito, moderno e charmoso para um SUV de entrada desse segmento. A Caoa sabe que o design é valorizado pelos consumidores que estão dando o primeiro passo no mundo dos SUVs. E tem chamado a atenção ao oferecer a família Tiggo com personalidades estéticas tão diferentes.
Já a traseira do 3X é mais conhecida, pois apresenta semelhanças com o Tiggo 2 e, além disso, entrega o porte do modelo: trata-se de um veículo compacto, com pouco mais de 2,5 metros de distância entre os eixos. Portanto não espere espaço generoso para os ocupantes nem no porta-malas, de 420 litros.
Mas o interior é bastante agradável, com acabamento de couro sintético no painel, nas portas e nos bancos da versão Pro. Toda a configuração interna, como a definição de materiais e cores nos acabamentos, foi desenvolvida pela Caoa Chery, assim como as mais de vinte ações da engenharia nacional para reduzir em 40% ruídos na cabine. Na versão mais cara o painel de instrumentos digital colorido – bem mais simplinho no Tiggo Plus – torna a experiência ao volante mais tecnológica e eficiente, pois oferece todas as informações que o condutor necessita nos dias de hoje. Um diferencial para SUVs na faixa dos R$ 100 mil.
O maior esforço no desenvolvimento ficou concentrado no motor 1 litro três cilindros turbo flex de 102 cavalos. Mudanças estruturais, como a fixação do bloco nas laterais da carroceria reduziram a vibração, segundo os engenheiros. Essa é uma das novidades nesse motor global utilizado pela primeira vez fora da China. A calibração foi outro grande desafio e teve a participação da Delphi nos ensaios em bancada.
“Fizemos os testes em campo para adequar a taxa de compressão ao etanol. Esse trabalho pode parecer trivial, mas é um desenvolvimento muito importante porque é o que entrega o prazer de dirigir para o motorista”, explica Marcio Alfonso.
E a maior surpresa desse compacto powertrain do Tiggo 3X com transmissão CVT que simula nove velocidades é o torque. São 17,1 kgfm a apenas 2.000 rpm. Traduzindo, novamente: no para e anda e em percursos com baixa velocidade o Tiggo 3X é esperto e ágil por causa do torque máximo disponível rapidamente.
Durante trajeto pela Serra da Cantareira, de São Paulo a Caieiras, com pista sinuosa, ladeiras e trânsito lento, o Tiggo 3X demonstrou que esse é o seu ambiente. Rapidamente ele encontrava a velocidade ideal para aquela situação, que não passou de 60 km/h de máxima. Ao retornar para a capital pelo Rodoanel e Rodovia dos Bandeirantes a exigência aumentou e tanto o motor quanto a transmissão tiveram que trabalhar, variando constantemente as rotações para que o Tiggo 3X acompanhasse o fluxo do tráfego mantendo os 100 km/h a 120 km/h de todos os outros veículos.
Sobre o posicionamento no mercado de SUVs a Caoa Chery entende que há oportunidades em seu próprio portfólio que deverá ser ocupada pelo Tiggo 3X. A oferta de um novo modelo bem equipado, com tela multimídia de 9 polegadas, controle de tração e estabilidade, direção elétrica, partida em rampa e ajuste automático dos faróis, dentre outros itens, é o que a clientela do segmento está procurando.
Henrique Sampaio está otimista com o desempenho da novidade nos próximos meses e com a ampliação de 115 para 150 concessionárias no País até o fim do ano para ajudar nas vendas. Ele calcula que haverá “migração de 15% dos clientes do Tiggo 2 para o 3X”, que estariam dispostos a saltar dos R$ 92 mil do Tiggo 2 para R$ 94.990 pela versão Plus. Já no patamar acima do portfólio da Caoa Chery figurava somente o Tiggo 5X, em versão única de R$ 122 mil. É nesta lacuna abaixo de R$ 100 mil que o Tiggo 3X Pro, comercializado a R$ 99.990, pode surpreender e confirmar que há no mercado de SUVs demanda superior a 1 mil unidades/mês.
Fotos: Divulgação/Ali Produções