Santo André, SP – O setor automotivo não passará ileso ao aumento da taxa básica de juros em um ponto porcentual, para 5,25% ao ano, a maior em 18 anos, anunciada pelo Banco Central na quarta-feira, 4. Os impactos chegarão aos financiamentos de veículos, que deverão sofrer incremento dos juros, cuja média está em 21,6% ao ano, para 25%, em média. É o que estima o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
“A inflação preocupa, então a decisão do Banco Central em subir a taxa foi correta”, avalia Moraes. “Vivemos cenário em que, de um lado, vemos aspectos positivos, como a imunização da população, a tendência de crescimento do PIB, os serviços voltando a funcionar. E, de outro, temos a preocupação da taxa de juros no nosso segmento, da crise hídrica e do setor energético, embora não consideremos problema de racionamento, e da variante Delta.”
Para o economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, o repasse deverá ser imediato, pois a taxa básica de juros já vem em trajetória de alta há um ano – só em 2021 subiu três pontos porcentuais – e deve continuar subindo, podendo chegar a 7% ao ano em dezembro.
“A lógica da Selic é justamente essa. Que a demanda por empréstimos caia porque o custo do crédito subiu. A expectativa é que isso venha a ocorrer se as altas da Selic persistirem, que é o esperado. O Banco Central não vai parar por aqui porque os números de inflação são bem preocupantes.”
Nos doze meses encerrados em junho, o IPCA acumula taxa de 8,35%, a maior desde setembro de 2016, quando bateu em 8,48%.
O momento é propício ao aumento também devido à escassez de peças e componentes, principalmente dos semicondutores, o que está fazendo as linhas de produção pararem, ao mesmo tempo em que há uma demanda reprimida que veio desde o início da pandemia, cita Balistiero. “Outro ponto é que a indústria automotiva não amacia muito mesmo em períodos de crise. É só olhar os preços dos veículos e ver o quanto encareceram só neste ano, acima da inflação.”
O especialista da Mauá aponta que o ideal seria que o consumidor pudesse postergar o momento da compra, isso se a conjuntura apontasse para a possibilidade de redução na Selic, e não o contrário. “Não há garantia de que no ano que vem o custo do financiamento estará menor. E em 2022 não há previsão de queda da taxa básica de juros. A única coisa que deve mudar é a oferta de veículos, diante da normalização das cadeias produtivas.”
Oportunidade? – Exatamente por isso o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, analisa que pode ser um momento propício para quem quer trocar de carro. Ele explica que os bancos e financeiras que captaram dinheiro antes da decisão do BC têm condições de ser mais competitivos para fazer carteira e diminuir o risco de inadimplência, uma vez que a economia também dá seus primeiros passos ao ciclo de retomada. “Quem buscar crédito antes tem mais chances de negociar.”
Além disso, hoje a diversidade dos canais de oferta de empréstimos é muito grande, o que acirra a competitividade e contribui para que o consumidor possa pesquisar e barganhar taxas melhores.
Diante da maior procura por veículos seminovos e usados, justamente pela falta de oferta de determinados modelos 0KM, e da alta dos preços dos insumos, como aço, o economista-chefe da Acrefi defende que é mais preocupante que valor unitário encareça, entre 5% e 10%, por exemplo, do que o repasse da Selic, o que ele vê como inevitável, pois o custo do dinheiro vai aumentar. Tingas aponta que, se for feito bom negócio, esse impacto pode ser diluído na prestação.
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