Produtos chineses, principalmente, vêm ganhando espaço em importantes destinos
São Paulo – O crescimento exponencial do volume de veículos embarcados visto nos últimos meses parece ter ficado para trás. O ritmo de exportação que outrora apresentou crescimentos robustos de dois dígitos diminuiu significativamente no primeiro trimestre do ano. As 112,2 mil unidades enviadas a outros países representaram leve alta de 3,9% com relação ao acumulado de janeiro a março do ano passado.
Os dados divulgados durante a entrevista coletiva da Anfavea na segunda-feira, 10, mostram que a Argentina não é a responsável. Ao contrário, com o recrudescimento das vendas internas ali, a demanda pelos produtos brasileiros vem, pouco a pouco, se restabelecendo.
O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, mostrou que o mercado argentino avançou 15% no trimestre, embora tenha ponderado que sobre uma base “extremamente baixa”. O mexicano, em franca expansão e alvo de novos investimentos do setor, cresceu 25%. No entanto, o da Colômbia recuou 17% e o do Chile 9% – este sofreu segunda queda mensal seguida, ponderou.
“Precisamos analisar o que tem acontecido com os mercados da nossa região. E temos observado, ao mesmo tempo, expressivo crescimento de exportações de países asiáticos para estes países, com volumes significativos. Entendemos que esse esfriamento nas exportações brasileiras se dá pelo aumento do custo e pela falta de linha de financiamento adequada. Por isto, se não tivermos dois pilares como convergência regulatória e financiamento, continuaremos perdendo mercado dentro do nosso quintal.”
O desempenho do trimestre, embora positivo, é estável, nas palavras de Lima Leite. Isso porque geralmente um mercado acaba compensando o outro e, no fim das contas, fecha no azul. Mas o dirigente chamou atenção ao fato de que, recentemente, as fabricantes brasileiras foram excluídas da possibilidade de concorrer à licitação para a compra de ônibus no Chile – vencida por empresas chinesas:
“Neste caso específico não pesaram as questões regulatória nem de emissões. Isto se deu em razão de garantias e de riscos, o que incluiu o BNDES. Mas a pergunta que fica é: como o Chile poderia excluir o Brasil de participar de licitação sem qualquer histórico de default, tanto do lado das montadoras como do País, o oitavo maior produtor do mundo?”.
Leite criticou a ausência de convergência regulatória com relação a produtos nos países da região: “Muitas vezes se desenvolve um produto aqui e, na hora de vender, é preciso fazer uma nova homologação com adaptações técnicas para atender às legislações locais, o que custa tempo e dinheiro, são recursos elevado”.
Diante do mercado desaquecido alguns fabricantes acabam não fazendo esse investimento por acreditar que não se justifica, que devido a algumas regulamentações não se obtém o retorno esperado. E é aí que entra a questão da convergência regulatória mencionada por ele: “Se o Brasil puxar politicamente a discussão com esses países será, sem dúvida, um ganha-ganha”.
Com relação ao financiamento a Anfavea acredita na necessidade da existência de linhas de financiamento ou de garantias que são exigidas nesses processos, e que o BNDES tem papel fundamental: “Se pudéssemos usufruir de linhas de financiamento específico para exportação ou ter o País como garantidor em operações isto certamente traria competitividade muito grande à indústria brasileira”.
Em março houve incremento de 29,3% nos 44,7 mil embarques realizados frente a fevereiro, crescimento que o dirigente avaliou como natural por causa do número maior de dias úteis. Com relação ao mesmo mês em 2022 a alta foi de 14,8%, mas, à época, o setor vivia o auge da crise de semicondutores.
Com relação aos valores obtidos pela exportação pelo setor brasileiro de veículos os US$ 2,8 bilhões do primeiro trimestre avançaram 30,2% frente a igual período do ano passado. Em março a quantia de US$ 1,1 bilhão ficou 18,6% acima de fevereiro e 32,6% maior do que em março de 2022.