São Paulo – Projeto dirigido por engenheiros brasileiros, testado na Alemanha, o chassi de ônibus urbano eO500U, da Mercedes-Benz, será o primeiro veículo elétrico produzido em São Bernardo do Campo, SP. Nasce credenciado a abastecer, também, mercados do Exterior, para além da América Latina: Oceania e a Europa estão de olho no modelo.
Embora a base tecnológica seja compartilhada e o modelo tenha sido testado na Alemanha, onde rodou por mais de 1 milhão de quilômetros, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, avaliou que a importância dessa sinergia é comunizar alguns componentes como eixo e motores elétricos: “Com isso ganhamos velocidade. A base tecnológica é compartilhada, mas é um chassi desenvolvido no Brasil e com características para operar no Brasil. É um carimbo nosso. Não é copia e cola do eCitaro”.
O projeto já vinha sendo desenvolvido há cinco anos. Os testes no Brasil começam no mês que vem. O modelo oferece até 300 quilômetros de autonomia com seis pacotes de bateria, e 250 quilômetros com quatro. Segundo a Mercedes-Benz o carregamento dura em torno de duas horas e meia.
Considerando que hoje o mercado brasileiro de ônibus urbanos é estimado de 13 mil a 14 mil unidades a expectativa é a de que os elétricos respondam por fatia de 2% a 5% nos primeiros anos e, próximo a 2027, avancem para 10%. Walter Barbosa, diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, contou que os desafios são enormes, mas que existe demanda e necessidade para emissões zero de CO²: “Será um processo gradativo. A tendência é chegar, primeiro em 50%, e então caminhar para 100% em toda a frota de ônibus, o que levará muitos anos”.
Conforme o presidente da Mercedes-Benz no Brasil e CEO para a América Latina, Karl Deppen, a opção por colocar os pés no mercado da eletrificação no País por meio dos ônibus se deu pensando na coletividade, para gerar benefício para um maior número de pessoas. Ele ponderou, no entanto, que para que os benefícios tecnológicos aplicados à mobilidade urbana sejam agregados ao desenvolvimento econômico e social das cidades, é imprescindível que o Brasil e a América Latina também preparem sua infraestrutura para a operação dos veículos elétricos: “Esse é um ponto muito importante porque está diretamente relacionado à capacidade e garantia de geração e abastecimento de energia em um novo patamar”.
Exportação – O plano da Mercedes inclui a exportação do eO500U para países latinos como Chile, onde a eletrificação é mais avançada. Segundo Leoncini a companhia está avaliando com a equipe da Mercedes da EvoBus a utilização do chassi em alguns países europeus onde ele seja compatível com o sistema. Oceania também está na mira: “Não ficaremos restritos a países da América Latina, África e Oriente Médio como ocorre com os movidos a diesel. Expandiremos o portfólio de possíveis clientes com chassis elétricos e, se possível, de modelos encarroçados”.
Hoje a empresa exporta de 40% a 50% de sua produção, e Barbosa garantiu que “temos capacidade para atender à demanda”.
Para Leoncini não existe restrição técnica de capacidade na linha, que está preparada para atender aos mercados interno e externo. O investimento de R$ 100 milhões no desenvolvimento do elétrico já previa isso.
A produção do eO500U a partir do ano que vem em São Bernardo do Campo, SP, não demandará contratações. Pelo fato de o elétrico poder ser fabricado na mesma linha dos modelos movidos a combustão interna, por ora os mesmos profissionais deverão operar a montagem. A Mercedes emprega cerca de 10 mil colaboradores no País. Deppen afirmou, porém, ainda que este é apenas o primeiro passo da montadora no País rumo ao mundo da eletromobilidade: “Nossas estratégias visam ao presente e ao futuro.”
Sobre a possibilidade de a companhia aderir à tecnologia para produzir localmente caminhões elétricos, ou de importar algum modelo, a exemplo do eActros, Leoncini disse que estão avaliando alternativas, uma vez que há diversas opções dentro do portfólio da Mercedes, da Fuso e da Daimler Trucks, mas que este talvez não seja o caminhão mais adequado para a distribuição urbana no Brasil.
Quanto aos ônibus fretados a montadora reconhece que pode haver demanda pontual por parte de grandes companhias, mas não em larga escala. Dentro do segmento, portanto, a produção de rodoviários poderá ocorrer antes.
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