São Paulo – Com a nova lei que entrou em vigor em abril a expectativa do Denatran é que o número de atendimentos de recalls do Brasil salte dos 57,7% no ano passado para 90% em dois anos. Isso porque a legislação prevê que o não comparecimento para o reparo um ano após a notificação gerará uma pendência no documento de licenciamento e, um ano depois, um novo aviso e prazo de doze meses para regularizar a situação. Passado o prazo, grandes problemas surgirão ao proprietário do veículo.
“Em dois anos o proprietário ficará impossibilitado de fazer qualquer transação, como renovação de seguro, e precisará comparecer ao recall”, disse o diretor geral do Denatran, Frederico Carneiro. "Essa era a chave que faltava para aumentar o porcentual de atendimentos a recalls no País, que ainda é muito baixo porque faltava uma ferramenta que permitisse maior controle”.
Para que esta nova lei entrasse em vigor o Brasil precisava de um sistema digital que consolidasse todos os recalls em aberto. Criado em 2020, inseriu chamados atuais e de anos anteriores, permitindo o monitoramento completo das campanhas. As notificações começaram no ano passado: 2,7 milhões de proprietários de veículos receberam alerta de chamado, dos quais 1 milhão de novas campanhas e 1,7 milhão de carros que foram convocados no passado e ainda não compareceram.
O atendimento dos novos chegou a 63% e o de antigos 30%, segundo Carneiro. "Ainda que seja só 30% de 1,7 milhão de veículos, é um porcentual expressivo, ainda mais durante a pandemia. São unidades que já estavam esquecidas e foram recolocadas no mapa dos recalls. Agora esses proprietários têm até dois anos para solucionar o problema".
João Irineu Medeiros, diretor de segurança veicular e conformidade regulatória da Stellantis para a América do Sul, também acredita que essa nova lei será decisiva, fazendo com que os atendimentos cheguem a patamar nunca antes atingido no Brasil: "Temos que lembrar que nunca será possível atingir 100% porque sempre existe um carro que já deu baixa por causa de batida ou roubo, mas o porcentual vai aumentar bastante".
Em 2021 780 mil veículos foram notificados de janeiro a julho, maior volume para o período, sendo que 30% já passaram pelas concessionárias, índice que deverá aumentar até dezembro. Boa parte desses recalls são de veículos novos, quando os clientes ainda mantém maior contato com as revendas por causa das manutenções de garantia.
No caso dos chamados antigos, aqueles lançados no sistema em 2020 mas que ocorreram em outros anos, cerca de 17% dos veículos foram até uma revenda no período de janeiro a julho.
Para Medeiros a tendência é que as montadoras comecem a fazer ações paralelas para agregar algum avanço para o número de atendimentos, ainda que de forma tímida: "Esses movimentos pontuais mostram o interesse das empresas em avançar na resolução do problema".
Atualmente a Chevrolet oferece R$ 500 de vale combustível para os proprietários de Celta e de Classic fabricados de 2012 a 2016 e equipados com os airbags defeituosos da Takata. Após o serviço gratuito na concessionária o cliente baixa o aplicativo Shell Box e ganha o voucher para abastecer na rede, além de concorrer a um sorteio de três Onix novos.
Em 2018 a Honda também realizou uma ação interessante, com foco em algumas cidades de Minas Gerais: funcionários da empresa passaram três meses tentando identificar os veículos envolvidos em um chamado a partir da placa e chassi. Em locais de velocidade reduzida, como centros comerciais e estacionamentos de shoppings, a empresa abordava os proprietários dos veículos envolvidos e marcava o atendimento na concessionária mais próxima do cliente.
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