São Paulo – A pandemia mudou a forma com que o consumidor se relaciona com o seu dinheiro: está mais consciente sobre a forma de usá-lo. As dificuldades econômicas decorrentes do cenário trouxeram mais incertezas, devido ao aumento do desemprego e à disparada da inflação. Mas a vontade de ter um carro foi aguçada pela necessidade de isolamento social e esse desejo esbarra em fator primordial: o custo do veículo.
É o que aponta a Pesquisa SAE Mobilidade – Edição 2021, realizada em parceria da AutoData Editora com a KPMG Brasil e a SAE Brasil, e apresentada nesta terça-feira, 14, pela Anfavea.
De março a abril foram entrevistados tanto executivos do setor como consumidores. O levantamento, portanto, ainda não havia captado o agravamento da crise dos semicondutores e a decisão de compra do automóvel, se novo ou usado, não se pautava pela indisponibilidade de modelo, mas pelas condições financeiras pessoais e pela situação econômica do País.
Tanto que as respostas sobre a intenção de adquirir um carro ficaram praticamente divididas: 44,3% querem um novo e, 40%, um usado. Conforme o sócio-líder para indústria automotiva na KPMG Brasil, Ricardo Bacellar, apesar de existir interesse no zero-quilômetro, o poder de compra não é suficiente para tal, o que alimentou o vigoroso crescimento do mercado de usados.
Dado destacado por ele na questão sobre quando gostariam de fazer a aquisição: a maioria, 45,2%, respondeu que em até dois anos. Perguntados sobre o canal de preferência para efetuar a compra, apenas 1,2% respondeu que não quer comprar carro. “Temos aí a indicação de um enorme mercado consumidor a ser explorado.”
Um dos pontos que mais pesa da decisão do consumidor, 75,4%, assim como na dos executivos, 60,2%, é o custo total da propriedade antes da compra, o que inclui não só preço do automóvel, mas também os gastos com a manutenção dele, como IPVA, combustível e seguro, por exemplo.
A pesquisa também mostrou que 42% dos consumidores têm interesse em comprar veículo com conexão embarcada, mas, como não possuem verba suficiente, foi questionado também o quanto estariam dispostos a abrir mão de recursos tecnológicos em troca de valor menor do veículo. Para 47,8% não seria plausível abrir mão da conectividade, enquanto que, para 27,2%, a opção seria válida somente a modelos básicos e, para 24,9%, a qualquer modelo.
Para o executivo da KPMG, essas respostas sinalizam uma oportunidade de impulsionar as vendas diante do contexto de perda do poder de compra. Mostram que nessas respostas pode haver uma tendência para a indústria: “A pandemia veio como um tsunami e bagunçou todo o jogo de xadrez. Para reagir será preciso se reorganizar e identificar oportunidades e mudanças de estratégia”.
Assinatura – Quando o assunto é tendência, o interesse por carros por assinatura, revelado na edição anterior da pesquisa, de 2019, quando a modalidade ainda era inexistente, evidencia, nesta, potencial mercado a ser explorado pelo setor, porém, com possibilidades de ajuste na forma como é disponibilizado. Bacellar chamou atenção para o fato de que apenas 16,8% não têm interesse e que outros 29,7% não a conhecem.
“Como o custo é entrave para ter um veículo, seja para comprar ou assinar, as empresas podem desenvolver estratégia para criar ciclo virtuoso ao tornar a proposta mais atrativa, com valores menores, e talvez até ampliar o modelo para seminovos. Assim, o consumidor poderia galgar, pouco a pouco, carros mais novos até chegar no zero-quilômetro. Esse é também uma forma de driblar o alto custo da propriedade.”
Segundo o especialista da KPMG há muito espaço para aperfeiçoar a modalidade, que por vezes se assemelha a “leasing travestido”, e não mostra, na ponta do lápis, grandes ganhos na opção.
O consumidor, aliás, também tem grande interesse no elétrico, tanto que 89,7% gostariam de ter um exemplar. Se a proposta é levar a percepção de menor gasto, Bacellar sugere que o modelo de assinatura pode cair como uma luva aos eletrificados, que esbarram mais ainda na questão do custo.
A Pesquisa SAE Mobilidade – Edição 2021 completa, conduzida pela KPMG em parceria com AutoData Editora e SAE Brasil, pode ser acessada gratuitamente clicando aqui.
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