Com grandes empresas globais aderindo em massa à Pauta ESG, a eletromobilidade passou a ser a resposta mais eficiente para tornar a indústria automotiva nacional não só mais competitiva globalmente mas, também, mais sustentável. Por isso mesmo, até 2030, grandes transformações tecnológicas serão deflagradas por montadoras, sistemistas e fabricantes de autopeças, buscando reduzir emissões de carbono a índices próximos a zero.
Veículos elétricos ou mesmo híbridos são mais caros em função, principalmente, dos altos custos das baterias. “Aqui no Brasil, por conta das elevadas tributações, esses veículos, embora eficientes sob o ponto de vista ambiental, ficam com preços exorbitantes, o que os tornam distantes do alcance do grande público”, comenta Denys Cabral, Head de Inovação Automotiva da Becomex.
Cabral defende que é preciso que toda cadeia automotiva faça uso pleno dos incentivos fiscais disponíveis no País, especialmente os Regimes Especiais, para popularizar, ainda nesta década, o máximo possível veículos elétricos e, também, os híbridos, tecnologia com forte tendência de se expandir consideravelmente no País nos próximos anos.
As vendas de veículos elétricos no mundo demonstram que a tendência de crescimento é irreversível. Dados da ABVE (Associação Brasileira de Veículos Elétricos) apontam que em 2010 a frota global de veículos elétricos era em torno de 17 mil unidades. Nove anos depois, em 2019, a frota ultrapassou 7,2 milhões de unidades.
A entidade projeta que, neste ano, 30 mil veículos elétricos serão emplacados só no Brasil, registrando crescimento de 52% sobre o volume emplacado no ano passado (19.745 unidades). De acordo com Cabral, “em estudo feito pela PNME – Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica, no cenário mais agressivo de projeções de vendas, estima-se que 35% da frota de veículos de passeio no Brasil será composta por híbridos ou elétricos até 2030”.
“Essas grandes mudanças envolvendo eletromobilidade estão ocorrendo de maneira muito rápida também aqui no Brasil e já estão impactando toda cadeia automotiva nacional. Será preciso se reinventar para não perdermos oportunidades que se abrem”, analisa Cabral.
De acordo com o executivo da Becomex, veículos mais tecnológicos demandarão maior quantidade de componentes importados tanto para suprir o mercado interno como, também, o externo. “Todo item importado sem similar no País conta com benefícios tributários e, igualmente, se for manufaturado para fins de exportação”. O grande problema, segundo estudo feito pela Becomex, é que apenas 43% desses benefícios são utilizados pela cadeia automotiva.
“Por conta da complexidade de regimes especiais como Drawback, Recof e Ex-tarifário, muitas empresas deixam de utilizá-los e isso, por fim, eleva o ‘Custo Brasil’ encarecendo o produto no mercado interno e comprometendo substancialmente a competitividade da indústria nacional no mercado global”, alerta Cabral.
A tendência de crescimento da demanda por veículos elétricos (híbridos e 100% elétricos) no mercado nacional nos próximos anos certamente vai levar à nacionalização de muitos componentes por parte dos sistemistas e fabricantes de autopeças e, como já está acontecendo, montadoras igualmente passarão a produzir aqui seus modelos eletrificados. Outros itens mais tecnológicos, como semicondutores, por exemplo, seguirão sendo importados.
“Fazendo-se uma leitura mais acurada dessas tendências de curto, médio e longo prazo, entendemos o quanto é importante aplicar o mais urgente possível estratégia tributária colaborativa, eficiente e abrangente, envolvendo toda cadeia automotiva nacional, de modo a tornar a indústria mais competitiva tanto no mercado interno quanto, também, no externo”, finaliza Cabral.