São Paulo – Marco Aurélio Gonçalves Nazaré assumiu a presidência da Abla, Associação Brasileira das Locadoras, no começo do ano, em mandato até dezembro de 2023. Em sua primeira entrevista, exclusiva para a Agência AutoData, o novo presidente falou sobre os desafios para os próximos dois anos, sobre a expectativa de compras e de crescimento do segmento de locação de veículos, de sua carreira até assumir a presidência da Abla e de outros temas.
Confira, abaixo, trechos da entrevista:
Qual é a projeção de compras das locadoras associadas para 2022?
A nossa expectativa é de comprar 400 mil carros, considerando todas as dificuldades que o setor automotivo está passando. Esperamos que a retomada da produção aconteça de maneira mais forte no terceiro e quarto trimestres do ano, mas isso não será suficiente para que as montadoras atendam mais pedidos.
Qual seria a estimativa se as montadoras pudessem atender a todos os pedidos?
Acredito que seria possível chegar a um volume de 600 mil a 700 mil veículos no ano, pois as 400 mil unidades não serão suficientes para atender à demanda, que está reprimida em função de todos os problemas que as montadoras passaram em 2020 e 2021. Por causa disso não houve a renovação de frota que era necessária. A expectativa é a de que a situação se normalize a partir do terceiro trimestre, mas precisamos avaliar como será esse avanço dos casos de covid-19, que atualmente está afetando a produção das montadoras porque falta mão de obra em alguns casos.
Diante dessa projeção de compras qual a expectativa de crescimento das associadas da Abla?
O mercado de locação de carros deverá crescer mais do que a indústria automotiva, com alta de dois dígitos em 2022. O problema é que a renovação de frota das locadoras será afetada em mais um ano: essa será a principal dificuldade.
Quais fatores deverão puxar esse crescimento projetado para o ano?
Hoje existe uma mudança nos hábitos de consumo da população, e também das empresas, que nesse segundo caso optam por investir seu capital em outras áreas, consideradas mais importantes, e alugar mensalmente sua frota. No caso dos consumidores, as pessoas físicas, a cultura do uso no lugar da posse está avançando, principalmente pela alta nos juros, taxa Selic e inflação. Essa é uma tendência irreversível, com crescimento acelerado e que poderá ser o principal produtos das locadoras no futuro. O rent a car, aluguel por diária, também está com forte demanda, principalmente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, por causa do turismo. Algumas empresas estão com as frotas bloqueadas, sem aceitar mais reservas, porque não possuem veículos disponíveis para atender à procura.
Além da demanda maior do que a oferta de veículos nas fábricas, quais outros desafios as locadoras terão durante o ano?
Temos um cenário econômico com projeção do PIB de 0,5% a 0,7% de crescimento, algumas consultorias já considerando um empate com o ano passado. Precisamos que a confiança do mercado retorne conforme a pandemia for recuando, mas isso depende de como será o avanço da variante ômicron e desses problemas atuais que estão acontecendo. A inflação, que está acima da meta, fez com que o Banco Central elevasse a taxa Selic, chegando a quase 11% no ano, e câmbio, em torno de R$ 5,50 e R$ 5,60, também são pontos de atenção. Tudo isso em um ano eleitoral, de alta nos custos, de alta nos juros, tudo isso prejudica a confiança, mas ainda acreditamos que será possível crescer em 2022. Também precisamos lembrar do mercado de seminovos, que tem grande importância para o nosso negócio, e com parte da renovação de frota que acontecerá no ano as locadoras precisarão de mais capital para investir, isso porque os veículos atuais desvalorizaram mais, aumentou a diferença de preço para o zero quilômetro. A isto se junta a alta nos preços dos veículos novos, gerando um grande desafio para as empresas: precisar de mais capital em um ano de juros altos.
Como está o prazo de entrega das montadoras?
Depende muito do modelo. Há modelos cujo prazo é de sessenta a noventa dias e há modelos com prazo acima de 150 e 180 dias, que são os mais procurados pelas locadoras. Hoje temos um problema de pedidos bloqueados para diversos modelos, também os mais buscados pelas nossas associadas, o que dificulta a reposição e ampliação da frota. Em casos em que os pedidos não estão bloqueados as vendas são limitadas por causa da demanda maior que a oferta, ainda reflexo de todas as dificuldades que as montadoras têm com componentes, principalmente os eletrônicos. Essa falta de peças tem levado as montadoras a focar a produção em modelos mais rentáveis, mas ainda existe uma grande demanda pelos produtos de entrada.
Qual a projeção da Abla para produção de veículos leves no Brasil em 2022?
Projetamos, assim como a indústria, crescimento de 9% a 11%, chegando a 2,3 milhões de unidades.
Quais os principais desafios que o senhor terá à frente da Abla em 2022 e 2023?
O mercado de aluguel de carros está em um momento de crescimento, puxado pelas oportunidades de locação para empresas e pessoas físicas, graças à mudança no conceito de posse, o que deverá movimentar ainda mais o nosso segmento. Por isso o nosso foco será dar condição para que as micros, pequenas e médias empresas continuem no mercado, conquistando crescimento, mesmo no momento em que as grandes empresas têm concentrado grande parte dos negócios, o que é um movimento natural, mas ainda sobra espaço para as demais. A intenção é investir em tecnologia para que as micro, pequenas e médias empresas consigam melhorar a gestão do seu negócio. Cerca de 85% das associadas são micro e pequenas empresas, 10% a 12% são médias e grandes e apenas 2% a 3% são as gigantes do mercado.
Como foi a sua carreira até assumir a presidência da Abla?
Estou no negócio de aluguel de carros há 27 anos e desde o começo atuei em entidades de classe, como Associação Industrial, Associação Comercial, Federação das Associações Comerciais do Estado de Minas Gerais. De 2017 a 2021 fui presidente do Sindloc MG, sindicato das empresas locadoras de automóveis em Minas Gerais, no qual seguirei como integrante do conselho. Na Abla estou há bastante tempo: comecei no Conselho Fiscal, depois fui vice-presidente durante os dois mandatos do presidente Paulo Miguel e, agora, assumi a presidência.
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