São Paulo – ESG e economia circular são temas cada vez mais presentes nas mesas de reunião dos altos escalões das empresas. Inúmeros projetos começaram a sair do papel dos últimos anos, beneficiando o meio ambiente, a sociedade e as comunidades ao redor de fábricas. O caso da Usiminas, fabricante de aços planos com importante presença no setor automotivo, foi além: um projeto de economia circular contribuiu com a comunidade ao redor, com o meio ambiente e com uma faixa da sociedade que precisa ser ressocializada.
A empresa tem apostado em parcerias com o poder público em Coronel Fabriciano, MG, município vizinho a Ipatinga, onde foi fundada e possui operação, na Região Metropolitana do Vale do Aço. Uma das iniciativas contemplou o fornecimento de 12 toneladas de sucata de madeira para o presídio estadual da cidade. Trinta presos aprenderam técnicas de carpintaria para produzir brinquedos a partir dos pallets, doados a oitenta crianças carentes. Como contrapartida obtiveram a redução da pena para cada dia trabalhado.
Os brinquedos foram pintados por funcionários voluntários da própria empresa, nomeados de VOU, Voluntários Usiminas. A matéria-prima foi utilizada, ainda, para a fabricação de móveis, doados por meio de entidades sociais à comunidade local.
Gerente geral de sustentabilidade da Usiminas André Chaves contou que foi possível juntar várias questões da agenda em única ação: “Unimos todos os pilares ESG em uma situação simples, com resposta rápida e beneficiando a sociedade. Trouxe um grande impacto nesse microcosmo que a iniciativa juntou”.
O projeto foi reconhecido em premiação da Empresas Randon, o Awards Empresas Randon, que no início de novembro do ano passado elegeu três parceiros com boas práticas em sustentabilidade, com foco no processo produtivo, inovação e tecnologia e competitividade.
A ideia dessa experiência realizada anualmente desde 2019 surgiu de outra, também envolvendo o sistema prisional e conceitos de economia circular. Em três oportunidades, desde 2017, a Usiminas doou material chamado de siderbrita, que é uma linha de coproduto de agregado siderúrgico que, no passado, já foi chamado de escória, relatou Chaves: “Com o tempo ele foi trabalhado e, hoje, tornou-se matéria-prima para diversas aplicações, como blocos para a pavimentação de ruas. Tanto que os blocos produzidos no presídio voltaram para a comunidade na forma de revitalização de parques e praças de Coronel Fabriciano”.
Esse mesmo insumo também é doado, a partir de outra iniciativa, para promover a recuperação de estradas rurais: “Sabemos que a realidade dessas vias é muito sofrida, o que afeta pequenos agricultores, onde há pessoas com dificuldade de acessar escolas e o sistema de saúde. E há algum tempo temos feito parceria com prefeituras do Vale do Aço para a recuperação dessas estradas. Neste caso a Usiminas doa o material e o transporta para os municípios. E com a orientação técnica de outro parceiro nosso esse material é espalhado nas estradas”.
Segundo o gerente a ação, que integra o programa Usiminas Mobiliza pelos Caminhos do Vale está em sua sexta edição e chegou a 84 cidades no Leste mineiro, beneficiando cerca de 2 milhões de pessoas: “O maior desafio é o transporte para essas localidades, o que dificulta um maior alcance por parte da companhia. Então, como espécie de contrapartida em que todos ganham, as prefeituras começaram a mapear nascentes em recuperação, uma vez que disponibilidade hídrica é um grande desafio para o meio ambiente”.
Chaves afirmou que mais de 5 mil nascentes foram mapeadas e que foi iniciada a recuperação de 1,4 mil delas, com o auxílio de parceiro voluntário que contribui com as orientações técnicas. Em 2021 o frete para levar o material doado consumiu em torno de R$ 16 milhões: “Estamos sugerindo aos envolvidos a realização conjunta de estudo para mensurar impacto positivo nas comunidades, com dados como o quanto isso reflete na economia local, a redução de evasão escolar, o quanto as prefeituras diminuíram gastos para a manutenção do transporte”.
Sobre os investimentos das iniciativas relacionadas ao sistema prisional André Chaves contou que os valores não são significativos por envolver resíduos e que, portanto, não são contabilizados aportes nem retorno. O mais importante, de acordo com ele, é o fator humano e o impacto na ressocialização dos indivíduos reclusos. Chaves assinalou que este ano será realizada novamente ação envolvendo os pallets e que, quanto à dos blocos, nova edição está nos planos.