São Paulo – A Mercedes-Benz decidiu demitir 3,6 mil dos cerca de 10,4 mil funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo, SP, ou 35% do efetivo. É parte de uma reestruturação da unidade, na qual a companhia optou por terceirizar atividades como logística, manutenção, fabricação e montagem de eixos dianteiro e transmissão média, ferramentaria e laboratórios, hoje verticalizadas.
O motivo apontado é o baixo retorno financeiro enviado à matriz ao longo dos últimos anos, aliado ao ambiente de pressão de custos no mercado, que vem se intensificando com a escassez de componentes, principalmente semicondutores.
Os cortes ainda não foram realizados. Foi cogitada a abertura de PDV, Programa de Demissão Voluntária, para 2,2 mil trabalhadores efetivos e outros 1,4 mil temporários não terão seus contratos renovados em dezembro. As negociações com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, informado do plano de enxugamento de postos de trabalho na tarde da terça-feira, dia 6, ainda não começaram.
Na quinta-feira, 8, às 14h00, haverá assembleia com os operários. Só após a comunicação com os trabalhadores é que a entidade de manifestará a respeito. Não está descartada a realização de greve diante do volume de demissões, uma vez que, embora a pretensão da companhia seja terceirizar parte das atividades, o impacto da dispensa na cadeia é de um para cinco, ou seja, 18 mil trabalhadores poderão perder seus empregos em um efeito dominó.
Considerando que haverá a transferência desses postos de trabalho para fornecedores, não significa que os mesmos profissionais serão empregados nem que as remunerações e benefícios serão compatíveis. E se a maior parte das dispensas ocorrer no chão de fábrica a operação da Mercedes poderá se reduzir além da metade, pois 5,6 mil metalúrgicos atuam na linha de montagem atualmente, em três turnos de produção.
A reestruturação culminará com o fim do ciclo de investimentos de R$ 2,4 bilhões de 2018 e 2022, em que a empresa lançou fábricas 4.0 de caminhões e chassis de ônibus, e realizou o lançamento do seu modelo de ônibus elétrico urbano, o eO500U, dentre outros produtos.
A Mercedes-Benz assinalou, em nota, que o mercado tem se tornado mais dinâmico do que nunca e que a competitividade é cada vez mais acirrada, especialmente se for considerada a transformação das tecnologias tradicionais para novas formas de propulsão.
“Fica evidente que para dar conta da velocidade de transformação desta indústria e do aumento da pressão dos custos é necessário focarmos ainda mais no negócio principal da companhia. Em outras palavras, vamos implementar dentro de casa o nosso plano de transformação, cujo objetivo é nos concentrarmos naquilo que é realmente necessário e demandado pelo mercado. Diante desse cenário, focaremos na fabricação de nossos caminhões e chassis de ônibus e no desenvolvimento de tecnologias e serviços do futuro.”
Ou seja, com a decisão, a Mercedes-Benz deixará de produzir internamente alguns componentes e de exercer atividades que poderão ser realizadas, segundo a montadora, por empresas parceiras, sem mencionar quais seriam elas e se já houve conversas para verificar se podem absorver essa demanda.
Segundo a empresa esse trabalho passará a ser exercido por fornecedores contratados, preferencialmente no ABC Paulista, em compromisso com a comunidade local.
Esse plano de transformação mencionado pela Mercedes-Benz justifica a eliminação de 2,2 mil postos de trabalho diretos. Quanto aos 1,4 mil temporários, a não renovação no fim do ano refere-se ao fato de a empresa esperar um mercado mais morno para o ano que vem, diante da inflação global e do aumento de preços, o que será acentuado devido à mudança de motorização para o Euro 6, o que demandará maior volume de semicondutores e tipos mais específicos de chips.
Para a empresa a maior demanda já está se dando este ano, com a antecipação de compras antes que a legislação de controle de emissões seja alterada. A decisão quanto à renovação dos temporários será revista apenas se houver mudanças significativas nos volumes de produção previstos.
Semicondutores – Desde o início da crise dos chips a Mercedes-Benz vem sendo uma das montadoras mais afetadas pela escassez dos componentes, tanto que adotou diversas paradas ao longo deste ano, sendo a mais recente no dia 29 de agosto, quando paralisou sua produção na planta do ABC devido à persistência dos desafios logísticos.
Em julho a produção parou por 14 dias e, ao longo do primeiro semestre, a montadora concedeu férias coletivas a duas turmas de seiscentos trabalhadores cada, por doze dias de março a abril, e em maio deixou 5,6 mil funcionários em casa por quinze dias.
* Correção: Número de total de trabalhadores da Mercedes-Benz em São Bernardo foi corrigido de 9 mil para 10,4 mil e, consequentemente, o porcentual dos cortes, em vez de 40% do efetivo, 35% do total.