São Paulo – O agravamento da escassez de semicondutores levou a Mercedes-Benz a anunciar férias coletivas para 5,6 mil de seus trabalhadores, dos quais cerca de 5 mil em São Bernardo do Campo, SP, e 600 em Juiz de Fora, RJ. Os operários ficarão em casa por quinze dias, de 18 de abril a 3 de maio.
A informação, divulgada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, foi confirmada pela empresa: “Em razão da crise global do abastecimento de semicondutores a Mercedes-Benz está ajustando sua produção de caminhões, chassis de ônibus e agregados, como câmbios, motores e eixos, na fábrica de São Bernardo do Campo e na de cabinas de caminhões em Juiz de Fora”.
A montadora já havia colocado 1,2 mil metalúrgicos em férias coletivas em dois grupos de seiscentos, por doze dias cada, no ABC. O último grupo voltará à fábrica em 11 de abril.
Coordenador do comitê sindical na Mercedes-Benz, Sandro Vitoriano lamentou que a falta de componentes force a montadora a tomar essa iniciativa, uma vez que não conseguirá finalizar os veículos, o que traz cenário de muitas indefinições.
O presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO América Latina, Achim Puchert, disse a AutoData, recentemente, que estava travando intensas conversas com os fornecedores para a obtenção de semicondutores porque o mercado está aquecido mas a empresa não consegue entregar veículos, e que poderia vender muito mais caminhões. Mas apesar dos percalços estimou ano um pouco melhor do que 2021 para a companhia.
Em linha com Puchert o sindicalista afirmou que estava otimista por se tratar de um ano que deverá contar com a antecipação de compras por causa da mudança de motorização para o Euro 6, a partir do ano que vem, e também pela demanda pujante vinda, principalmente, do agronegócio. O que, inclusive, obrigou ao início do processo de contratações temporárias para reforçar a produção de caminhões, ônibus, eixos e agregados. O número de novas vagas não foi divulgado.
“Com isto todo o processo de produção ficará parado neste período. Novamente haverá interrupção dos processos de contratações. Nossa apreensão é como ficará o cenário no segundo semestre com tantas incertezas.”
O diretor executivo do sindicato e presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, voltou a dizer que essa situação escancara a falta de planejamento e de debate por parte do governo federal sobre novas tecnologias, inovação e desenvolvimento.
“Esse é um debate antigo que estávamos fazendo no Brasil. Já sabíamos que precisávamos desenvolver alguma parte da cadeia de valor de semicondutores e o que o governo atual fez foi o desmonte do segmento no País. Agora estamos reféns, mais do que nunca, da importação dos semicondutores.”
Aroaldo Oliveira da Silva
A Mercedes-Benz assinalou novamente que “reforça seu forte compromisso em atender os clientes e que tem adotado alternativas junto à cadeia brasileira de suprimentos e ao Grupo Daimler Truck mundialmente para enfrentar os desafios diários de abastecimento de peças, situação sem precedente na indústria global”.