São Paulo – A partir de 4 de setembro a fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, SP, voltará a ter seu segundo turno de produção. Desde maio em torno de 1,2 mil operários da empresa estão com seus contratos de trabalho suspensos e a ideia inicial era a de que retornassem a seus postos no início deste mês. Mas, diante da baixa demanda por caminhões e ônibus Euro 6, o layoff foi estendido até o início do mês que vem.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, havia a expectativa de melhora do mercado de veículos comerciais, o que ainda não ocorreu:
“Haverá o cumprimento do acordo firmado e, portanto, os trabalhadores retornarão do layoff. Mas não houve, até o momento, crescimento da demanda e, por isto, eles voltarão para fazer a recomposição do estoque”.
Em Juiz de Fora, MG, os 250 profissionais que também tiveram seus contratos de trabalho suspensos desde maio retornaram no início de agosto, conforme o previsto, de acordo com a montadora, que também confirmou a retomada do segundo turno na planta do ABC.
O aumento dos preços dos veículos dotados de motor Euro 6, que varia de 20% a 30%, somado ao cenário de crédito caro e escasso, travou o mercado. E o programa do governo que oferece descontos de R$ 33 mil a R$ 99 mil não foi suficiente para reaquecê-lo devido à exigência de destinar outro veículo acima de vinte anos de uso para a reciclagem.
Tanto que, de acordo com dados da Anfavea divulgados no início de agosto, apenas 29% dos caminhões comercializados em 2023 foram fabricados este ano. O total produzido, de quase 54 mil unidades, está 36,2% abaixo do acumulado dos sete primeiros meses de 2022. Quanto aos ônibus as 11,4 mil unidades estão 30,5% aquém, na mesma comparação.
Diante da pouca adesão ao programa do governo criado pela MP 1 175 – até o momento foram utilizados R$ 270 milhões de R$ 1 bilhão disponível – o MDIC quer estender o prazo, que se encerraria no mês que vem, até que todos os recursos sejam utilizados.
Além disso, frente ao ritmo lento, no fim de julho houve deliberação do Contran para simplificar o processo de destruição do veículo antigo, a fim de promover a renovação da frota. Também foi dispensada a exigência de que o modelo vendido e o adquirido sejam da mesma pessoa, além de permitido que mais de um veículo seja entregue para se obter o benefício.
Na avaliação de Selerges tanto o programa do governo como a simplificação para dispor do desconto são bem vindos mas, para ele, o cerne da questão está no financiamento:
“Quem compra caminhão no Brasil? O veículo que sai das montadoras não é o feirante que compra: são as grandes empresas de logística, de mineração, empreiteiras. Mas tem que ter financiamento. E tem que ter juros menores. O governo precisa se preocupar com isso”.