São Paulo – O mercado de revenda de veículos elétricos ainda é desconhecido. Sempre que se pensa em um produto novo, que ainda não adquiriu liquidez, é gerada uma preocupação. Este ponto, somado ao ainda incipiente e limitado acesso a estações de recarga de bateria e à autonomia que ela propicia, e á sua vida útil, são fatores que seguram a migração para a eletromobilidade, sem falar no alto custo para adquirir um modelo do segmento. É o que aponta estudo inédito da McKinsey & Company, apresentado por Felipe Fava, chefe da área de mobilidade do futuro, durante o C-Move, Congresso da Mobilidade e Veículos Elétricos, realizado em paralelo ao 17º Salão de Veículos Elétricos, de 1 a 3 de setembro.
A pesquisa global foi aplicada em 2020 e consumidores de países como Brasil, Suíça e Alemanha demonstraram que motivador para adquirir um elétrico é ter um carro ecologicamente correto e com baixo ruído no motor – com intenção de aderir à tecnologia ligeiramente maior entre os brasileiros. Mas os pontos citados ainda os deixam reticentes quanto à transição.
“A revenda já é tema importante para modelos a combustão, e geralmente se considera, ao efetuar a compra, por quanto o veículo será vendido depois. Ou seja: a desvalorização entra nessa conta.”
No caso de caminhões, por exemplo, a venda residual quase compensa a compra de um novo. E enquanto um mesmo dono pode permanecer com um veículo a diesel por de oito a dez anos, a vida inteira do produto elétrico pode ser de quinze anos.
De acordo com Fava o elétrico tem uma desvalorização desconhecida, o que gera incerteza, ao mesmo tempo em que envolve a compra de tíquete muito alto: “Enquanto não houver massa crítica de negociação de veículo elétrico essa incerteza sempre existirá. Nos países onde a transição está mais avançada a preocupação é menos latente, pois já se sabe que há quem comprará o usado”.
Ele citou que os consumidores também temem o custo de manutenção de um elétrico, o que denota desconhecimento, uma vez que esse gasto é inferior ao de um veículo a combustão, pois “o elétrico se parece muito mais com um celular do que com um carro tradicional”.
O executivo apontou ainda que a ansiedade por visualizar um posto de recarga a cada esquina também acaba segurando a compra, ainda que realmente faça sentido somente em situações de viagens longas, realizadas no fim do ano.
Outro ponto de preocupação é com o valor das baterias, que tende a diminuir conforme houver maior escala e competitividade no mercado. Mas enquanto a reciclagem não for ampliada a demanda pelos minérios será intensa até pelas montadoras, a fim de garantir a oferta do insumo, caso de fabricante alemã que selou parceria com mina para assegurar o suprimento de lítio:
“Em dois ou três anos vejo estabilidade na disponibilidade do produto mas, depois, pode ser que problemas apareçam. E isso deve ser considerado, pois o sustentável tem que ser sustentável como um todo, o que tem de ser refletido também na mineração”.