Hannover, Alemanha – Muitos brasileiros visitaram o IAA não apenas para conhecer o futuro do transporte mas, também, para fazer negócios. Só o Consórcio Mercedes-Benz montou caravana com 320 clientes para Hannover, na Alemanha. A reportagem da Agência AutoData teve a oportunidade de conversar com um deles: André Luís Façanha, CEO do Grupo Toniato, ou GT Soluções Logísticas, que possui frota de mais de setecentos caminhões e opera em segmentos da indústria química, agro-química, tintas, esmaltes, vernizes, líquido e gases, automotivo, dentre outros setores que exijam uma logística dedicada exclusivamente às suas necessidades.
Façanha ficou impressionado com a evolução que presenciou nos estandes que visitou. Desde 2014, última vez que esteve no principal salão internacional do transporte, a eletrificação e a sustentabilidade já se apresentavam como tendências, mas nesses oito anos muita coisa mudou: “Só se fala em caminhão elétrico e movido a hidrogênio. Agora é preciso operacionalizar, transformar essas tendências em negócios e em veículo comercial rodando em nossas operações”.
O executivo acredita que para os operadores europeus estes novos produtos já estão em seus planos de curto prazo. E que não vai demorar para chegar com força no Brasil, mesmo considerando que ainda há “muitos desafios como os pontos de abastecimento, a vida útil desses produtos e o que acontecerá depois disso”.
Acompanhe alguns trechos dessa entrevista feita nos corredores do estande da Mercedes-Benz e em parceria com a editora do portal Estradão, Andréa Ramos:
As tecnologias de baixa emissão ainda são caras. Sua empresa está investindo? O ESG faz sentido?
Já investimos num veículo a gás, da Scania, estamos convertendo alguns veículos para usar gás e diesel e compramos um caminhão elétrico para usar numa operação interna na Bayer. Muitos estão dizendo para usar caminhões sem emissões por causa do ESG, mas ainda existe uma quantidade enorme de CO2 lançada na atmosfera quando o veículo roda vazio e que pode ser convertida em rentabilidade para ser aplicada na compensação ambiental. Esta é uma grande oportunidade de trabalhar nessa cadeia de valor buscando fazer o caminhão a diesel rodar carregado sempre. É preciso haver uma integração de clientes e operadores logísticos para identificar essas oportunidades de não deixar o caminhão emitir CO2 sem gerar valor para a operação. Isso é gestão e está nas mãos dos transportadores trabalhar em ferramentas que melhorem a eficiência do transporte.
Esse é outro tema muito forte no IAA: gestão. Como fazer para tornar isso mais eficiente no Brasil?
Nós investimos numa startup que faz toda a telemetria, o monitoramento de todas as nossas operações. Ela já cresceu e gera cada vez mais sinergias com nossos clientes e parceiros.
Quais são os resultados do investimento nessa startup?
Ela já gerou um retorno fantástico em economia de combustível e redução das emissões. Economizamos mais de R$ 500 mil/mês oferecendo nossa frota em algum ponto do País até para concorrentes em um momento de cooperação justamente para melhorar os resultados e diminuir as emissões. Eu só acredito no ESG desde que esteja atrelado a um benefício financeiro.
Mas sua empresa utilizaria essas soluções para gestão que as montadoras estão oferecendo com muita força aqui no IAA?
Sem dúvida. A tecnologia vem para melhorar os resultados e tornar viáveis até novas formas de operação com concorrentes, que chamamos de coopetição. Já utilizamos alguns serviços das montadoras como o Fleetboard [da Mercedes-Benz] e as tecnologias da Scania, mas jogamos todas essas informações em nossas plataformas, combinando tudo isso para tomar as melhores decisões para o negócio.
O que o senhor viu aqui no IAA que mais chamou a atenção?
Há muita coisa nova que realmente fará a diferença para os operadores. Até agora o que mais me chamou a atenção foi o sistema de controle de pneus da Bridgestone e da ZF. Ele monitora o sulco, a pressão e a forma pela qual se dá o desgaste, consegue criar parâmetros para orientar qual a melhor forma do motorista conduzir determinada composição. Para nós, que temos que administrar milhares de pneus, é uma tecnologia que, quando estiver disponível, ajudará bastante.
O senhor fará algum negócio aqui no IAA?
Não farei negócios aqui mas, com certeza, o que estamos vendo aqui, como a eletrificação e as tecnologias de gestão, nos dará a oportunidade de negociar com os fabricantes melhores condições para adotarmos essas tecnologias no Brasil.
Nem mesmo comprar caminhões Euro 6?
Novas tecnologias como o Euro 6 chegam com aumento de preço de 20% a 30%. Então, como não estamos pressionados para renovar nossa frota, esperaremos a poeira da novidade do Euro 6 baixar. A idade média da nossa frota é de 4,7 anos e o objetivo é ter uma média de 5 anos. Ainda temos tempo.
E locação: é uma modalidade que a GT adotaria?
Com certeza entraria para compor nosso portfólio. Mas a conta ainda não fecha. Porque quando o veículo é próprio, e fazemos a sua venda, essa margem, esse valor é nosso. Nos programas de locação essa margem está ficando com eles. Mas cada vez mais essa modalidade está próxima. Esse é um caminho para diversificar um pouco e desmobilizar nossos ativos, traz vantagem tributária e muitos outros aspectos que precisam ser mais estudados.