Entidade projeta ano sem crescimento com 2,1 milhões de veículos vendidos
São Paulo – A Fenabrave, que representa os distribuidores franqueados de veículos no País, costumava, no passado, fazer projeções anuais mais otimistas do que os fabricantes, representados pela Anfavea, mas nos últimos dois anos as posições se inverteram e devem se tornar mais distantes em 2023.
Ainda sem conhecer a posição da Anfavea – que divulga suas projeções oficiais na sexta-feira, 6, com expectativa de crescimento de 5% a 10%, segundo especulações de mercado – a entidade dos concessionários revelou que projeta mais um ano de estagnação, com 2,1 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus vendidos ao longo de 2023.
“Esta projeção resulta da combinação de fatores associados ao crescimento da renda mais limitado, em 2023, às elevadas taxas de juros atreladas à alta da inadimplência, com consequente restrição de crédito para financiamentos. Tenho a esperança de mais à frente haverá um viés mais positivo mas no momento estamos mais conservadores.”
Segundo Andreta Jr. as projeções para 2023 são baseadas em uma combinação dos estudos do corpo técnico da Fenabrave com o que ele chama de “umbigo no balcão” dos concessionários: “Se o problema da falta de peças for superado e tivermos todos os carros que pedimos, com crescimento econômico poderemos vender mais do que estamos prevendo agora”.
Pelo lado técnico Tereza Fernandez, consultora econômica da Fenabrave, afirmou que as condições do momento desautorizam expectativas de crescimento: “As estimativas são de pequena expansão do PIB, que deve variar de 0,5% a 1% sobre 2022, a inflação e os juros seguem altos, a Selic está em 13,75% [ao ano] e o Banco Central já disse que pode até subir ainda mais, a inadimplência cresceu e os bancos estão retraídos para conceder crédito”.
Com o “umbigo no balcão” de quase três dezenas de concessionárias de dez marcas de veículos leves Andreta Jr. disse que nas conversas que mantém com os diversos fabricantes que seu grupo representa o sentimento está em linha com a projeção da Fenabrave: “Ouço deles que a expectativa é de estabilidade com 2022”.
Segmentos – Dentre as diversas categorias de veículos monitoradas pela Fenabrave a perspectiva é de estabilidade para automóveis e comerciais leves, com projeção de 1 milhão 957 mil emplacamentos, número idêntico ao de 2022, em que o segmento registrou queda de 0,85% sobre 2021.
Para as vendas de caminhões a projeção também é de estagnação, com 124 mil 584 emplacamentos, empate com o ano passado, o que pode ser considerada uma expectativa otimista pois muitos fabricantes esperam queda de até 10% devido aos aumentos de preços pela adoção de motorização Euro 6, para atender à nova fase do programa brasileiro de controle de emissões, o Proconve P8, que entrou em vigor em janeiro.
“Poderemos ter um melhor desempenho no primeiro trimestre em função da possibilidade de comercialização de caminhões Euro 5 [que foram fabricados até dezembro de 2022]”, disse Andreta. “A partir de abril, com a chegada do Euro 6, este movimento deve desacelerar.”
Para ônibus, segmento que foi o mais afetado pelos efeitos da pandemia de covid-19, as expectativas são melhores: a Fenabrave projeta crescimento nas vendas de 5% sobre 2022, para 22 mil 953 unidades. A expansão, ainda que pequena, deve ser lastreada em dois fatores: aumento da procura por viagens rodoviárias, favorecidas pelos preços elevados das passagens aéreas, bem como a continuação do programa governamental Caminho da Escola que subsidia a compra de ônibus escolares para centenas de municípios do País.
O segmento de motocicletas é o de maior otimismo das projeções da Fenabrave: a estimativa é de 1 milhão 485 mil unidades vendidas em 2023, em alta de 9% sobre 2022: “Em que pese tenhamos crédito mais restrito neste setor a procura continua alta e o consórcio deverá representar um facilitador para a aquisição de motos este ano”.
A Fenabrave também fez projeção para vendas de carretas rodoviárias – e é a pior dentre todos os segmentos analisados. A previsão é de queda de 10% nos emplacamentos, para perto de 75 mil unidades, volume que não inclui a venda de implementos leves, as carrocerias de carga sobre chassis, que são contabilizadas junto com caminhões.
Para o presidente da Fenabrave existe este ano “um descasamento da venda de carretas e da de cavalos mecânicos, pois com os preços mais altos dos caminhões os compradores podem deixar para depois as compras de implementos novos”.